sábado , 28 dezembro , 2024

Crítica | Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood

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Ô, da poltrona…

“Nós, gatos, já nascemos pobres, porém, já nascemos livres…” Quem não conhece a icônica canção História de uma Gata, de Chico Buarque. No entanto, antes é necessária certa contextualização. Na realidade, Os Saltimbancos é um musical infantil criado pelo italiano Sergio Bardotti e pelo argentino Luis Enríquez Bacalov, que rendeu, entre outras coisas, um disco contendo as canções do espetáculo. Por sua vez, a dupla se inspirou no conto Os Músicos de Bremen, dos lendários irmãos Grimm, para criar a sua obra. Em 1977, foi a vez da peça estrear no Brasil, adaptada por Buarque, que remodelou as canções para a versão tupiniquim.

Como de costume, o grupo de humoristas mais famoso de nosso país resolveu dar sua abordagem para esta história universal, e assim, em 1981, surgia Os Saltimbancos Trapalhões, tido até hoje como ápice de sua filmografia. São mais de 40 filmes e 23 com a formação que todos conhecemos e amamos: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias (isso dá até música de samba). Para ter uma ideia, em sua época de auge, os filmes dos Trapalhões eram os filmes mais vistos no Brasil e não tinha para blockbusters internacionais quando, a cada ano, o quarteto batia ponto nos cinemas.



O ano de 1990 marcava o fim de uma era tão querida e o último filme com os quatro reunidos – em Uma Escola Atrapalhada. Mussum ainda seguiu por mais dois filmes, mas viria a falecer, assim como o amigo Zacarias antes dele. Mais três filmes apenas com os dois restantes e o nome dos Trapalhões era colocado para escanteio, assim permanecendo desde 1999, com O Trapalhão e a Luz Azul. O ano de 2017 marca não só a superação e esnobada no ano maledeto de 2016, mas também o surgimento de um novo produto com a marca Trapalhões nos cinemas, novinho em folha.

Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood é uma espécie de continuação, remake ou reboot – muito em voga no cinemão mainstream atual – o que demonstra através de outro ângulo a modernidade implícita na obra. O longa dirigido por João Daniel Tikhomiroff é baseado numa peça de teatro recente, que fez muito sucesso, e tinha como objetivo servir de homenagem para a carreira de Renato Aragão e Dedé Santana. Aproveitando este gancho, chega aos cinemas no início deste ano, época de férias escolares, que casam exatamente com o período que a trupe costumava lançar seus filmes – incontáveis vezes os programas da minha infância era ver ao lado dos colegas e familiares o longa mais recente dos Trapalhões na década de 1980 – a versão cinematográfica desta história.

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É desta forma que o novo Saltimbancos funciona, como a Canção do Cisne, uma produção bem detalhada e bem cuidada, prestigiando direção de arte, figurinos e performances. Acima de tudo, tentando trazer à tona a nostalgia dos clássicos filmes dos humoristas, remodelando conceitos para os tempos atuais. Por exemplo, animais no circo é um assunto delicado e polêmico, o qual a obra faz questão de enfatizar. Essa remodelação é muito necessária, e o roteiro de Mauro Lima trabalha tais temas de forma adequada. Didi e Dedé já não são os jovens protagonistas de outrora, que desempenhavam um alto nível de atuação física e ficavam com as meninas. Tudo isso é levado em conta, quando a dupla apenas circunda os relacionamentos amorosos de terceiros e comenta sua condição atual na terceira idade, com bastante graça e afeto. É impossível não se envolver.

