quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Crítica | Mesmo apaixonada pela série original, ‘A Casa do Dragão’ traz o drama fantástico ao seu melhor

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Cuidado: spoilers à frente.

George R.R. Martin tornou-se um dos nomes mais importantes do cenário da literatura fantástica com a publicação da aclamada e adorada saga ‘As Crônicas de Gelo e Fogo’. Mas não seria até 2011 que sua franquia ganharia um capítulo imprescindível para a própria popularização, recebendo uma roupagem audiovisual extremamente ovacionada que ficaria conhecida como Game of Thrones: a série, exibida ao longo de oito temporadas, conquistou o público ao redor do mundo, levou para casa dúzias de estatuetas e, de fato, transformou-se em um evento multimidiático que, até hoje, é descoberto e redescoberto. É claro que o ciclo de encerramento acabou por frustrar boa parte dos fãs com equívocos amadores e resoluções sem sentido – o que levou a HBO e seus respectivos executivos a trabalharem em uma espécie de “reparação”.



Três anos depois da exibição do series finale, somos convidados a revisitar o complexo mundo de Westeros com a antecipada A Casa do Dragão – uma obra derivada que não apenas funciona como uma história nova, mas expande o escopo criativo assinado por Martin. E, agora, o público é carregado para mais uma mixórdia sangrenta e explosiva de traições, mentiras e reviravoltas que promete encantar os espectadores da mesma maneira que o título original. É claro que seguir os passos de uma construção tão grandiosa quanto Game of Thrones não é uma tarefa fácil; entretanto, agora contamos com Martin na criação e adaptação do romance para as telinhas, colaborando com o veterano Ryan Condal (que também não é nenhum estranho a produções épicas) – o que culmina em uma competente temporada, apesar de viver sob a sombra de sua “irmã mais velha”.

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Viajando quase duzentos anos no passado, a narrativa principal gira em torno da Casa Targaryen (que, como bem lembramos, é a Casa à qual Daenerys pertence) no auge de seu poder, estendendo seus domínios pelos Sete Reinos. Como se não bastasse, os Targaryen também são conhecidos por serem cavaleiros de dragões, motivo pelo qual são caracterizados como mais próximos dos deuses do que os meros mortais. Mas é claro que, por trás da máscara de regentes imponentes e tão poderosos que devem ser temidos, escondem-se segredos que ameaçam destruir um reino inteiro e que, de certa forma, prenunciam uma ruína derradeira. É dentro desse intrincado cosmos que observamos o dinamismo entre o Rei Viserys I (Paddy Considine) e a Princesa Rhaenyra (cuja versão mais jovem é vivida por Milly Alcock).

O organismo que rege o relacionamento entre pai e filha não é dos melhores – e parte de um princípio bastante visto em produções do gênero, ainda mais infundido no universo do romancista. Apesar de acreditar que está fazendo o melhor para ela, Viserys nutre de um ressentimento por não ter tido um herdeiro homem, talvez mais pelo tradicionalismo que rege Westeros do que pelo que realmente quer. Quando a esposa, Aemma (Sian Brooke), dá à luz a um menino, seus sonhos parecem se concretizar – mas o que é bom dura pouco e tanto Aemma quanto o bebê morrem, obrigando o Rei a anunciar Rhaenyra como a próxima a ocupar o Trono de Ferro.

A ascensão de uma Rainha ao Trono marcaria uma nova era para o mundo em que vivem e até mesmo servem como base para a busca de Daenerys em Game of Thrones e sua delineação de independência e liberdade. Todavia, a jovem Rhaenyra é tratada com descaso pelos Lordes que fazem parte do séquito real e até mesmo por parte dos súditos – e a Princesa vê aquilo que lhe pertence por direito se esvair pouco a pouco. Ela não apenas é ameaçada pela decepção contínua do pai, mas pela presença ameaçadora do arrogante Príncipe Daemon (Matt Smith em mais um papel aplaudível), que enfrenta Viserys e faz o que bem entender para alcançar seus objetivos, os quais, no caso, incluem o controle de Westeros e a submissão compulsória daqueles que não acreditam nele.

A temporada segue uma linha bem explícita de equilibrar drama com ação e algumas incursões reflexivas que mais servem como metáforas para a compreensão do mundo em que vivemos que para auxiliar no ritmo da história. Mesmo com o saldo positivo, é notável como a série é muito apaixonada pela original e não pensa duas vezes antes de homenageá-la como pode, com referências pontuais e escolhas estéticas que puxam elementos de capítulos como “The Rains of Castamere”, no tocante à atmosfera de suspense e angústia, e “Battle of the Bastards” e “The Bells”, no tocante a acontecimentos mais grandiosos que premeditam o desenlace dos capítulos. Ainda que as semelhanças sejam óbvias, o time criativo procura ao máximo se desvencilhar de repetições – ora, Ramin Djawadi, por exemplo, se inspira na trilha sonora primogênita, remodelando-a para uma ambientação mais densa e condizente com o que acontece.

Enquanto alguns podem ser mais críticos acerca do roteiro, não há problema em se manter fiel a uma identidade específica que reduza a constante e exaurível sucessão de fatos em prol de uma apresentação que não exija conhecimento prévio, mas que abrace o máximo possível de espectadores que consiga. Embarcar nessa jornada é um caminho sem volta, porque, quanto mais você mergulha, mais é difícil se desvencilhar da necessidade de saber o que vai acontecer – e essa página emprestada de Game of Thronesé muito bem-vinda.

