É inevitável receber com desconfiança toda vez que é anunciado mais um filme de Adam Sandler. Embora vez ou outra o ator acerte com papéis mais dramáticos, a verdade é que na última década quase todos os filmes de comédia que ele fez foram beeeem ruinzinhos. A aposta da vez é ‘O Halloween do Hubie’ – um original da Netflix que poderia até ter sido melhor, não fosse pelo Adam Sandler.
É 31 de outubro na famosa cidade de Salem, nos Estados Unidos. Hubie Dubois (Adam Sandler) é um adulto de quase cinquenta anos que age como se fosse o fiscal da cidade: ele é amistoso, cuida de todos e, especialmente na noite de Halloween, ele redobra seus esforços para que todos fiquem a salvo em suas casas. Só que Hubie é muito medroso, e a cidade inteira se aproveita disso, provocando-o, pregando-lhe peças e tudo o mais. Porém, no Halloween desse ano, um perigoso paciente de um hospício escapou, e a cidade de Salem pode estar em perigo.
A sensação que temos com ‘O Halloween do Hubie’ é que Tim Herlihy tinha escrito um roteiro maneirinho sobre uma cidade assombrada por um maníaco fugitivo, mas daí Adam Sandler veio e deu seu toque ridículo. Assim, temos um roteiro confuso, que vai por um lado mas, toda vez que o protagonista aparece em cena, a história vai por outro caminho. Ou seja, se por um lado o enredo presta homenagens aos clássicos do terror (e os fãs do gênero conseguirão identificá-los) e tenta construir alguma história que motive os personagens a seguirem em frente, por outro temos um excesso de Adamsandlismo (sim, acabei de inventar um termo aqui para ilustrar exatamente o que acontece nos filmes do ator), e esse exagero é extremamente cansativo e entediante.
Adam Sandler constrói o mais caricato personagem da sua carreira, cheio de trejeitos e um jeito de falar nem um pouco convincente. Em algum momento o argumento desse longa quis jogar luz na vida de alguém como Hubie Dubois, que claramente tem algum tipo de deficiência intelectual, e o quanto o bullying – consciente ou não – afeta a vida e a rotina desses indivíduos. Porém, o argumento é tão mal trabalhado, que o resultado é um cansativo excesso injustificável de cenas de violência verbal para com o pobre Hubie Dubois – e o filme bate tanto nessa tecla, que esquece de evoluir o enredo. E, embora os elementos escatológicos, nojentinhos e as piadas de cocô-pum-bunda estejam lá, eles ficam totalmente gratuitos no filme, e não vai agradar nem mesmo as crianças.
Embora pretencioso com sua “moral da história” ao final do filme, ‘O Halloween do Hubie’ consegue reunir um grande elenco que já acompanha Adam em outras produções, como Kevin James, Ray Liotta, Steve Buscemi, Rob Schneider, June Squibb, Ben Stiller e novidades como Shaquille O’Neal e Noah Schnapp, e vê-los bastante diferentes do que estamos acostumados é bem divertido. Além disso, a produção e a direção artística são bem agradáveis, construindo um encantador clima de Halloween super decorado. E tudo isso teria sido bem melhor utilizado, não fosse a presença estereotipada de Adam Sandler e sua mania de construir personagens bobalhões, pobre-coitados que, mesmo sendo grandes perdedores desagradáveis, conseguem sempre conquistar a mulher mais bonita do pedaço. Que sorte a dele, não?
‘O Halloween do Hubie’ tem um ótimo clima de Dia das Bruxas, com fantasias divertidas e ainda traz ao final uma bonita homenagem ao ator Cameron Boyce, falecido em 2019 e inicialmente escalado para participar do longa. É uma boa produção, e seria um bom filme, mas infelizmente foi estragado por Adam Sandler.