sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | MARINA constrói uma ótima e pungente jornada com ‘Ancient Dreams in a Modern Land’

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A cantora e compositora Marina Diamandis começou sua carreira ainda em 2010 com o belíssimo lançamento ‘Family Jewels’, que marcava o surgimento de uma persona que ia de encontro ao cenário mainstream. Desde então, a artista, que já se apresentou com a alcunha aproximativa de “and the Diamonds”, passou por inúmeras transições criativas que deram vida ao subestimado Electra Heart, ao vibrante Froot e à complicada profusão de ‘Love + Fear’. Agora, dois anos depois de seu último retorno ao mundo da música, a performer adota um novo alter-ego com a simplicidade de MARINA, unindo o melhor do passado, do presente e do futuro com as interessantes mensagens de Ancient Dreams in a Modern Land.

Ao longo de vários meses divulgando seu quinto álbum de estúdio, a artista mergulhou em uma introspecção muito mais crítica e perceptiva do que já havia nos mostrado. É claro que, nas obras predecessoras, títulos como a clara “To Be Human” e a simbólica “Valley of the Dolls” já demonstravam um diálogo rente aos acontecimentos do mundo e à necessidade de se postar frente a uma série de graves erros cometidos pela humanidade. Aqui, as coisas tomam uma proporção ainda mais drástica, que até mesmo divide a narrativa em dois momentos: logo de cara, MARINA escancara um característico pop-rock com a produção impecável da faixa-titular, espalhando as influências noventistas para as canções seguintes – incluindo a aplaudível e nostálgica “Venus Fly Trap” e a propositalmente dissonante “Purge the Poison”.



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Talvez o principal problema dessa primeira metade seja o fato da cantora se levar muito a sério a ponto de se esquecer da própria teatralidade – algo visto inclusive nos longos e extenuantes versos, recheados de uma lírica pungente demais para ser analisada de outra perspectiva. O álbum já abre com as frases “nossos ancestrais tiveram que lutar para sobreviver, para termos uma chance de viver”, manchando uma estrutura synth-rock já independente e que se torna redundante, por assim dizer. O mesmo ocorre, por exemplo, em “Man’s World”, em que MARINA já começa a recuar alguns passos para uma sutileza dramática incrível, mas novamente carregada de simbologias óbvias demais para que procuremos alguma originalidade; mesmo assim, é notável o modo como as sólidas escolhas estéticas são fortes o suficiente para nos guiar por esse início um tanto quanto trôpego.

De fato, quando pensamos que a performer sempre fez o que bem entendeu com a carreira, o compilado de originais se transforma em uma declamação antêmica de liberdade, em que ela se sente na obrigação de apoiar os marginalizados (“me queimou na fogueira, achou que eu era uma bruxa” talvez seja uma das constatações mais bem-vindas da iteração). Mas, quando o frenesi cansativo dessa austeridade é posto de lado, somos arrastados para pequenas joias musicais que tomam forma na balada “Highly Emotional People”, talvez uma ode à melancolia da amiga Lana Del Rey, talvez apenas um jeito elegante de dizer o que precisa.

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MARINA realiza movimentos de contração e expansão sem esbarrar em relações formulaicas – como é o caso de se separar as canções mais lentas das mais enérgicas. Pelo contrário, ela leva toma para si a primordialidade do tempo, delineando com calma o que bem quiser antes de explodir em crescendo ou demonstrar suas habilidades vocais. Em “New America”, há um resgate e uma reconstrução das tendências infundidas entre dance e nu-disco que referencia até a si mesma em Froot; já em “Pandora’s Box”, ela se volta para a melodia do piano e arquiteta uma montanha-russa de emoções que não segue um caminho comum, mas não deixa certos clichês de lado (ainda que seja tudo muito bem pensado e com um objetivo específico e prático em sua completude).

Nas três últimas faixas, a artista continua a apostar em elementos diferentes da discografia. Temos a composição em lullaby e soft-rock de “I Love You But I Love Me More”, que se funde na história de um relacionamento tóxico, de que, após inúmeras tribulações, precisa se desvencilhar (“você espera que eu acredite que você mudou, quando posso dizer que você é exatamente o mesmo?). “Flowers”, por sua vez, ressoa levemente semelhante às incursões reflexivas de Taylor Swift e de Pasek and Paul, sem deixar de lado a iconografia clássica de sua identidade. E, enfim, temos o dêitico hino de despedida com “Goodbye”, cujo retorno para o começo dos anos 2000 e o próprio título da track é uma jogada sagaz para concluir essa expressiva jornada.

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Ancient Dreams in a Modern Land não parecia muito promissor com a divulgação dos singles – mas as baixas expectativas foram varridas para debaixo do tapete com um álbum extremamente coeso e uma das melhores entradas da apaixonante discografia de Marina Diamandis.

