Quando a democracia entra em cena, o cinema é expert em captá-la da forma mais profunda possível. Relatando alguns dos hiatos mais emblemáticos da história moderna e contemporânea, longas desse gênero também exercem a simbologia de utilidade, servindo como um despertar não apenas da opinião pública, mas também da população em geral. O Relatório chega como uma bela produção que cumpre este papel, fazendo da denúncia seu pilar fundamental para a construção da narrativa. Sob a produção do aclamado cineasta Steven Soderbergh, o filme ainda marca o retorno do filho de Sundance ao seu berço de origem, onde estreou na direção com Sexo, Mentiras e Videotape, nos idos de 1989.
Baseado em fatos reais, a trama acompanha Daniel Jones, um funcionário da senadora norte-americana Dianne Feinstein, incubido de investigar um sigiloso programa de Detenção e Interrogação desenvolvido pela CIA, pós 11 de Setembro. Por meio de uma minuciosa busca, o jovem acaba descobrindo uma metodologia escusa onde a tortura era aplicada em civis, com a finalidade de desvendar terroristas. As práticas desumanas renderam na morte de inocentes e suspeitas não confirmadas, sendo considerado um fracasso em sua execução, além de infringir a legislação norte-americana e o Direitos Humanos.
Sob a caracterização de Adam Driver, Jones ganha uma voz global, em uma bela e hipnotizante atuação, que evidencia ainda mais o poder e talento do jovem ator. Embora suas feições não sejam semelhantes a de seu personagem real, este detalhe se torna insignificante perto de sua fascinante performance em tela, cativando e conquistando a atenção do espectador num piscar. Ao seu lado, Annette Bening é a precisa visão de Feinstein, trajando seus terninhos bem alinhados, com seu volumoso cabelo castanho escuro. Pelas lentes deu seus óculos, ela entrega uma versão diferente de si mesma, personificando a senadora americana com naturalidade, leveza e integralidade. A dinâmica em dupla com Driver fortalece ainda mais a força da produção, com o duo sustentando o longa em diálogos afiados, sacadinhas rápidas e pequenos tons de sarcasmo que incrementam uma certa leveza à dramaticidade.
A direção de Scott Z. Burns não fica atrás e opera de maneira bem jornalística, se espelhando nas narrativas de duas outras cinebiografias poderosas: Spotlight: Segredos Revelados e Todos os Homens do Presidente, ambos vencedores do Oscar. Assinando também o roteiro do longa, o cineasta centraliza sua narrativa nos fatos, deixando de lado algumas fábulas comuns, vez outra usadas para aumentar a carga dramática da produção. Com uma história essencial e naturalmente boa, ele entrega um filme consistente e convincente, arregalando ainda mais os olhos do espectador diante das atrocidades das informações reveladas.
Tratando com voracidade a gravidade da política de detenção subversiva adotada pela CIA, O Relatório ainda se consolida como o tipo de produção que, facilmente, conquista Academia. Apaixonada por biografias que exercem a função de utilidade pública, não será de se surpreender se o longa conseguir conquistar algumas indicações ao Oscar. Preenchendo os requisitos que o tornam um filme espetacular, o longa já anuncia uma jornada promissora para ao ano de 2019, mirando nas futuras premiações.