Violeta (Alessandra Negrini) e Djalma (Otto Jr.) são aparentemente um casal normal, felizes em seu matrimônio, e ao lado do filho adolescente, como percebemos numa das primeiras cenas do filme. Os dois ainda nutrem o fogo da paixão como fica claro para o público logo de início também.
Mas a nova obra do diretor Karim Ainouz (“Madame Satã” e “O Céu de Suely”) igualmente faz questão de nos deixar claro que algo está acontecendo com Djalma.
Ele abre o filme com um mergulho numa praia do Rio de Janeiro (onde a história se desenrola) à noite e depois a câmera o pega de perfil pensativo e ofegante. O sujeito então após breve contato em família, continua sua imersão em pensamentos angustiantes, como a trilha e a câmera de Ainouz nos mostram enfaticamente. No entanto esse não é um drama existencialista focado no personagem, e é Violeta quem assume os holofotes.
O tour de force de Alessandra Negrini começa quando seu marido no filme a deixa uma estranha mensagem no celular, que a princípio ela não consegue ouvir muito bem. Daí em diante “O Abismo Prateado”, filme baseado na música Olhos nos Olhos, deChico Buarque, se torna uma busca da personagem, talvez por ela mesma.
O filme foi exibido em alguns festivais de cinema, inclusive no prestigiado Festival de Cannes em 2011, e no Festival do Rio, onde ganhou o prêmio de melhor diretor. Uma vez completamente transtornada pela mensagem inesperada de seu marido, que como podemos ouvir claramente de forma estarrecedora mais para frente no filme, afirma que irá alongar a viagem de negócios indefinidamente, e que não ama mais a companheira. Segundo o sujeito, a vida em comum estava enlouquecendo-o.
Vemos transparecer na personagem de Negrini as mais diversas formas de reação. Ela tenta ir atrás do marido em Porto Alegre, se isola num quarto de motel, e inclusive sai para beber e dançar numa boate como forma de negação, ao som de Maniac, música de Michael Sembello para o filme “Flashdance”. “O Abismo Prateado” é uma obra de arte, e não pretende ser algo voltado ao entretenimento. Sua única preocupação é mostrar de forma honesta e crua o sofrimento de um ser humano, e seu comportamento durante um dos momentos mais difíceis de sua vida, psicologicamente falando.
Aqui não existem muitos diálogos, nem mesmo no encontro de Violeta com a menina interpretada pela atriz mirim Gabi Pereira, e seu pai (vivido por Thiago Martins), que se conectam de forma especial mesmo que por apenas uma noite. “O Abismo Prateado” assim como muitas obras-primas do cinema, é uma experiência a ser vivida e sentida, através especialmente de imagens. Alessandra Negrini consegue ser a tradução de beleza, fragilidade, desespero e loucura, e segurar esse filme como seu.