sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Má Educação: O jeitinho brasileiro da corrupção fazendo escola na América

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O clássico “rouba mas faz” tem sido parte da narrativa brasileira muitas vezes de forma até mesmo inerente. Incrustado na nossa realidade, somos um povo que cresceu em meio à desigualdades sociais manipuladas por sucessões de políticos corruptos, que roubaram o direito à educação, nos tiraram o direito de um sustento digno e nos submeteram a uma saúde pública que mais mata do que cura. E esse impregnado modus operandi parece ter sido exportado para a América do Norte, conforme expressa bem a nova cinebiografia original da HBO, Má Educação. Aqui, o maior escândalo envolvendo o ensino básico público dos Estados Unidos é trazido às telas, pelos talentos de Hugh Jackman e Allison Janney.



Dirigido pelo novato Cory Finley, que faz de Má Educação o segundo filme de sua carreira, o longa explora com presteza como muitas vezes uma boa impressão é capaz de calar a necessidade de questionamento de uma comunidade inteira. Apresentando um esquema corrupto que alcançou o desvio de US$ 11 milhões em uma unidade de ensino localizada em Long Island, a cinebiografia vai além de trazer os fatos à tona pura e simplesmente. Absorvendo a psique dos protagonistas dos crimes, o roteiro assinado pelo também pouco experiente Mike Makowsky vai a fundo – com muita naturalidade – no comportamento sociopata dos criminosos do colarinho branco.

Trazendo o carisma cativante e envolvente de Dr. Frank A. Tassone a partir da excepcional atuação do astro Hugh Jackman, a produção dissolve o sorriso congelado de sua persona em uma transformação meteórica de sua personalidade. Apresentando o gestor escolar como uma genuíno ensaio sobre o que é a sociopatia, Má Educação é quase didático graças à caracterização de seus personagens, que se apropriam da nossa famosa definição de “rouba mas faz” e usam esse próprio e ridículo argumento para justificar uma ordem operacional que, diante de seus olhos, “funciona” – uma vez que, mesmo em meio a desvios de verba, a escola ainda consegue se destacar entre as melhores, sendo aquela cujos alunos conseguem vaga nas universidades mais prestigiadas como Harvard e Yale.

Essa bela caracterização faz com que Jackman passe de cordeiro inocente a um lobo voraz manipulador em questão de segundos, e que conduz seus discursos de forma diabólica e se apropria da constante sensação de medo para se perpetuar no poder e, obviamente, no desvio de dinheiro público. E a aqui, Janney é a coadjuvante que completa essa epifania catastrófica, com uma atuação quase caricata e que lembra com facilidade o jeitão um tanto intimidador e desconfiado que já vimos no passado em figuras em cargos de alto escalão. E dentro desse contexto, onde pequenos desvios se transformam em uma enorme bola de neve, pais evitam questionar as decisões tomadas pela escola, enquanto uma jovem estudante decide transformar sua matéria jornalística “puxa saco” sobre uma obra escolar em uma investigação criminal que acabou rendendo em busca e apreensão, fim da carreira dos envolvidos e, claro, prisão.

E Má Educação consegue ser pontual em tudo aquilo que constrói diante das telas. Com um roteiro bem alinhado e simbólico, a trama caminha com agilidade e prontidão, sabe usar as figuras de linguagem e de estilo para contar essa história verídica de forma que ela seja envolvente e cativante, à medida que o diretor se mantém firme no fator documental, certo de que – ao final do dia – o mais importante é o confronto que a produção precisa gerar sobre a audiência. Salientando a importância da população não perder seu instinto investigador independente da sua comunidade caminhar relativamente “bem” sócio e economicamente, o longa é um gatilho reflexivo sobre como a sociedade precisa estar ativa quando se diz respeito ao trato da coisa pública.

Má Educação acaba também sendo uma aula culta e artística sobre a corrupção, suas entranhas e perigos, nos levando – enquanto audiência brasileira quase acostumada a crimes dessa natureza – a refletir sobre como estamos combatendo essa sucessão de desastres aos quais somos constantemente submetidos. E faz isso tudo sem perder a qualidade fílmica que um bom drama precisa ter para ser tornar memorável.

