A possibilidade de vida após a morte segue como um dos maiores mistérios da humanidade. O que acontece depois do fim? Há um caminho a percorrer, reencarnação, a vida passando diante dos nossos olhos como num filme? Perguntas que possivelmente jamais saberemos, e, para tentar sanar estas e outras inquietações, a arte – o cinema – está aí para criar e especular sobre as muitas possibilidades do que pode ocorrer. Acima de tudo, a arte está aí para fazer a gente sonhar, repensar sobre as escolhas que fizemos ao longo de nossas jornadas pessoais. Esse é o cerne do longa ‘O Primeiro Dia da Minha Vida’ (Il Primo Giorno Della Mia Vita), novo drama italiano que chega aos cinemas brasileiros a partir do feriado da Páscoa.
Ariana (Margherita Mastandrea) está angustiada, deprimida. Quando seu colega de trabalho para o carro num posto de conveniência, ela pega a arma que está no porta luvas e atira, tirando a própria vida. Momentos antes, porém, um Homem misterioso (Toni Servillo) aparece, a conduz para fora do veículo e a leva para um outro, onde já estão Emilia (Sara Serraiocco), uma ex-ginasta que perdera os movimentos das pernas e agora é cadeirante; Napoleone (Valerio Mastandrea), um coaching bem-sucedido de lifestyle; e Daniele (Gabriele Cristini), um jovem de onze anos que está acima do peso porque seus pais o obrigam a gravar vídeos comendo várias bobagens para o youtube. Nesta jornada em grupo, os quatro percebem que são um grupo de pessoas que tiraram as próprias vidas, e que o Homem está lhes dando sete dias para repensarem a decisão que tomaram.
Mesmo sendo um filme italiano, ‘O Primeiro Dia da Minha Vida’ é o tipo de produção que pode se conectar com pessoas de qualquer nacionalidade, afinal, a angústia é um sentimento comum a todos os seres humanos, e cada vez mais recorrente na contemporaneidade. Mesmo assim, as duas horas de longa acabam arrastando um pouco o desenvolvimento dos acontecimentos.
Escrito por Paolo Genovese, que também dirigiu o longa, junto com Isabella Aguilar e Paolo Costella, o roteiro parte de um personagem que, ao fim, não é a protagonista da trama. De Ariana, conhecemos os outros personagens e um a um vamos mergulhando nos dramas pessoais, de modo que o espectador é apresentado a “motivos” dramáticos o suficiente que justificam a atitude dos personagens. Com a avaliação no nosso colo, os personagens ficam livres para decidir seus destinos, independentemente se concordamos com as atitudes ou não. Desse modo, conhecendo as histórias, é quase previsível imaginar o que acontece com cada um.
Paolo Genovese explora bem os sets escolhidos, principalmente nos planos aberto, noturnos, chuvosos, que funcionam como passagem de tempo quase na trama. Entretanto, por ser sete dias de desenrolo, o diretor poderia ter escolhido melhor o que retratar, com fins de imprimir dinamismo ao longa.
‘O Primeiro Dia da Minha Vida’ é um filme que convida à reflexão e emociona, afinal, retrata a inquietação das almas após se desprenderem dos corpos. Não chega a ser um filme abertamente espírita, mas dialoga com aqueles que são abertos à essa visão de mundo.