Nota por faixa:

1. Ancient Dreams In A Modern Land – 3,5/5
2. Venus Fly Trap – 5/5
3. Man’s World – 3/5
4. Purge the Poison – 4/5
5. Highly Emotional People – 5/5
6. New America – 4,5/5
7. Pandora’s Box – 4/5
8. I Love You But I Love Me More – 4,5/5
9. Flowers – 5/5
10. Goodbye – 4,5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Ao longo de vários meses divulgando seu quinto álbum de estúdio, a artista mergulhou em uma introspecção muito mais crítica e perceptiva do que já havia nos mostrado. É claro que, nas obras predecessoras, títulos como a clara “To Be Human” e a simbólica “Valley of the Dolls” já demonstravam um diálogo rente aos acontecimentos do mundo e à necessidade de se postar frente a uma série de graves erros cometidos pela humanidade. Aqui, as coisas tomam uma proporção ainda mais drástica, que até mesmo divide a narrativa em dois momentos: logo de cara, MARINA escancara um característico pop-rock com a produção impecável da faixa-titular, espalhando as influências noventistas para as canções seguintes – incluindo a aplaudível e nostálgica “Venus Fly Trap” e a propositalmente dissonante “Purge the Poison”.

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Talvez o principal problema dessa primeira metade seja o fato da cantora se levar muito a sério a ponto de se esquecer da própria teatralidade – algo visto inclusive nos longos e extenuantes versos, recheados de uma lírica pungente demais para ser analisada de outra perspectiva. O álbum já abre com as frases “nossos ancestrais tiveram que lutar para sobreviver, para termos uma chance de viver”, manchando uma estrutura synth-rock já independente e que se torna redundante, por assim dizer. O mesmo ocorre, por exemplo, em “Man’s World”, em que MARINA já começa a recuar alguns passos para uma sutileza dramática incrível, mas novamente carregada de simbologias óbvias demais para que procuremos alguma originalidade; mesmo assim, é notável o modo como as sólidas escolhas estéticas são fortes o suficiente para nos guiar por esse início um tanto quanto trôpego.

De fato, quando pensamos que a performer sempre fez o que bem entendeu com a carreira, o compilado de originais se transforma em uma declamação antêmica de liberdade, em que ela se sente na obrigação de apoiar os marginalizados (“me queimou na fogueira, achou que eu era uma bruxa” talvez seja uma das constatações mais bem-vindas da iteração). Mas, quando o frenesi cansativo dessa austeridade é posto de lado, somos arrastados para pequenas joias musicais que tomam forma na balada “Highly Emotional People”, talvez uma ode à melancolia da amiga Lana Del Rey, talvez apenas um jeito elegante de dizer o que precisa.

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MARINA realiza movimentos de contração e expansão sem esbarrar em relações formulaicas – como é o caso de se separar as canções mais lentas das mais enérgicas. Pelo contrário, ela leva toma para si a primordialidade do tempo, delineando com calma o que bem quiser antes de explodir em crescendo ou demonstrar suas habilidades vocais. Em “New America”, há um resgate e uma reconstrução das tendências infundidas entre dance e nu-disco que referencia até a si mesma em Froot; já em “Pandora’s Box”, ela se volta para a melodia do piano e arquiteta uma montanha-russa de emoções que não segue um caminho comum, mas não deixa certos clichês de lado (ainda que seja tudo muito bem pensado e com um objetivo específico e prático em sua completude).

Nas três últimas faixas, a artista continua a apostar em elementos diferentes da discografia. Temos a composição em lullaby e soft-rock de “I Love You But I Love Me More”, que se funde na história de um relacionamento tóxico, de que, após inúmeras tribulações, precisa se desvencilhar (“você espera que eu acredite que você mudou, quando posso dizer que você é exatamente o mesmo?). “Flowers”, por sua vez, ressoa levemente semelhante às incursões reflexivas de Taylor Swift e de Pasek and Paul, sem deixar de lado a iconografia clássica de sua identidade. E, enfim, temos o dêitico hino de despedida com “Goodbye”, cujo retorno para o começo dos anos 2000 e o próprio título da track é uma jogada sagaz para concluir essa expressiva jornada.

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Ancient Dreams in a Modern Land não parecia muito promissor com a divulgação dos singles – mas as baixas expectativas foram varridas para debaixo do tapete com um álbum extremamente coeso e uma das melhores entradas da apaixonante discografia de Marina Diamandis.

Nota por faixa:

1. Ancient Dreams In A Modern Land – 3,5/5
2. Venus Fly Trap – 5/5
3. Man’s World – 3/5
4. Purge the Poison – 4/5
5. Highly Emotional People – 5/5
6. New America – 4,5/5
7. Pandora’s Box – 4/5
8. I Love You But I Love Me More – 4,5/5
9. Flowers – 5/5
10. Goodbye – 4,5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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