domingo , 22 dezembro , 2024

O Grande Gatsby

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Ousado e extravagante: Esses adjetivos sempre estiveram presentes na carreira de Baz Luhrmann, e aqui eles estão mais evidentes.

No ano passado, tivemos uma nova releitura musical de ‘Os Miseráveis’, famosa obra literária de Victor Hugo, que já havia sido adaptada várias vezes para o cinema; agora é a hora do icônico romance de F. Scott Fitzgerald, ‘O Grande Gatsby’, ganhar sua nova versão para as telonas – nessa ocasião, em 3D. Essa também já teve suas transposições marcantes, dentro da sétima arte, como a variante de Jack Clayton, em 1974, com Robert Redford e Mia Farrow. E que, por sinal, é sempre bem notada e elogiada. A nova já é a quarta adaptação da novela.



Porém, acredito que dessa vez, o megalomaníaco cineasta Baz Luhrmann – sim, aquele mesmo de ‘Moulin Rouge – Amor em Vermelho’ e ‘Romeu + Julieta’ – tenha feito, de fato, um filme que conseguiu mostrar ao espectador, do ponto vista visual, a colossal dimensão do fruto de Fitzgerald. Até mesmo pela sua gigantesca e ousada produção orçamentária. É um filme esteticamente impressionante, em seu calibre panorâmico, de um modo geral.

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Para que melhor conheçam um pouco dessa história, o conto, na verdade, tem como seu maior protagonista o investidor Nick Carraway (Tobey Maguire), um homem que possui grande fascínio platônico por seu enigmático vizinho Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Carraway é um rapaz que vive em total conflito consigo mesmo, pois, apesar de venerar os ricos e o glamour da época, ele não se conformava com o materialismo sem limites e a falta de moral, que imprime certo declínio. E em meio a toda essa duvida, Nick é convidado por Jay para uma festa incrível, e lá, suas relações se estreitam, o deixando ainda mais encantado com o mistério por trás do milionário. A fortuna de Gatsby é motivo de rumores, isso por nenhum dos convidados, ou amigos, saberem muito bem sobre o passado do anfitrião de conduta duvidosa.

Nick descobre que seu novo colega ricaço tem uma paixão antiga por sua linda e meiga prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan), o que o deixa feliz e surpreso. Sabendo que tal sentimento ainda existe entre eles, o rapaz resolve reaproximar os dois, ignorando o fato de ela ainda ser casada com seu velho amigo, dos tempos de faculdade, o ex-atleta Tom Buchanan (Joel Edgerton) – até porque o sujeito vive traindo descaradamente sua prima, o que o incomoda bastante. O que acaba gerando um conflito gigantesco entre os personagens e enriquecendo a trama ainda mais. Um misto de amor e ódio, rancor e saudade, dúvida e certeza, emerge em meio a tudo isso. Tornando o enredo cada vez mais envolvente e atraente.

gatsby

Interessante, também, é a personalidade de Jay Gatsby, quando assim é explorada lá pelo fim do segundo e terceiro atos. Pois, vejamos, é sabido que o Gatsby era sim um dos maiores símbolos representativos daquela época e sociedade, que poderia ser adjetivada como rica e vazia. Todos desfrutavam de sua mansão, da sua bebida e da bela recepção. Alçavam-se gratuita e socialmente através daquilo. Essa questão de total domínio social anda sempre muito junto com o irrestrito descontrole pessoal. Que é muito bem retratado, num cena em que o Jay perde a cabeça e agride o Tom Buchanan, revelando, indiretamente, seu passado e verdadeira personalidade; o afastando, mais ainda, do seu maior objetivo, o amor. E, mesmo que Gatsby seja ou tenha sido uma figura invejável superficialmente, de nada valeu seu glamour no fim das contas. Um legado inexistente é a pior coisa que pode acontecer na vida de alguém. E, mesmo com todo esforço, creio que tenha sido esse seu trágico fim.

Apesar de possuir uma direção que se mostra bastante eficaz, até por assim impetrar uma narrativa orgânica, que conta bem a sua história e prende o espectador o tempo todo, Baz Luhrmann perde um pouco a mão em alguns momentos. Deixando uma barriga no meio do seu filme. Abusando de panorâmicas, que cuja função é apenas despontar a sua colossal produção fílmica – o oposto do que o néscio Tom Hooper fez em ‘Os Miseráveis’ -, e tendo sucesso em alguns momentos, ele ainda falha por desperdiçar muito tempo de tela com isso. Onde poderia, muito bem, através da própria linguagem visual, falar mais sobre o perfil dos seus personagens, os tornando ainda mais interessantes, e sem precisar de diálogos expositivos ou narrações em off, como as constantes falas do Nick. E, ainda sim, muito é feito por essa vertente. Principalmente quando se trata do Gatsby, seu personagem é totalmente desenvolvido através das suas propriedades, figurinos, trejeitos e constantes ações.

