quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Notre Dame – Esqueça a catedral de Paris nesta comédia francesa ignóbil

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Lançado em dezembro de 2019 na França, oito meses após o incêndio na Catedral Notre Dame de Paris, o longa-metragem Notre Dame estreou nos cinemas brasileiro em 11 de fevereiro de 2021. Com passagem pelo Festival Varilux em 2020, a obra carrega o nome da emblemática catedral da capital francesa, porém é uma comédia decepcionante. Em outros termos, Notre Dame reúne surrealismo, liberdade poética, musical, romance, situações teatrais, no entanto, não possui coerência cômica ou timing certo para suas ousadias narrativas. 

Dirigido, escrito e protagonizado por Valérie Donzelli, o filme tenta trazer elementos mágicos ao cotidiano atribulado de uma parisiense. Neste caso, a arquiteta Maud Crayon (Donzelli), mãe de dois pré-adolescentes e às voltas seu ex e pais dos seus filhos, é a heroína do conto de fadas proposto pelo roteiro de Donzelli ao lado de Benjamin Charbit (Finalmente Livres). O cenário caótico de instabilidade emocional e profissional dá a tonicidade para uma comédia de situações do dia a dia, entretanto, o argumento é falho.



Por meio de uma mágica do destino, Maud ganha um concurso para revitalizar o pátio da catedral de Notre Dame. Ao mesmo tempo, a arquiteta descobre estar grávida de quatro meses do ex-companheiro (Thomas Scimeca) e seu ex-namorado do passado Bacchus Renard (Pierre Deladonchamps) é o jornalista responsável por acompanhar cada passo do projeto de 115 milhões de euros da prefeitura de Paris. Além disso, seu chefe egocêntrico e esnobe Greg (Samir Guesmi) decide apropriar-se de 50% do seu projeto, situação a qual ela aceita e segue o barco. 

Sem um pingo de carisma, Valérie Donzelli dá vida a uma mulher sem ambição, sem graça, sem estilo ou mesmo vontade própria. Em conjunto, o elenco inteiro não tem nenhum senso de comicidade. Aos 30 minutos, Notre Dame já é cansativo, pois apresenta diversas informações sobre a vida da protagonista, porém não a vemos em confronto com nenhuma delas. A terceira gravidez não planejada de uma mulher de mais 40 anos é apenas um artifício para a confusão amorosa entre ex-relacionamentos, sem apresentar nenhum ponto de reflexão na vida de Maud.

As situações absurdas vividas com o ex-companheiro seriam cômicas, caso o enredo desenvolvesse alguma ligação ou tensão entre eles, além dos filhos. No meio dessa bagunça narrativa, o projeto de Maud – completamente diferente daquele que a fez ganhar o prêmio – é considerado de mal gosto e pornográfico. Desse modo, o filme nos leva para uma disputa judicial ilógica em que acrescenta mais dois personagens, uma advogada (Claude Perron) e sua estagiária (Pauline Serieys), em atuações teatrais bizarras e lamentáveis. 

Completamente diferente da dinâmica de A Guerra está Declarada (2011), obra que revelou a faceta ousada da diretora e roteirista, Notre Dame tenta, peleja, esforça-se, mas não veicula nada de cativante ou inovador. O número musical é a sequência menos sofrível do filme, pois consegue, finalmente, misturar dois elementos distintos (uma melodia suave de tragédia com palavras estapafúrdias) e realizar um momento cômico.

Com uma narrativa em off a impor e descrever sentimentos, Notre Dame erra em não construir as condições para que o espectador sinta qualquer emoção. De resto, a comédia francesa apela para terminar com uma referência ao filme E.T., o extraterrestre (1982), por falta de qualquer outro final mais criativo para uma história já disforme.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Dirigido, escrito e protagonizado por Valérie Donzelli, o filme tenta trazer elementos mágicos ao cotidiano atribulado de uma parisiense. Neste caso, a arquiteta Maud Crayon (Donzelli), mãe de dois pré-adolescentes e às voltas seu ex e pais dos seus filhos, é a heroína do conto de fadas proposto pelo roteiro de Donzelli ao lado de Benjamin Charbit (Finalmente Livres). O cenário caótico de instabilidade emocional e profissional dá a tonicidade para uma comédia de situações do dia a dia, entretanto, o argumento é falho.

Por meio de uma mágica do destino, Maud ganha um concurso para revitalizar o pátio da catedral de Notre Dame. Ao mesmo tempo, a arquiteta descobre estar grávida de quatro meses do ex-companheiro (Thomas Scimeca) e seu ex-namorado do passado Bacchus Renard (Pierre Deladonchamps) é o jornalista responsável por acompanhar cada passo do projeto de 115 milhões de euros da prefeitura de Paris. Além disso, seu chefe egocêntrico e esnobe Greg (Samir Guesmi) decide apropriar-se de 50% do seu projeto, situação a qual ela aceita e segue o barco. 

Sem um pingo de carisma, Valérie Donzelli dá vida a uma mulher sem ambição, sem graça, sem estilo ou mesmo vontade própria. Em conjunto, o elenco inteiro não tem nenhum senso de comicidade. Aos 30 minutos, Notre Dame já é cansativo, pois apresenta diversas informações sobre a vida da protagonista, porém não a vemos em confronto com nenhuma delas. A terceira gravidez não planejada de uma mulher de mais 40 anos é apenas um artifício para a confusão amorosa entre ex-relacionamentos, sem apresentar nenhum ponto de reflexão na vida de Maud.

As situações absurdas vividas com o ex-companheiro seriam cômicas, caso o enredo desenvolvesse alguma ligação ou tensão entre eles, além dos filhos. No meio dessa bagunça narrativa, o projeto de Maud – completamente diferente daquele que a fez ganhar o prêmio – é considerado de mal gosto e pornográfico. Desse modo, o filme nos leva para uma disputa judicial ilógica em que acrescenta mais dois personagens, uma advogada (Claude Perron) e sua estagiária (Pauline Serieys), em atuações teatrais bizarras e lamentáveis. 

Completamente diferente da dinâmica de A Guerra está Declarada (2011), obra que revelou a faceta ousada da diretora e roteirista, Notre Dame tenta, peleja, esforça-se, mas não veicula nada de cativante ou inovador. O número musical é a sequência menos sofrível do filme, pois consegue, finalmente, misturar dois elementos distintos (uma melodia suave de tragédia com palavras estapafúrdias) e realizar um momento cômico.

Com uma narrativa em off a impor e descrever sentimentos, Notre Dame erra em não construir as condições para que o espectador sinta qualquer emoção. De resto, a comédia francesa apela para terminar com uma referência ao filme E.T., o extraterrestre (1982), por falta de qualquer outro final mais criativo para uma história já disforme.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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