Uma das vantagens da constante renovação de catálogo da Netflix é ter a chance de ver como estreia a filmes que muitas vezes já foram para as salas de cinema ou exibidos ao público anos antes – mas que, por entrarem pela primeira vez na plataforma, ganham ares de novidade, por serem assim que eles aparecem para nós aqui no Brasil. Foi o que aconteceu com o suspense ‘O Quarto Secreto’, produção estadunidense de 2018 que chegou ao gigante do streaming esses dias e, quase que imediatamente, pulou para o Top 10 dentre os assistidos da semana.
Elizabeth (Abbey Lee) sempre sonhou em se casar com um homem a quem ela tiraria o fôlego e por quem fosse profundamente apaixonada. Sonhava que esse homem a levaria para uma casa que seria só deles, isolada de tudo e de todos, e que esse homem a afastaria de tudo que era feio. É assim que Elizabeth se casa com Henry (Ciarán Hinds), um homem absolutamente podre de rico, poderoso, bem-sucedido e que claramente tem o dobro da idade dela. Henry a leva para sua mansão, onde são recepcionados por Oliver (Matthew Beard) e Claire (Carla Gugino), funcionários da casa. Lá ele lhe mostra que tudo na casa é dela, e ela tem livre acesso a todos os cômodos, menos a um determinado quarto secreto, onde ele trabalha. Só que vai ser nesse ponto que a curiosidade de Elizabeth irá residir pelos próximos dias…
Com pouco mais de uma hora e quarenta de duração, o mais curioso em ‘O Quarto Secreto’ é a construção do seu enredo. Em vinte minutos a história se resolve: Elizabeth descobre o tal segredo do quarto, os protagonistas têm seu conflito e o filme oferece uma resolução. Aí o espectador se pergunta: bom, então é isso, acabou o longa; o que virá pelas próximas uma hora e vinte de filme? É onde reside o grande pulo do gato do filme escrito e dirigido por Sebastian Gutiérrez: a cada vinte minutos ‘O Quarto Secreto’ se reinventa, em uma sequência constante e nem um pouco cansativa de plot twists que chacoalham a trama e mudam a direção do tabuleiro, tornando-se pouco provável adivinhar como a coisa toda irá se resolver no fim.
Também o jogo de cores/iluminação realçam a fotografia minimalista e a edição cortada em dois planos paralelos ajudam a corroborar a sensação de claustrofobia na elaboração desse suspense psicológico que se calca na clássica representação visual de homem mais velho casado com jovem linda para realizar uma crítica a esse sistema androcêntrico de representação. Soma-se a isso uma pitada de ficção científica que faz o cérebro do espectador frequentemente dar um bug e se perguntar o que está acontecendo.
‘O Quarto Secreto’ é um thriller que tem a aparência de mais do mesmo, iniciando com uma historinha boba que não fisga, entretanto, quando o espectador está prestes a desistir o longa dá uma balançada e mostra a que veio. Surpreendente, é um bom suspense para o final de semana.