sexta-feira, dezembro 26, 2025

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Crítica | Maligno – Taylor Schilling é a mãe do coisa ruim em terror eficiente

O Prodígio

O gênero terror adora crianças. Seja para apresentá-las como ameaças em potencial (A Profecia, Colheita Maldita e A Órfã) ou vítimas em potencial (O Exorcista e Brinquedo Assassino), ao longo da história do cinema estes dois itens caminharam tanto lado a lado, que deram origem a um subgênero basicamente. Maligno é a nova produção a abordar a premissa e o faz de uma forma muito competente.

Embora seja uma produção pequena mirada ao grande público (que tem por trás a clássica produtora oitentista Orion, voltando à ativa), Maligno é realizado com bastante esmero e consegue pairar acima da maioria das baboseiras que são produzidas em Hollywood no estilo – por mais que não tenha o mais original dos roteiros. Aqui, o que conta é a vontade dos envolvidos em empurrar a história adiante, criando afinidade com o espectador. O fato só reforça a máxima de que toda história pode ser contada, se for de forma bem orquestrada.

O resultado também nos deixa mais animados com o remake de Cemitério Maldito, já que assinando o roteiro temos o mesmo Jeff Buhler. O sujeito virou uma espécie de sumidade hoje no gênero, responsável também pelo texto do vindouro reboot de O Grito – a ser lançado em 2020. Aqui, a trama que confecciona é simples, mas redondinha, encaixando todos os pontos de forma satisfatória e, o mais importante, nunca chamando sua plateia de idiota – como alguns exemplares têm feito ultimamente (em especial certos filmes russos que vem emplacando ano após ano).



Quando Maligno começa, já somos transpostos a um clima arrepiante, onde uma situação macabra se desenrola, envolvendo sequestro e satanismo. O desfecho não é dos mais agradáveis. Logo depois, nossa atenção é focada na família Blume (seria homenagem a Jason Blum, dono da Blumhouse, e atual papa do terror comercial americano?), que acaba de ter seu primeiro filho: Miles (papel de talentoso Jackson Robert Scott, o Georgie de It: A Coisa). Esta família perfeita de comercial de margarina, com pai (Peter Mooney) e mãe (Taylor Schilling – a estrela do filme), verá sua dinâmica feliz ruir, quando o pequeno rebento começar a apresentar um comportamento cada vez mais errático, que vai beirando a tragédia.

A forma como as duas histórias se entrelaçam é o grande segredo de Maligno. No entanto, o fato é deixado claro logo nos primeiros minutos do longa – e este talvez seja um de seus maiores erros, quebrando parte do mistério que poderia ser maturado até a revelação. Mesmo matando a charada de início, o longa reserva sim algumas surpresas dentro do que já sabemos – e brinca com algumas conveniências, estendendo as possibilidades da trama. Estruturalmente, o roteiro remete até mesmo ao primeiro Brinquedo Assassino (1988), na cena na qual somos revelados o passado do “vilão”, assim como quando Chucky vai ao encontro de seu mentor na magia negra.

Outro ponto que acerta mais do que erra é a direção de Nicholas McCarthy (Na Porta do Diabo, 2014). Embora se perca vez ou outra no ritmo, deixando a narrativa no início por muitas vezes arrastada, a intenção do cineasta é louvável em realizar uma obra mais intimista, sem cortes frenéticos e atropelos para satisfazer o público cada vez mais disperso. Sim, aqui temos jumpscares, mas em sua maior parte Maligno é confeccionado mais no clima das produções antigas do gênero, nas quais o que se privilegiava era o clima, as atuações e as situações, e não a ação da montagem.

Fora isso, McCarthy dá espaço mais do que suficiente para seus atores ganharem destaque – criando cenas verdadeiramente desconcertantes. Algumas bem mais psicológicas do que o esperado, como o resultado da visita do pequeno Miles ao terapeuta (papel de Colm Feore). É de gelar a espinha. Maligno ainda tem tempo de fazer questionamentos aprofundados sobre maternidade e a relação de confidência entre mãe e filho – trechos nos quais Schilling sobressai. Quem se destaca também é Peter Mooney, que interpreta o pai, certeiro na pele de um sujeito dono de seus próprios demônios internos a ponto de explodir.

Como dito, se o pequeno Scott não funcionasse, metade do efeito estaria perdido. Mas o menino é um verdadeiro “prodígio”, como diz o título original, e entra para o hall das crianças “demoníacas” da sétima arte, as quais adoramos odiar e temer. Maligno é um filme do qual quanto menos falarmos sobre, antes de você assistir, melhor – mesmo que grande parte do suspense seja entregue logo na largada.  Não vá esperando a reinvenção da roda ou um filme verdadeiramente impactante. É algo que já vimos antes em diversas produções e que não irá nos marcar por muito tempo. Porém, é bom na medida certa e entretém enquanto estamos assistindo (mais uma vez, e isso é muito importante: sem tripudiar de nossa inteligência) – prometendo se mostrar melhor do que você está esperando. Acredite.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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