Obviamente, o humor fica mais seguro também. Mais inofensivo e infantilizado – se é que pode-se dizer isso, sabendo que as produções antigas eram basicamente miradas às crianças também. Na trama, o circo no qual a dupla trabalha está com os dias contados e prestes a fechar as portas. Algo precisa salvá-los e uma renovação precisa vir urgente. O dúbio personagem de Marcos Frota, eleito o novo administrador do negócio, sugere parcerias com leilões de gado e uma sociedade com o corrupto prefeito do lugarejo. Mas Didi e Dedé tem outros planos, e a chegada da filha de Barão (Roberto Guilherme), o dono do circo, papel da lindíssima Letícia Colin (Ponte Aérea), pode ajudá-lo a pôr em prática.

Como dito, o novo Saltimbancos é uma reedição para os novos tempos do original. Temos os mesmos personagens, como Karina (Colin) – no original vivida por Lucinha Lins – e a exótica Tigrana (Alinne Moraes) – no original vivida por Mila Moreira – mesclados com novas adições, como Luisa, interpretada por Livian Aragão, filha de Renato Aragão. A obra pode funcionar mais para os nostálgicos, que há muito não viam um longa estampando a marca dos humoristas. Por este aspecto é fácil deixar o saudosismo tomar conta e perpassar certos buracos no roteiro, como a conclusão apressada e sem lógica, que envolve o confronto com o prefeito, papel de Nelson Freitas, ou a participação relâmpago de Marcos Veras. A suspensão de descrença deve entrar em jogo, já que esta é uma produção afetuosa e cujo único propósito de existir é celebrar uma longa carreira digna de estudo.

Se nem todos emplacam com seus retratos de personagens, alguns excessivamente caricatos, valem ser mencionados os desempenhos de Alinne Moraes e Letícia Colin, as estrelas do filme. Moraes brinca com trejeitos e postura, abraçando o clima jocoso com sua sedutora antagonista, enquanto Colin entrega tudo de si, e mergulha de cabeça vendendo de verdade a obra, como quem está num drama intenso. O número musical do desfecho, que contém a icônica melodia, é bem realizado ao ponto de encher os olhos. A última cena traduz com maestria o encerramento de uma bela trajetória. Seu ponto final é satisfatório o suficiente para nos fazer perdoar qualquer pecado ou deslize cometido pelo caminho.

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“Nós, gatos, já nascemos pobres, porém, já nascemos livres…” Quem não conhece a icônica canção História de uma Gata, de Chico Buarque. No entanto, antes é necessária certa contextualização. Na realidade, Os Saltimbancos é um musical infantil criado pelo italiano Sergio Bardotti e pelo argentino Luis Enríquez Bacalov, que rendeu, entre outras coisas, um disco contendo as canções do espetáculo. Por sua vez, a dupla se inspirou no conto Os Músicos de Bremen, dos lendários irmãos Grimm, para criar a sua obra. Em 1977, foi a vez da peça estrear no Brasil, adaptada por Buarque, que remodelou as canções para a versão tupiniquim.

Como de costume, o grupo de humoristas mais famoso de nosso país resolveu dar sua abordagem para esta história universal, e assim, em 1981, surgia Os Saltimbancos Trapalhões, tido até hoje como ápice de sua filmografia. São mais de 40 filmes e 23 com a formação que todos conhecemos e amamos: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias (isso dá até música de samba). Para ter uma ideia, em sua época de auge, os filmes dos Trapalhões eram os filmes mais vistos no Brasil e não tinha para blockbusters internacionais quando, a cada ano, o quarteto batia ponto nos cinemas.

O ano de 1990 marcava o fim de uma era tão querida e o último filme com os quatro reunidos – em Uma Escola Atrapalhada. Mussum ainda seguiu por mais dois filmes, mas viria a falecer, assim como o amigo Zacarias antes dele. Mais três filmes apenas com os dois restantes e o nome dos Trapalhões era colocado para escanteio, assim permanecendo desde 1999, com O Trapalhão e a Luz Azul. O ano de 2017 marca não só a superação e esnobada no ano maledeto de 2016, mas também o surgimento de um novo produto com a marca Trapalhões nos cinemas, novinho em folha.

Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood é uma espécie de continuação, remake ou reboot – muito em voga no cinemão mainstream atual – o que demonstra através de outro ângulo a modernidade implícita na obra. O longa dirigido por João Daniel Tikhomiroff é baseado numa peça de teatro recente, que fez muito sucesso, e tinha como objetivo servir de homenagem para a carreira de Renato Aragão e Dedé Santana. Aproveitando este gancho, chega aos cinemas no início deste ano, época de férias escolares, que casam exatamente com o período que a trupe costumava lançar seus filmes – incontáveis vezes os programas da minha infância era ver ao lado dos colegas e familiares o longa mais recente dos Trapalhões na década de 1980 – a versão cinematográfica desta história.

É desta forma que o novo Saltimbancos funciona, como a Canção do Cisne, uma produção bem detalhada e bem cuidada, prestigiando direção de arte, figurinos e performances. Acima de tudo, tentando trazer à tona a nostalgia dos clássicos filmes dos humoristas, remodelando conceitos para os tempos atuais. Por exemplo, animais no circo é um assunto delicado e polêmico, o qual a obra faz questão de enfatizar. Essa remodelação é muito necessária, e o roteiro de Mauro Lima trabalha tais temas de forma adequada. Didi e Dedé já não são os jovens protagonistas de outrora, que desempenhavam um alto nível de atuação física e ficavam com as meninas. Tudo isso é levado em conta, quando a dupla apenas circunda os relacionamentos amorosos de terceiros e comenta sua condição atual na terceira idade, com bastante graça e afeto. É impossível não se envolver.

Obviamente, o humor fica mais seguro também. Mais inofensivo e infantilizado – se é que pode-se dizer isso, sabendo que as produções antigas eram basicamente miradas às crianças também. Na trama, o circo no qual a dupla trabalha está com os dias contados e prestes a fechar as portas. Algo precisa salvá-los e uma renovação precisa vir urgente. O dúbio personagem de Marcos Frota, eleito o novo administrador do negócio, sugere parcerias com leilões de gado e uma sociedade com o corrupto prefeito do lugarejo. Mas Didi e Dedé tem outros planos, e a chegada da filha de Barão (Roberto Guilherme), o dono do circo, papel da lindíssima Letícia Colin (Ponte Aérea), pode ajudá-lo a pôr em prática.

Como dito, o novo Saltimbancos é uma reedição para os novos tempos do original. Temos os mesmos personagens, como Karina (Colin) – no original vivida por Lucinha Lins – e a exótica Tigrana (Alinne Moraes) – no original vivida por Mila Moreira – mesclados com novas adições, como Luisa, interpretada por Livian Aragão, filha de Renato Aragão. A obra pode funcionar mais para os nostálgicos, que há muito não viam um longa estampando a marca dos humoristas. Por este aspecto é fácil deixar o saudosismo tomar conta e perpassar certos buracos no roteiro, como a conclusão apressada e sem lógica, que envolve o confronto com o prefeito, papel de Nelson Freitas, ou a participação relâmpago de Marcos Veras. A suspensão de descrença deve entrar em jogo, já que esta é uma produção afetuosa e cujo único propósito de existir é celebrar uma longa carreira digna de estudo.

Se nem todos emplacam com seus retratos de personagens, alguns excessivamente caricatos, valem ser mencionados os desempenhos de Alinne Moraes e Letícia Colin, as estrelas do filme. Moraes brinca com trejeitos e postura, abraçando o clima jocoso com sua sedutora antagonista, enquanto Colin entrega tudo de si, e mergulha de cabeça vendendo de verdade a obra, como quem está num drama intenso. O número musical do desfecho, que contém a icônica melodia, é bem realizado ao ponto de encher os olhos. A última cena traduz com maestria o encerramento de uma bela trajetória. Seu ponto final é satisfatório o suficiente para nos fazer perdoar qualquer pecado ou deslize cometido pelo caminho.

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