sábado , 28 dezembro , 2024

Crítica | Música Para Morrer de Amor – Existe poesia, dança e jovens em busca de amor em SP

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Dois jovens estão sentados à beira de um palco em frente a uma plateia vazia. Neste momento, eles declaram reflexões sobre a vida amorosa, como: “Certas pessoas nunca se apaixonariam se não tivessem ouvido falar do amor”, ou ainda a indagação: “Se Julieta [de Romeu e Julieta] crescesse ela seria o que? Herdeira”. Com essas máximas filosóficas, o diretor e roteirista Rafael Gomes (45 Dias Sem Você) nos introduz na jornada sentimental de Música para Morrer de Amor

Os jovens do início são os amigos Isabela (Mayara Constantino) e Ricardo (Victor Mendes) que, a partir de um desentendimento por conta do namorado (Ícaro Silva) da moça, passam grande parte da narrativa afastados. Neste período, Felipe (Caio Horowicz) começa um estágio no mesmo departamento de Ricardo e é enfeitiçado por um vídeo de Isabela no Instagram, a ponto de buscar conhecê-la pessoalmente. Ao passo que Ricardo se encanta completamente pelo jeito tímido e reservado de Felipe. 



Neste redemoinho sentimental, tal como o poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade, Música para Morrer de Amor expõe os desencontros do sentimento amoroso. Para além de corações partidos, a história apresenta personagens comprometidos, mas ainda em busca de algo/alguém que lhe tirem o fôlego. O retrato de uma juventude que deseja fantasiar contos de amor mais do que vivê-los. 

Apesar de serem jovens contemporâneos de São Paulo, os personagens declamam diálogos como se a poesia fosse um modo de expressar-se habitual e a vida um grande palco de teatro. Originário da peça Músicas para Cortar os Pulsos, o roteiro se envaidece do texto cênico e da evocação da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare, como uma analogia de martírio romântico.

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Com ideias proclamadas ao vento, tais como: “Quem não está fugindo não está vivo”, “Tudo é feito para acabar” e, ainda, “As flores do jardim da nossa casa morreram todas de saudade de você”, o filme propõe discutir o amor por meio da junção de artes clássicas. A linguagem cinematográfica, portanto, absorve o teatro, a literatura, a música, a dança e, até mesmo, em segundo plano, arquitetura, pintura e escultura. 

Em contrapartida, é a música o carro-chefe do discurso amoroso, ela perpassa cada instante do enredo, compõe momentos de grande emoção e se intercala com os diálogos, tal como a ideia de que “Futuros Amantes”, de Chico Buarque, é uma das composições brasileiras mais bonitas. “Futuros amantes, quiçá/ Se amarão sem saber/ Com o amor que eu um dia/ Deixei pra você”. 

Seja pelo foco musical, seja por percorrer diversos caminho, o filme perde-se na transmissão de uma mensagem. Com dezenas de participações especiais de cantores, Milton Nascimento, Fafá de Belém, Clarice Falcão, para citar alguns, a narrativa embaraça os personagens em uma trama de teias rudimentares. Apenas a jornada de Isabela progride no desenrolar do enredo.

Ela transita da posição de uma jovem de coração partido e planos desfeitos ao amadurecimento de lidar com as frustrações e o luto da vida. Vale ressaltar o admirável trabalho de Mayara Constantino, o qual estabelece doçura e sensatez a Isabela. Além da honrada atuação das veteranas Denise Fraga e Suely Franco.  

