O ano era 1994. Enquanto aqui no Brasil a gente andava em voltas com o novo plano econômico e as possibilidades de compra com a nova moeda fazendo frente ao dólar, lá nos Estados Unidos o mercado distribuidor se preparava para lançar nos cinemas um filme que, posteriormente, viria a se tornar um dos clássicos de Natal: o longa ‘Meu Papai é Noel’. O sucesso foi tão grande, que anualmente diversas plataformas reprisavam a produção como parte da programação especial de fim de ano. Agora, vinte e oito anos depois, a história ganha uma continuação, dessa vez em versão seriada, que chega diretamente à plataforma da Disneyplus nesse fim de 2022, sob o título ‘Meu Papai Ainda é Noel’.
Papai Noel (Tim Allen) está entregando presentes na véspera de Natal quando, de repente, começa a perceber que algo está estranho, e, do nada, cai do telhado da casa de uma criança. Tentando levar tudo com bom humor, ele disfarça, mas seu assistente, o elfo Noel (Devin Bright) percebe que algo não vai bem. Quando, no Natal seguinte, o processo se repete, Papai Noel começa a considerar a possibilidade de se aposentar e passar mais tempo com sua esposa (Elizabeth Mitchell) e seus filhos (Austin Kane e Elizabeth Allen-Dick), mas, para isso, ele precisará encontrar o substituto perfeito para o posto, e tudo indica que o candidato será Simon (Kal Penn), um empresário cujo foco de vida é encontrar o sistema infalível de entrega de encomendas que funcione o ano inteiro.
Dividido em seis episódios curtinhos com cerca de meia hora cada, a série ‘Meu Papai Ainda é Noel’ tem o formato e a duração certas, mas seu enredo é um tanto quanto esquisito. Criado para a televisão por Jack Burditt, o roteiro partilhado entre muitas mãos parte de dois pontos já bastante comuns nas histórias infantis natalinas (a diminuição da crença das crianças na figura do Papai Noel) e a passagem de bastão da função do bom velhinho (para seus filhos, alguém da família ou através de uma escolha randômica) para elaborar as tramas que compõem essa primeira temporada de ‘Meu Papai Ainda é Noel’. Até aí, tudo bem, embora não traga nada de novo. O diferencial é que o roteiro constrói um paralelo sobre uma das razões pelas quais isso poderia estar acontecendo (o acesso à tecnologia, que faz com que as pessoas compram e recebam com rapidez, inclusive em feriados e através de robôs e drones, perdendo toda a magia da espera e da ânsia pelo presente).
Assim, o roteiro passa dois episódios contando o drama do Papai Noel, até ele aceitar se aposentar; então, encontra o substituto, que parece ser um cara legal, embora não acredite muito nesse negócio de Natal; aí do nada, o roteiro transforma esse sujeito bacana em um vilãozão malvado e ganancioso que simplesmente quer acabar com o Natal. Por que tudo isso? Outro ponto esquisito na série é os elfos, interpretados por crianças e adolescentes mas cujos personagens são adultos, que falam abertamente serem casados uns com os outros, o que causa um bocado de estranheza ao espectador. Como se não bastasse, ainda tem o filho do Papai Noel, que, de primeiro se mostra completamente desinteressado por esse universo, e, de repente, se transforma num cara com poderes mágicos e totalmente a fim de seguir com o legado. É como se alguém tivesse escrito algo nos primeiros episódios e depois outra pessoa no roteiro fosse lá e desfizesse tudo. Eu hein.
Confuso, chato e sem foco, ‘Meu Papai Ainda é Noel’ não faz jus ao filme que o precede, mas já tem uma segunda temporada confirmada. Agora é aguardar para ver se a próxima produção finalmente entregará uma boa história aos espectadores.