quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | Noite Adentro – ÓTIMA série da Netflix mistura Suspense e Ficção Científica

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Uma das coisas legais que podemos tirar desse período de confinamento é a oportunidade de poder dar mais atenção a produções realizadas em outros países e que, mesmo estando disponíveis em plataformas de streaming, no nosso dia a dia acabavam passando despercebidas por conta da enorme demanda das produções estadunidenses. É exemplo disso a primeira temporada da série belga ‘Noite Adentro’, que chegou no início desse mês à Netflix.

Com seis episódios de menos de quarenta minutos cada, sua trama eletrizante é viciante e faz você simplesmente maratonar toda essa primeira parte de uma vez só. A razão é simples, porém não evidente: é que ao mesmo tempo em que desdobra o mistério da trama principal, ‘Noite Adentro’ apresenta seu elenco, de cerca de quatorze personagens, e faz a interessante escolha de primeiro criar os conflitos, para depois explicar as raízes deles – justificados pelas histórias e traumas pessoais de cada um. Não à toa, cada um dos seis episódios tem o nome do personagem central daquela parte –  um indicativo ao espectador de quem irá conduzir a história naquele momento.



Tudo começa em uma noite comum, quando o major Terenzio Gallo (Stefano Cassetti) rouba a metralhadora de um policial no aeroporto de Bruxelas e sequestra um avião, que inicialmente iria para a Moscou. Lá dentro, ele dá as ordens para que o piloto Mathieu (Laurent Capelluto) conduza o avião para o oeste, não importa para qual cidade. Só que, o que parecia ser um mero ato terrorista aos poucos se transforma num cenário apocalíptico em que, para sobreviver, o avião precisa continuar voando na direção oeste e os passageiros (de diferentes países e, portanto, falam diferentes línguas) precisam colaborar para que isso aconteça.

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Baseado no livro polonês de ficção-científica do escritor Jacek Dukaj, o roteiro de Jason George, além de construir os episódios baseados nos personagem também elabora um clima de tensão crescente e constante, de modo que cada episódio termina de tal modo que o espectador não tem alternativa a não ser assistir ao episódio seguinte. Tudo bem que há alguns deslizes – personagens que têm profissões muito convenientes e em algumas situações as soluções encontradas são golpes de sorte que requerem boa vontade do espectador –, mas nada que tire o mérito da série.

Em uma camada inteligentemente diluída através das falas dos personagens, ‘Noite Adentro’ joga luz sobre o que há de mais terrível no ser humano: a capacidade de, em momentos de crise, o indivíduo pensar primeiro em si, e não no coletivo. Para o espectador mais observador, vale atentar-se à construção das situações xenofóbicas e como os personagens buscam justificar seus atos de preconceito. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

Noite Adentro’ é uma ótima série de entretenimento que mistura um tipo de ficção científica bastante próxima de ser possível de acontecer, e, portanto, gera o tipo de paranoia deliciosa que faz a gente querer para ontem a segunda temporada.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Uma das coisas legais que podemos tirar desse período de confinamento é a oportunidade de poder dar mais atenção a produções realizadas em outros países e que, mesmo estando disponíveis em plataformas de streaming, no nosso dia a dia acabavam passando despercebidas por conta da enorme demanda das produções estadunidenses. É exemplo disso a primeira temporada da série belga ‘Noite Adentro’, que chegou no início desse mês à Netflix.

Com seis episódios de menos de quarenta minutos cada, sua trama eletrizante é viciante e faz você simplesmente maratonar toda essa primeira parte de uma vez só. A razão é simples, porém não evidente: é que ao mesmo tempo em que desdobra o mistério da trama principal, ‘Noite Adentro’ apresenta seu elenco, de cerca de quatorze personagens, e faz a interessante escolha de primeiro criar os conflitos, para depois explicar as raízes deles – justificados pelas histórias e traumas pessoais de cada um. Não à toa, cada um dos seis episódios tem o nome do personagem central daquela parte –  um indicativo ao espectador de quem irá conduzir a história naquele momento.

Tudo começa em uma noite comum, quando o major Terenzio Gallo (Stefano Cassetti) rouba a metralhadora de um policial no aeroporto de Bruxelas e sequestra um avião, que inicialmente iria para a Moscou. Lá dentro, ele dá as ordens para que o piloto Mathieu (Laurent Capelluto) conduza o avião para o oeste, não importa para qual cidade. Só que, o que parecia ser um mero ato terrorista aos poucos se transforma num cenário apocalíptico em que, para sobreviver, o avião precisa continuar voando na direção oeste e os passageiros (de diferentes países e, portanto, falam diferentes línguas) precisam colaborar para que isso aconteça.

Baseado no livro polonês de ficção-científica do escritor Jacek Dukaj, o roteiro de Jason George, além de construir os episódios baseados nos personagem também elabora um clima de tensão crescente e constante, de modo que cada episódio termina de tal modo que o espectador não tem alternativa a não ser assistir ao episódio seguinte. Tudo bem que há alguns deslizes – personagens que têm profissões muito convenientes e em algumas situações as soluções encontradas são golpes de sorte que requerem boa vontade do espectador –, mas nada que tire o mérito da série.

Em uma camada inteligentemente diluída através das falas dos personagens, ‘Noite Adentro’ joga luz sobre o que há de mais terrível no ser humano: a capacidade de, em momentos de crise, o indivíduo pensar primeiro em si, e não no coletivo. Para o espectador mais observador, vale atentar-se à construção das situações xenofóbicas e como os personagens buscam justificar seus atos de preconceito. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

Noite Adentro’ é uma ótima série de entretenimento que mistura um tipo de ficção científica bastante próxima de ser possível de acontecer, e, portanto, gera o tipo de paranoia deliciosa que faz a gente querer para ontem a segunda temporada.

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