terça-feira , 3 dezembro , 2024

Crítica | Oppenheimer – Nolan cria Filme CANSATIVO e Arrogante que Tenta Glorificar Criador da Bomba Atômica

Em meio a brincadeiras de marketing de Barbieheimer, chega aos cinemas brasileiros o filme ‘Oppenheimer’ – e, de antemão podemos afirmar: um filme não é nem de longe concorrência para o outro.



J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) é um físico brilhante que sonha com as reações estelares e as consequências de quando as estrelas morrem. Obcecado com o assunto, ele parte para diversas universidades da Europa para estudar e ensinar o tema, até voltar aos Estados Unidos, onde recebe um inusitado convite das forças armadas: o coronel Leslie Groves (Matt Damon) lhe pede para montar um grupo de cientistas para um projeto secreto, de nome Projeto Manhattan, que visava a criação de uma bomba nuclear. Oppenheimer, então, sugere a construção de uma cidade inteira em Los Alamos, no deserto do Novo México, para onde se muda com sua esposa Kitty (Emily Blunt) a fim de acompanhar e testar a bomba em segurança, acreditando estar fazendo uma coisa boa.

Com excessivas três horas de duração, ‘Oppenheimer’ é um filme problemático em muitos aspectos, embora se salve em outros. Tecnicamente, o projeto é bem-feito em algumas áreas. O som é realmente impressionante, bem como sua ausência em determinadas cenas para construir a tensão; nesse sentido, vale investir em assistir em sala Imax, se houver essa opção na sua cidade. A edição também está bem realizada, bem como os trabalhos de caracterização e figurino – quesitos esses que devem levar indicação ao Oscar com chances reais de ganhar.

Inspirado no livro de Kai Bird e Martin Sherwin, o filme foi escrito e dirigido por Christopher Nolan, e deve ter feito sentido só na cabeça dele mesmo. O longa é dividido em três partes, sendo que a história da bomba mesmo é só na parte final. Antes disso o filme se divide num interminável drama de background da vida particular de Oppenheimer (seu envolvimento com mulheres casadas, com a política, com a academia) e intercala com um julgamento duplo, em tempos diferentes, que o próprio filme faz questão de dizer que não é um julgamento.

E é aí que vem a confusão: o roteiro parte do princípio de que o espectador sabe quem são aqueles personagens da História, e a gente fica realmente confuso para entender quem é quem e o porquê de terem agido assim. Exemplo está no personagem de Robert Downey Jr, que intercala o filme inteiro mas cuja motivação não é explicitada no longa. No final temos a sensação de que Nolan fez um filme de cinco horas e o condensou em três, e daqui a um ano teremos a versão do diretor desse projeto. Se esse for o caso (e somado ao fato de o diretor ter criado um projeto que só pode ser exibido em trinta salas de cinema no mundo com a qualidade que ele pretendia), já fica bem evidente que a intensão do filme é atingir um grupo muito seleto de espectadores – com acesso à essas salas, que saibam a História dos personagens e que não precise de explicações.

Fora isso temos o desperdício de um elenco feminino potente e indicado a prêmios como o Oscar: Florence Pugh tem poucas cenas e em quase todas aparece sem roupa; Emily Blunt faz uma mulher que, mesmo sendo apresentada como uma pessoa que corre atrás do que quer, se resume a ser apenas esposa. Também há o desperdício de Rami Malek, que tem apenas duas cenas e não dá nem para entender quem é ele na história.

Mesmo se deixarmos tudo isso de lado (e olha que o roteiro confuso e picotado pesa demais nas três horas de filme) temos a problemática da intenção do filme, que é a de glorificar o cara que criou a bomba atômica. Não é nenhum spoiler dizer que os cientistas conseguiram construir a bomba e que ela funcionou. Mas, quando ela funciona no longa, Oppenheimer é levantado nos ombros com a bandeira dos Estados Unidos ao fundo. Durante o tal julgamento, Oppenheimer é construído como um cientista obcecado e inocente, que se deixou levar porque acreditava que estava fazendo algo bom (demonstrar que ser capaz de construir uma bomba letal pararia o mundo, que não faria mais guerras por medo do potencial bélico dos EUA) e que, no final das contas, demonstra a arrogância dos Estados Unidos e seus patriotas em se achar no comando do mundo.