 

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O clássico “rouba mas faz” tem sido parte da narrativa brasileira muitas vezes de forma até mesmo inerente. Incrustado na nossa realidade, somos um povo que cresceu em meio à desigualdades sociais manipuladas por sucessões de políticos corruptos, que roubaram o direito à educação, nos tiraram o direito de um sustento digno e nos submeteram a uma saúde pública que mais mata do que cura. E esse impregnado modus operandi parece ter sido exportado para a América do Norte, conforme expressa bem a nova cinebiografia original da HBO, Má Educação. Aqui, o maior escândalo envolvendo o ensino básico público dos Estados Unidos é trazido às telas, pelos talentos de Hugh Jackman e Allison Janney.

Dirigido pelo novato Cory Finley, que faz de Má Educação o segundo filme de sua carreira, o longa explora com presteza como muitas vezes uma boa impressão é capaz de calar a necessidade de questionamento de uma comunidade inteira. Apresentando um esquema corrupto que alcançou o desvio de US$ 11 milhões em uma unidade de ensino localizada em Long Island, a cinebiografia vai além de trazer os fatos à tona pura e simplesmente. Absorvendo a psique dos protagonistas dos crimes, o roteiro assinado pelo também pouco experiente Mike Makowsky vai a fundo – com muita naturalidade – no comportamento sociopata dos criminosos do colarinho branco.

Trazendo o carisma cativante e envolvente de Dr. Frank A. Tassone a partir da excepcional atuação do astro Hugh Jackman, a produção dissolve o sorriso congelado de sua persona em uma transformação meteórica de sua personalidade. Apresentando o gestor escolar como uma genuíno ensaio sobre o que é a sociopatia, Má Educação é quase didático graças à caracterização de seus personagens, que se apropriam da nossa famosa definição de “rouba mas faz” e usam esse próprio e ridículo argumento para justificar uma ordem operacional que, diante de seus olhos, “funciona” – uma vez que, mesmo em meio a desvios de verba, a escola ainda consegue se destacar entre as melhores, sendo aquela cujos alunos conseguem vaga nas universidades mais prestigiadas como Harvard e Yale.

Essa bela caracterização faz com que Jackman passe de cordeiro inocente a um lobo voraz manipulador em questão de segundos, e que conduz seus discursos de forma diabólica e se apropria da constante sensação de medo para se perpetuar no poder e, obviamente, no desvio de dinheiro público. E a aqui, Janney é a coadjuvante que completa essa epifania catastrófica, com uma atuação quase caricata e que lembra com facilidade o jeitão um tanto intimidador e desconfiado que já vimos no passado em figuras em cargos de alto escalão. E dentro desse contexto, onde pequenos desvios se transformam em uma enorme bola de neve, pais evitam questionar as decisões tomadas pela escola, enquanto uma jovem estudante decide transformar sua matéria jornalística “puxa saco” sobre uma obra escolar em uma investigação criminal que acabou rendendo em busca e apreensão, fim da carreira dos envolvidos e, claro, prisão.

E Má Educação consegue ser pontual em tudo aquilo que constrói diante das telas. Com um roteiro bem alinhado e simbólico, a trama caminha com agilidade e prontidão, sabe usar as figuras de linguagem e de estilo para contar essa história verídica de forma que ela seja envolvente e cativante, à medida que o diretor se mantém firme no fator documental, certo de que – ao final do dia – o mais importante é o confronto que a produção precisa gerar sobre a audiência. Salientando a importância da população não perder seu instinto investigador independente da sua comunidade caminhar relativamente “bem” sócio e economicamente, o longa é um gatilho reflexivo sobre como a sociedade precisa estar ativa quando se diz respeito ao trato da coisa pública.

Má Educação acaba também sendo uma aula culta e artística sobre a corrupção, suas entranhas e perigos, nos levando – enquanto audiência brasileira quase acostumada a crimes dessa natureza – a refletir sobre como estamos combatendo essa sucessão de desastres aos quais somos constantemente submetidos. E faz isso tudo sem perder a qualidade fílmica que um bom drama precisa ter para ser tornar memorável.

 

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