É aí que entra a soberba direção de arte de Damien Drew (The Pacific), Ian Gracie (Além da Linha Vermelha) e Michael Turner (Missão: Impossível – Protocolo Fantasma). Esses merecem toda atenção da fita, por terem sido tão minimalistas ao retratarem uma fiel Long Island, mas extremamente viva e jovial. Que assim como a trilha de Craig Armstrong (O Preço do Amanhã), flerta o tempo todo entre o geek e o pop, mas não perde a essência da obra e cidade, em questão. É um deslumbre visual, o comando artístico desse trio. Certamente serão figurinhas carimbadas no Oscar 2014.

Foto-2

Todavia, nada disso ganharia tamanho destaque, não fosse à boa fotografia assinada por Simon Duggan (Presságio), que tem o papel de destacar, intensamente, através de lentes muito saturadas, uma estética elegante e ao mesmo tempo extravagante – achei que a versão 3D prejudicou um pouco o trabalho desses profissionais, isso pelo diretor não saber utilizar bem a tecnologia. A profundidade de campo das cenas é mínima, o que acaba sendo um tiro pela culatra. Além de anular a própria razão de aspecto desejada, torna a imagem tremula, deixando os enquadramentos sem firmeza. Claro que algumas tomadas surtem efeitos e farão com que o espectador médio se impressione.

O elenco também não fica atrás e, a despeito da atuação de Tobey Maguire (Homem-Aranha) soar um tanto apática, essa é sem duvida a persona do sujeito. Não tem jeito, igualmente como Jack Nicholson e Morgan Freeman, ou você embarca nos seus estilos característicos ou simplesmente não suporta. Assim também é Leonardo DiCaprio (Django Livre), que vem, de filme após filme, fazendo grandes papeis, mas que  ainda, pelo seu passado como ator teen, não caiu nas graças da plateia em geral. E aqui, mais uma vez, ele empresta seu charme, elegância e explosão nas horas em que é requisitado. Completando assim a lista de atuações, Carey Mulligan (Shame) engendra mais uma de suas personagens: tímida, singela, inocente e tremendamente encantadora. Ênfase também para beleza estonteante da novata Elizabeth Debicki, maravilhosamente linda.

Sem mais delongas, eu diria que, apesar de possuir alguns problemas técnicos e vários exageros, ‘O Grande Gatsby’ é um bom filme, em todo seu contexto. Não tem vergonha de se assumir como uma ousada produção e cumpre bem esse papel, embora que não seja nenhum ‘O Aviador’, como muitos vêm pregando. Até porque não é um cineasta como Martin Scorsese que está no comando do troço, e sim um homem que, desde o início de sua carreira, gosta de mexer com o extravagante e tenta criar obras que parecem mais um espetáculo teatral da Broadway, o que, a bem da verdade, não é de tudo ruim.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Ousado e extravagante: Esses adjetivos sempre estiveram presentes na carreira de Baz Luhrmann, e aqui eles estão mais evidentes.

No ano passado, tivemos uma nova releitura musical de ‘Os Miseráveis’, famosa obra literária de Victor Hugo, que já havia sido adaptada várias vezes para o cinema; agora é a hora do icônico romance de F. Scott Fitzgerald, ‘O Grande Gatsby’, ganhar sua nova versão para as telonas – nessa ocasião, em 3D. Essa também já teve suas transposições marcantes, dentro da sétima arte, como a variante de Jack Clayton, em 1974, com Robert Redford e Mia Farrow. E que, por sinal, é sempre bem notada e elogiada. A nova já é a quarta adaptação da novela.

Porém, acredito que dessa vez, o megalomaníaco cineasta Baz Luhrmann – sim, aquele mesmo de ‘Moulin Rouge – Amor em Vermelho’ e ‘Romeu + Julieta’ – tenha feito, de fato, um filme que conseguiu mostrar ao espectador, do ponto vista visual, a colossal dimensão do fruto de Fitzgerald. Até mesmo pela sua gigantesca e ousada produção orçamentária. É um filme esteticamente impressionante, em seu calibre panorâmico, de um modo geral.

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Para que melhor conheçam um pouco dessa história, o conto, na verdade, tem como seu maior protagonista o investidor Nick Carraway (Tobey Maguire), um homem que possui grande fascínio platônico por seu enigmático vizinho Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Carraway é um rapaz que vive em total conflito consigo mesmo, pois, apesar de venerar os ricos e o glamour da época, ele não se conformava com o materialismo sem limites e a falta de moral, que imprime certo declínio. E em meio a toda essa duvida, Nick é convidado por Jay para uma festa incrível, e lá, suas relações se estreitam, o deixando ainda mais encantado com o mistério por trás do milionário. A fortuna de Gatsby é motivo de rumores, isso por nenhum dos convidados, ou amigos, saberem muito bem sobre o passado do anfitrião de conduta duvidosa.

