Na última década o cinema nacional tem voltado seus olhos com muito interesse para as cinebiografias musicais. Personalidades do mundo da música que fizeram ou ainda fizeram sucesso passaram a ser o foco das produtoras nacionais, de modo que o público foi agraciado por uma avalanche de filmes sobre cantores e músicos do cenário artístico, como Pixinguinha, Tim Maia, Elis Regina e Erasmo Carlos. Mas também há variações dentro desse estilo, como o drama musical ‘Meu Álbum de Amores’, uma obra de ficção que chega às salas do circuito do país a partir dessa semana.
Júlio (Gabriel Leone) é um rapaz de vinte e poucos anos que trabalha como dentista e tem sua vida mais ou menos decidida, pois, desde a morte de seu pai, tudo indica que ele herdará o posto deste no consultório onde trabalha com Fabiana (Olívia Torres). Mas sua vida muda completamente depois que sua noiva Alice (Carla Salle) decide terminar o relacionamento sem nenhum motivo aparente e Felipe (Felipe Frazão) aparece em sua casa de repente, dizendo-se ser seu meio-irmão e que seu verdadeiro pai seria um cantor de música popular chamado Odilon Ricardo (Gabriel Leone), e não o tal dentista. Confuso sobre a grande reviravolta em sua vida, Júlio irá repensar seu próprio comportamento e avaliar novas possibilidades para seus planos de vida.
‘Meu Álbum de Amores’ fecha a trilogia dos corações sentimentais do diretor Rafael Gomes, que começou em 2018 com ‘45 Dias Sem Você’ e seguiu em 2019 com ‘Música para Morrer de Amor’ – que, aliás, circulou pelos drive-ins durante a pandemia. Com uma hora e quarenta de duração, o longa é uma bela produção artística da Biônica Filmes, que se reflete tanto na fotografia, com seu posicionamento de câmera enquadrando o set, que dá uma imersiva ambientação nos anos 1970 embora a história seja contemporânea; no figurino, escolhido a dedo para que Gabriel Leone incorporasse tanto o pai quanto o filho nessa história; na cenografia, com objetos escolhidos pontualmente para contrastar os ambientes reflexivos e do presente do protagonista, que se alternam no decorrer do filme.
A música original composta por Arnaldo Antunes embala os amores e dissabores do personagem fictício Odilon Ricardo no roteiro de Vinicius Calderoni, Rafael Gomes e Luna Grimberg, enquanto os dois filhos percorrem o passado do pai na tentativa de descobrir quem teria sido o verdadeiro amor do músico. Para tal, a trajetória do pai se mescla com a jornada pessoal de Júlio, um rapaz privilegiado que não sabe nem como quebrar um ovo sozinho. A distância entre ambos os mundos cria um abismo absurdo entre o recém-descoberto pai e o protagonista, mas, ao mesmo tempo, aponta o quanto nossas experiências amorosas são embaladas por canções que, no fundo no fundo, são bregas, e, portanto, nos tocam em um ponto especial em nossos corações.
Com ares experimentais que mesclam a dramaturgia cênica com o audiovisual, ‘Meu Álbum de Amores’ encerra a trilogia sentimental como o melhor das três produções, fazendo um recorte de uma geração perdida em tantas possibilidades de amar e despontando Felipe Frazão como um ótimo ator cômico dramático.