Os outros personagens continuam como joões-bobos sem sair do lugar por mais que sejam empurrados pela trama. A única coisa que tiramos deles é o que o próprio roteirista coloca na boca do protagonista: “um homem branco burguês, porém gay”. Tal como em seu primeiro longa-metragem 45 Dias Sem Você (2019), Rafael Gomes apresenta um tema pertinente à juventude, aguça a curiosidade com seus cenários, porém mais reitera referências culturais e recita poesia do que extrai seiva desses elementos, isto é, ensinamentos à sua geração.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Dois jovens estão sentados à beira de um palco em frente a uma plateia vazia. Neste momento, eles declaram reflexões sobre a vida amorosa, como: “Certas pessoas nunca se apaixonariam se não tivessem ouvido falar do amor”, ou ainda a indagação: “Se Julieta [de Romeu e Julieta] crescesse ela seria o que? Herdeira”. Com essas máximas filosóficas, o diretor e roteirista Rafael Gomes (45 Dias Sem Você) nos introduz na jornada sentimental de Música para Morrer de Amor

Os jovens do início são os amigos Isabela (Mayara Constantino) e Ricardo (Victor Mendes) que, a partir de um desentendimento por conta do namorado (Ícaro Silva) da moça, passam grande parte da narrativa afastados. Neste período, Felipe (Caio Horowicz) começa um estágio no mesmo departamento de Ricardo e é enfeitiçado por um vídeo de Isabela no Instagram, a ponto de buscar conhecê-la pessoalmente. Ao passo que Ricardo se encanta completamente pelo jeito tímido e reservado de Felipe. 

Neste redemoinho sentimental, tal como o poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade, Música para Morrer de Amor expõe os desencontros do sentimento amoroso. Para além de corações partidos, a história apresenta personagens comprometidos, mas ainda em busca de algo/alguém que lhe tirem o fôlego. O retrato de uma juventude que deseja fantasiar contos de amor mais do que vivê-los. 

Apesar de serem jovens contemporâneos de São Paulo, os personagens declamam diálogos como se a poesia fosse um modo de expressar-se habitual e a vida um grande palco de teatro. Originário da peça Músicas para Cortar os Pulsos, o roteiro se envaidece do texto cênico e da evocação da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare, como uma analogia de martírio romântico.

Com ideias proclamadas ao vento, tais como: “Quem não está fugindo não está vivo”, “Tudo é feito para acabar” e, ainda, “As flores do jardim da nossa casa morreram todas de saudade de você”, o filme propõe discutir o amor por meio da junção de artes clássicas. A linguagem cinematográfica, portanto, absorve o teatro, a literatura, a música, a dança e, até mesmo, em segundo plano, arquitetura, pintura e escultura. 

Em contrapartida, é a música o carro-chefe do discurso amoroso, ela perpassa cada instante do enredo, compõe momentos de grande emoção e se intercala com os diálogos, tal como a ideia de que “Futuros Amantes”, de Chico Buarque, é uma das composições brasileiras mais bonitas. “Futuros amantes, quiçá/ Se amarão sem saber/ Com o amor que eu um dia/ Deixei pra você”. 

Seja pelo foco musical, seja por percorrer diversos caminho, o filme perde-se na transmissão de uma mensagem. Com dezenas de participações especiais de cantores, Milton Nascimento, Fafá de Belém, Clarice Falcão, para citar alguns, a narrativa embaraça os personagens em uma trama de teias rudimentares. Apenas a jornada de Isabela progride no desenrolar do enredo.

Ela transita da posição de uma jovem de coração partido e planos desfeitos ao amadurecimento de lidar com as frustrações e o luto da vida. Vale ressaltar o admirável trabalho de Mayara Constantino, o qual estabelece doçura e sensatez a Isabela. Além da honrada atuação das veteranas Denise Fraga e Suely Franco.  

Os outros personagens continuam como joões-bobos sem sair do lugar por mais que sejam empurrados pela trama. A única coisa que tiramos deles é o que o próprio roteirista coloca na boca do protagonista: “um homem branco burguês, porém gay”. Tal como em seu primeiro longa-metragem 45 Dias Sem Você (2019), Rafael Gomes apresenta um tema pertinente à juventude, aguça a curiosidade com seus cenários, porém mais reitera referências culturais e recita poesia do que extrai seiva desses elementos, isto é, ensinamentos à sua geração.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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