A 1ª temporada de A Casa do Dragão peca em excessos aqui e ali, mas isso não tira todos os méritos que alcança. Através de um enredo recheado de personagens envolventes e arcos que têm muito a ser explorados – além da presença de Martin nos bastidores -, a série se inicia com o pé direito e posa como um presente para os fãs e para aqueles que não tem muito contato com esse universo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Três anos depois da exibição do series finale, somos convidados a revisitar o complexo mundo de Westeros com a antecipada A Casa do Dragão – uma obra derivada que não apenas funciona como uma história nova, mas expande o escopo criativo assinado por Martin. E, agora, o público é carregado para mais uma mixórdia sangrenta e explosiva de traições, mentiras e reviravoltas que promete encantar os espectadores da mesma maneira que o título original. É claro que seguir os passos de uma construção tão grandiosa quanto Game of Thrones não é uma tarefa fácil; entretanto, agora contamos com Martin na criação e adaptação do romance para as telinhas, colaborando com o veterano Ryan Condal (que também não é nenhum estranho a produções épicas) – o que culmina em uma competente temporada, apesar de viver sob a sombra de sua “irmã mais velha”.

Viajando quase duzentos anos no passado, a narrativa principal gira em torno da Casa Targaryen (que, como bem lembramos, é a Casa à qual Daenerys pertence) no auge de seu poder, estendendo seus domínios pelos Sete Reinos. Como se não bastasse, os Targaryen também são conhecidos por serem cavaleiros de dragões, motivo pelo qual são caracterizados como mais próximos dos deuses do que os meros mortais. Mas é claro que, por trás da máscara de regentes imponentes e tão poderosos que devem ser temidos, escondem-se segredos que ameaçam destruir um reino inteiro e que, de certa forma, prenunciam uma ruína derradeira. É dentro desse intrincado cosmos que observamos o dinamismo entre o Rei Viserys I (Paddy Considine) e a Princesa Rhaenyra (cuja versão mais jovem é vivida por Milly Alcock).

O organismo que rege o relacionamento entre pai e filha não é dos melhores – e parte de um princípio bastante visto em produções do gênero, ainda mais infundido no universo do romancista. Apesar de acreditar que está fazendo o melhor para ela, Viserys nutre de um ressentimento por não ter tido um herdeiro homem, talvez mais pelo tradicionalismo que rege Westeros do que pelo que realmente quer. Quando a esposa, Aemma (Sian Brooke), dá à luz a um menino, seus sonhos parecem se concretizar – mas o que é bom dura pouco e tanto Aemma quanto o bebê morrem, obrigando o Rei a anunciar Rhaenyra como a próxima a ocupar o Trono de Ferro.

A ascensão de uma Rainha ao Trono marcaria uma nova era para o mundo em que vivem e até mesmo servem como base para a busca de Daenerys em Game of Thrones e sua delineação de independência e liberdade. Todavia, a jovem Rhaenyra é tratada com descaso pelos Lordes que fazem parte do séquito real e até mesmo por parte dos súditos – e a Princesa vê aquilo que lhe pertence por direito se esvair pouco a pouco. Ela não apenas é ameaçada pela decepção contínua do pai, mas pela presença ameaçadora do arrogante Príncipe Daemon (Matt Smith em mais um papel aplaudível), que enfrenta Viserys e faz o que bem entender para alcançar seus objetivos, os quais, no caso, incluem o controle de Westeros e a submissão compulsória daqueles que não acreditam nele.

A temporada segue uma linha bem explícita de equilibrar drama com ação e algumas incursões reflexivas que mais servem como metáforas para a compreensão do mundo em que vivemos que para auxiliar no ritmo da história. Mesmo com o saldo positivo, é notável como a série é muito apaixonada pela original e não pensa duas vezes antes de homenageá-la como pode, com referências pontuais e escolhas estéticas que puxam elementos de capítulos como “The Rains of Castamere”, no tocante à atmosfera de suspense e angústia, e “Battle of the Bastards” e “The Bells”, no tocante a acontecimentos mais grandiosos que premeditam o desenlace dos capítulos. Ainda que as semelhanças sejam óbvias, o time criativo procura ao máximo se desvencilhar de repetições – ora, Ramin Djawadi, por exemplo, se inspira na trilha sonora primogênita, remodelando-a para uma ambientação mais densa e condizente com o que acontece.

Enquanto alguns podem ser mais críticos acerca do roteiro, não há problema em se manter fiel a uma identidade específica que reduza a constante e exaurível sucessão de fatos em prol de uma apresentação que não exija conhecimento prévio, mas que abrace o máximo possível de espectadores que consiga. Embarcar nessa jornada é um caminho sem volta, porque, quanto mais você mergulha, mais é difícil se desvencilhar da necessidade de saber o que vai acontecer – e essa página emprestada de Game of Thronesé muito bem-vinda.

A 1ª temporada de A Casa do Dragão peca em excessos aqui e ali, mas isso não tira todos os méritos que alcança. Através de um enredo recheado de personagens envolventes e arcos que têm muito a ser explorados – além da presença de Martin nos bastidores -, a série se inicia com o pé direito e posa como um presente para os fãs e para aqueles que não tem muito contato com esse universo.

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