Atemporal, Meninas Malvadas se tornou um dos ícones mais referenciados na cultura POP desde seu lançamento, em 2004. Inicialmente lançado como uma comédia teen que ironiza os clássicos clichês juvenis, a produção de Tina Fey adquiriu um status cult ao longo dos anos, se consagrando entre cinéfilos de todas as idades como um dos filmes mais autênticos do seu gênero. E Boo, Bitch…bem, não é nada disso. Mas nem por isso a nova minissérie original da Netflix perde o seu valor.
Se espelhando nos principais elementos da amada comédia dos anos 2000, a produção co-criada por Erin Ehrlich (Crazy Ex-Girlfriend), Lauren Iungerich (On My Block) e Tim Schauer tenta literalmente reproduzir algumas de suas cenas, com o acréscimo da era das mídias sociais em seu escopo. Apresentando duas melhores amigas introvertidas que decidem transformar os últimos dias do Ensino Médio em uma grande aventura, a adaptação da obra de Kim Petras apimenta essa jornada piegas com um elemento sombrio: a morte de uma das protagonistas, que acaba se tornando um fantasma com “assuntos inacabados” e que precisa descobrir qual é sua última missão antes de partir da Terra.
Esse detalhe é genuinamente o único aspecto que difere a trama de tantas outras produções dos anos 90 e 2000, com a produção ainda trazendo a mesma premissa do amado filme Fora de Série – de Olivia Wilde. Mas ainda que a fórmula seja repetitiva e seus personagens sejam exageradamente caricatos em seus dois primeiros episódios, Boo, Bitch é um prato cheio para os fãs de comédias teens. Conduzido pelo carisma inegável de Lana Condor e Zoe Margaret Colletti, o público consegue se divertir com as peripécias mirabolantes da dupla protagonista, à medida em que se engaja com essa jornada post mortem tão peculiar.
E ainda que Boo, Bitch convide a audiência para uma breve reflexão sobre a importância de valorizarmos o presente e tudo aquilo que temos, o roteiro assinado por Ehrlich e sua equipe é raso demais para chegar nesse ponto. Ao invés de abraçar o elemento pitoresco e bizarro de sua trama, a produção investe alguns poucos minutos em uma atmosfera existencial, mas tudo não passa de uma reflexão de porta de banheiro. Sem profundidade para tratar essa questão um pouco mais mórbida e sensível, o momento mais delicado do roteiro passa despercebido diante dos nossos olhos e não é bom o bastante para nos fazer se importar.
Mas mesmo em meio a todos esses problemas, a Netflix consegue despertar nossa atenção com a leveza e o absurdismo de sua narrativa. Nos deixando curiosos a cada episódio, a minissérie cumpre seu papel como uma diversão leve, despretensiosa – para ser consumida em menos de meia hora. Como um prazer culposo que nos leva a fazer vista grossa para as principais falhas e repetições de sua trama, Boo, Bitch é uma comédia gostosa que nada exige da sua audiência. De curta duração e com uma caracterização maravilhosa da queridinha Lana Condor, a original Netflix é como uma refeição instantânea. Pode não ser o melhor prato que você vai saborear no dia, mas consegue saciar o seu apetite temporariamente.