Cansativo, confuso e prepotente, ‘Oppenheimer’ chega aos cinemas deixando a sensação de chegar com uns cinquenta anos de atraso.

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) é um físico brilhante que sonha com as reações estelares e as consequências de quando as estrelas morrem. Obcecado com o assunto, ele parte para diversas universidades da Europa para estudar e ensinar o tema, até voltar aos Estados Unidos, onde recebe um inusitado convite das forças armadas: o coronel Leslie Groves (Matt Damon) lhe pede para montar um grupo de cientistas para um projeto secreto, de nome Projeto Manhattan, que visava a criação de uma bomba nuclear. Oppenheimer, então, sugere a construção de uma cidade inteira em Los Alamos, no deserto do Novo México, para onde se muda com sua esposa Kitty (Emily Blunt) a fim de acompanhar e testar a bomba em segurança, acreditando estar fazendo uma coisa boa.

Com excessivas três horas de duração, ‘Oppenheimer’ é um filme problemático em muitos aspectos, embora se salve em outros. Tecnicamente, o projeto é bem-feito em algumas áreas. O som é realmente impressionante, bem como sua ausência em determinadas cenas para construir a tensão; nesse sentido, vale investir em assistir em sala Imax, se houver essa opção na sua cidade. A edição também está bem realizada, bem como os trabalhos de caracterização e figurino – quesitos esses que devem levar indicação ao Oscar com chances reais de ganhar.

Inspirado no livro de Kai Bird e Martin Sherwin, o filme foi escrito e dirigido por Christopher Nolan, e deve ter feito sentido só na cabeça dele mesmo. O longa é dividido em três partes, sendo que a história da bomba mesmo é só na parte final. Antes disso o filme se divide num interminável drama de background da vida particular de Oppenheimer (seu envolvimento com mulheres casadas, com a política, com a academia) e intercala com um julgamento duplo, em tempos diferentes, que o próprio filme faz questão de dizer que não é um julgamento.

E é aí que vem a confusão: o roteiro parte do princípio de que o espectador sabe quem são aqueles personagens da História, e a gente fica realmente confuso para entender quem é quem e o porquê de terem agido assim. Exemplo está no personagem de Robert Downey Jr, que intercala o filme inteiro mas cuja motivação não é explicitada no longa. No final temos a sensação de que Nolan fez um filme de cinco horas e o condensou em três, e daqui a um ano teremos a versão do diretor desse projeto. Se esse for o caso (e somado ao fato de o diretor ter criado um projeto que só pode ser exibido em trinta salas de cinema no mundo com a qualidade que ele pretendia), já fica bem evidente que a intensão do filme é atingir um grupo muito seleto de espectadores – com acesso à essas salas, que saibam a História dos personagens e que não precise de explicações.

Fora isso temos o desperdício de um elenco feminino potente e indicado a prêmios como o Oscar: Florence Pugh tem poucas cenas e em quase todas aparece sem roupa; Emily Blunt faz uma mulher que, mesmo sendo apresentada como uma pessoa que corre atrás do que quer, se resume a ser apenas esposa. Também há o desperdício de Rami Malek, que tem apenas duas cenas e não dá nem para entender quem é ele na história.

Mesmo se deixarmos tudo isso de lado (e olha que o roteiro confuso e picotado pesa demais nas três horas de filme) temos a problemática da intenção do filme, que é a de glorificar o cara que criou a bomba atômica. Não é nenhum spoiler dizer que os cientistas conseguiram construir a bomba e que ela funcionou. Mas, quando ela funciona no longa, Oppenheimer é levantado nos ombros com a bandeira dos Estados Unidos ao fundo. Durante o tal julgamento, Oppenheimer é construído como um cientista obcecado e inocente, que se deixou levar porque acreditava que estava fazendo algo bom (demonstrar que ser capaz de construir uma bomba letal pararia o mundo, que não faria mais guerras por medo do potencial bélico dos EUA) e que, no final das contas, demonstra a arrogância dos Estados Unidos e seus patriotas em se achar no comando do mundo.

Cansativo, confuso e prepotente, ‘Oppenheimer’ chega aos cinemas deixando a sensação de chegar com uns cinquenta anos de atraso.

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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