Nick descobre que seu novo colega ricaço tem uma paixão antiga por sua linda e meiga prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan), o que o deixa feliz e surpreso. Sabendo que tal sentimento ainda existe entre eles, o rapaz resolve reaproximar os dois, ignorando o fato de ela ainda ser casada com seu velho amigo, dos tempos de faculdade, o ex-atleta Tom Buchanan (Joel Edgerton) – até porque o sujeito vive traindo descaradamente sua prima, o que o incomoda bastante. O que acaba gerando um conflito gigantesco entre os personagens e enriquecendo a trama ainda mais. Um misto de amor e ódio, rancor e saudade, dúvida e certeza, emerge em meio a tudo isso. Tornando o enredo cada vez mais envolvente e atraente.

gatsby

Interessante, também, é a personalidade de Jay Gatsby, quando assim é explorada lá pelo fim do segundo e terceiro atos. Pois, vejamos, é sabido que o Gatsby era sim um dos maiores símbolos representativos daquela época e sociedade, que poderia ser adjetivada como rica e vazia. Todos desfrutavam de sua mansão, da sua bebida e da bela recepção. Alçavam-se gratuita e socialmente através daquilo. Essa questão de total domínio social anda sempre muito junto com o irrestrito descontrole pessoal. Que é muito bem retratado, num cena em que o Jay perde a cabeça e agride o Tom Buchanan, revelando, indiretamente, seu passado e verdadeira personalidade; o afastando, mais ainda, do seu maior objetivo, o amor. E, mesmo que Gatsby seja ou tenha sido uma figura invejável superficialmente, de nada valeu seu glamour no fim das contas. Um legado inexistente é a pior coisa que pode acontecer na vida de alguém. E, mesmo com todo esforço, creio que tenha sido esse seu trágico fim.

Apesar de possuir uma direção que se mostra bastante eficaz, até por assim impetrar uma narrativa orgânica, que conta bem a sua história e prende o espectador o tempo todo, Baz Luhrmann perde um pouco a mão em alguns momentos. Deixando uma barriga no meio do seu filme. Abusando de panorâmicas, que cuja função é apenas despontar a sua colossal produção fílmica – o oposto do que o néscio Tom Hooper fez em ‘Os Miseráveis’ -, e tendo sucesso em alguns momentos, ele ainda falha por desperdiçar muito tempo de tela com isso. Onde poderia, muito bem, através da própria linguagem visual, falar mais sobre o perfil dos seus personagens, os tornando ainda mais interessantes, e sem precisar de diálogos expositivos ou narrações em off, como as constantes falas do Nick. E, ainda sim, muito é feito por essa vertente. Principalmente quando se trata do Gatsby, seu personagem é totalmente desenvolvido através das suas propriedades, figurinos, trejeitos e constantes ações.

É aí que entra a soberba direção de arte de Damien Drew (The Pacific), Ian Gracie (Além da Linha Vermelha) e Michael Turner (Missão: Impossível – Protocolo Fantasma). Esses merecem toda atenção da fita, por terem sido tão minimalistas ao retratarem uma fiel Long Island, mas extremamente viva e jovial. Que assim como a trilha de Craig Armstrong (O Preço do Amanhã), flerta o tempo todo entre o geek e o pop, mas não perde a essência da obra e cidade, em questão. É um deslumbre visual, o comando artístico desse trio. Certamente serão figurinhas carimbadas no Oscar 2014.

Foto-2

Todavia, nada disso ganharia tamanho destaque, não fosse à boa fotografia assinada por Simon Duggan (Presságio), que tem o papel de destacar, intensamente, através de lentes muito saturadas, uma estética elegante e ao mesmo tempo extravagante – achei que a versão 3D prejudicou um pouco o trabalho desses profissionais, isso pelo diretor não saber utilizar bem a tecnologia. A profundidade de campo das cenas é mínima, o que acaba sendo um tiro pela culatra. Além de anular a própria razão de aspecto desejada, torna a imagem tremula, deixando os enquadramentos sem firmeza. Claro que algumas tomadas surtem efeitos e farão com que o espectador médio se impressione.

O elenco também não fica atrás e, a despeito da atuação de Tobey Maguire (Homem-Aranha) soar um tanto apática, essa é sem duvida a persona do sujeito. Não tem jeito, igualmente como Jack Nicholson e Morgan Freeman, ou você embarca nos seus estilos característicos ou simplesmente não suporta. Assim também é Leonardo DiCaprio (Django Livre), que vem, de filme após filme, fazendo grandes papeis, mas que  ainda, pelo seu passado como ator teen, não caiu nas graças da plateia em geral. E aqui, mais uma vez, ele empresta seu charme, elegância e explosão nas horas em que é requisitado. Completando assim a lista de atuações, Carey Mulligan (Shame) engendra mais uma de suas personagens: tímida, singela, inocente e tremendamente encantadora. Ênfase também para beleza estonteante da novata Elizabeth Debicki, maravilhosamente linda.

Sem mais delongas, eu diria que, apesar de possuir alguns problemas técnicos e vários exageros, ‘O Grande Gatsby’ é um bom filme, em todo seu contexto. Não tem vergonha de se assumir como uma ousada produção e cumpre bem esse papel, embora que não seja nenhum ‘O Aviador’, como muitos vêm pregando. Até porque não é um cineasta como Martin Scorsese que está no comando do troço, e sim um homem que, desde o início de sua carreira, gosta de mexer com o extravagante e tenta criar obras que parecem mais um espetáculo teatral da Broadway, o que, a bem da verdade, não é de tudo ruim.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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