segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | No Ritmo da Sedução – Romance Musical sem Brilho e Química

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A ideia de fazer um musical sobre o romance entre uma mãe solteira e um ex-presidiário pode soar promissora, ainda mais com canções ao estilo R&B. No Ritmo da Sedução (Been So Long), no entanto, não funciona em nenhum dos seus principais quesitos, isto é, amor e música.

Aclamada pela academia britânica com um Bafta, a atriz Michaela Coel (da série Chewing Gum) vive a cabelereira Simone que tem uma filha com dificuldades de locomoção. Dividida entre os cuidados com a filha e o trabalho, ela não tem tempo de encontrar um par romântico. Do outro lado da narrativa, encontra-se Raymond (Arinzé Kene), que cumpre regime condicional na casa mãe, enquanto faz obras pela cidade.



O problema começa exatamente no protagonismo de um casal sem química e uma história muito mal organizada. Primeiro, para Raymond qualquer mulher seria uma ótima companheira, já para Simone o cara tinha que passar por alguns testes de aprovação para ser um bom namorado. A lógica pretendia ser engraçada, mas sem contextualização a ideia permanece vaga, os diálogos entre eles pouco inspirados, e as canções pífias.

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Para piorar a situação, os coadjuvantes são abissalmente mal construídos, como um rapaz (George MacKay) em busca de vingança por conta de um amor platônico e a amiga de Simone (Ronke Adekoluejo), que não aceita a idade que tem e vive de frivolidades. Em comum, eles têm a cidade de Londres e um bar à beira da falência.

Para empurrar ladeira abaixo, o roteiro ainda introduz um interesse amoroso do dono do bar (Luke Norris) por Simone em apenas uma cena. A ideia – felizmente – desaparece de forma tão inóspita quanto apareceu. Os números musicais são sofríveis, pois as músicas tentam interpretar as sensações dos personagens, mas soam apenas como palavras soltas com um fundo musical.

Nenhuma composição possui uma melodia agradável ou conecta-se com a história. O filme seria um pouco melhor se evitasse todas as partes cantadas, já que o propósito de despertar as emoções é perdido logo no início. O roteirista Che Walker e o diretor Tinge Krishnan poderiam ter uma aulas com Damien Chazelle (La La Land: Cantando Estações)

Apesar de sua premiação, Michaela Coel não segura a onda ao lidar com as fortes emoções da personagem, tal como o momento em que ela confronta o pai biológico (Joe Dempsie) da sua filha. A cena deveria ser um momento de remorso, culpa e arrependimento, mas, na verdade, transmite apenas o esforço da atriz em criar um clima de desamparo dissonante com a situação do repentino interesse do cara pela filha.

No Ritmo da Sedução não faz jus à tradução do título recebido em português. O filme não apresenta nenhuma cena envolvente, tanto o encanto quanto o drama do casal é imperceptível. A maior culpa é dos ruídos de construção de roteiro e a falta de empatia dos personagens com o público. Os atores são apenas sombras em cenas, vivendo uma abstração pragmática em que Simone aprenderia a lição de se abrir para o mundo através de um novo amor e a superação do trauma do abandono paterno.

Para entender como uma sugestão de romance é produzida, sugiro à diretora Tinge Krishnan assistir ao filme Nasce uma Estrela (2018), no qual podemos observar o desenvolvimento do romance perfeitamente esculpido entre Lady Gaga e Bradley Cooper. No Ritmo da Sedução é uma produção rasa da Netflix, que parte de um enredo interessante, contudo a execução é péssima.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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A ideia de fazer um musical sobre o romance entre uma mãe solteira e um ex-presidiário pode soar promissora, ainda mais com canções ao estilo R&B. No Ritmo da Sedução (Been So Long), no entanto, não funciona em nenhum dos seus principais quesitos, isto é, amor e música.

Aclamada pela academia britânica com um Bafta, a atriz Michaela Coel (da série Chewing Gum) vive a cabelereira Simone que tem uma filha com dificuldades de locomoção. Dividida entre os cuidados com a filha e o trabalho, ela não tem tempo de encontrar um par romântico. Do outro lado da narrativa, encontra-se Raymond (Arinzé Kene), que cumpre regime condicional na casa mãe, enquanto faz obras pela cidade.

O problema começa exatamente no protagonismo de um casal sem química e uma história muito mal organizada. Primeiro, para Raymond qualquer mulher seria uma ótima companheira, já para Simone o cara tinha que passar por alguns testes de aprovação para ser um bom namorado. A lógica pretendia ser engraçada, mas sem contextualização a ideia permanece vaga, os diálogos entre eles pouco inspirados, e as canções pífias.

Para piorar a situação, os coadjuvantes são abissalmente mal construídos, como um rapaz (George MacKay) em busca de vingança por conta de um amor platônico e a amiga de Simone (Ronke Adekoluejo), que não aceita a idade que tem e vive de frivolidades. Em comum, eles têm a cidade de Londres e um bar à beira da falência.

Para empurrar ladeira abaixo, o roteiro ainda introduz um interesse amoroso do dono do bar (Luke Norris) por Simone em apenas uma cena. A ideia – felizmente – desaparece de forma tão inóspita quanto apareceu. Os números musicais são sofríveis, pois as músicas tentam interpretar as sensações dos personagens, mas soam apenas como palavras soltas com um fundo musical.

Nenhuma composição possui uma melodia agradável ou conecta-se com a história. O filme seria um pouco melhor se evitasse todas as partes cantadas, já que o propósito de despertar as emoções é perdido logo no início. O roteirista Che Walker e o diretor Tinge Krishnan poderiam ter uma aulas com Damien Chazelle (La La Land: Cantando Estações)

Apesar de sua premiação, Michaela Coel não segura a onda ao lidar com as fortes emoções da personagem, tal como o momento em que ela confronta o pai biológico (Joe Dempsie) da sua filha. A cena deveria ser um momento de remorso, culpa e arrependimento, mas, na verdade, transmite apenas o esforço da atriz em criar um clima de desamparo dissonante com a situação do repentino interesse do cara pela filha.

No Ritmo da Sedução não faz jus à tradução do título recebido em português. O filme não apresenta nenhuma cena envolvente, tanto o encanto quanto o drama do casal é imperceptível. A maior culpa é dos ruídos de construção de roteiro e a falta de empatia dos personagens com o público. Os atores são apenas sombras em cenas, vivendo uma abstração pragmática em que Simone aprenderia a lição de se abrir para o mundo através de um novo amor e a superação do trauma do abandono paterno.

Para entender como uma sugestão de romance é produzida, sugiro à diretora Tinge Krishnan assistir ao filme Nasce uma Estrela (2018), no qual podemos observar o desenvolvimento do romance perfeitamente esculpido entre Lady Gaga e Bradley Cooper. No Ritmo da Sedução é uma produção rasa da Netflix, que parte de um enredo interessante, contudo a execução é péssima.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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