domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Pantera Negra: Wakanda para Sempre’ é uma incrível aventura da Marvel e uma tocante carta de amor a Chadwick Boseman

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Em 2018, a Marvel Studios lançava um de seus melhores títulos – o incrível e aclamado Pantera Negra. Além de se configurar como uma das grandes produções da companhia, o título também ganhou reconhecimento internacional pelas importantes questões que trouxe à tona, incluindo um elenco de peso que destilou representatividade, guiado pela tour-de-force do saudoso Chadwick Boseman como T’Challa. Agora, quatro anos depois, está na hora de retornarmos para esse universo absolutamente incrível com o vindouro Pantera Negra: Wakanda para Sempre.

Trazendo Ryan Coogler de volta à cadeira de direção, a trama já se inicia com uma potente sequência que anuncia a trágica morte de T’Challa (uma saída tocante encontrada pelos realizadores após o precoce falecimento de Boseman), impulsionando a Rainha Ramonda (interpretada pela sempre impecável Angela Bassett) e a Princesa Shuri (Letitia Wright) a reorganizarem tanto o reino de Wakanda quanto a visão de mundo – visto que devem lidar com a pungência de um luto desmedido e com o fato de que pessoas dependem de sua liderança. Nesse quesito, o longa trata essa dor da perda de forma muito cândida, colocando em xeque a crença espiritual de Ramonda contra a mente calculista e factial de Shuri – mostrando que cada uma lida à sua própria maneira e enfrentam as consequências do modo que as convêm.



Mas isso não é tudo: além do sólido impacto que a morte de T’Challa emplaca, um outro problema surge no horizonte. Diferente do que todos pensavam, o valioso metal conhecido como vibranium não era característico apenas em Wakanda, mas sim em um mundo submarino conhecido como Talocan, que é um reduto da mesma substância. Ainda que as grandes potências do planeta não tenham descoberto a localização desse novo reino, o divinal soberano Namor (Tenoch Huerta) se vê obrigado a realizar uma ofensiva contra aqueles que escavam o fundo do mar, pedindo a ajuda dos wakandanos para proteger Talokan, seus habitantes e toda a cultura que lutam para manterem viva. E de que forma eles podem ajudar? Encontrando o paradeiro da jovem cientista que criou a tecnologia que detecta o uso do vibranium, Riri Williams (Dominique Thorne), que futuramente ficaria conhecida como Coração de Ferro.

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É claro que as coisas não são tão simples como parecem e o embate entre Wakanda e Talokan se concretiza e dá início a uma batalha pincelada com coreografias incríveis que ofuscam os pontuais problemas de efeitos visuais (algo já recorrente no MCU há algum tempo). Mais do que isso, a certeira direção de Coogler é um deleite para os olhos e permite que a produção não seja apenas uma ótima e instigante aventura, mas um amoroso tributo a Boseman, cujo legado permite que a obra ganhe camadas de profundidade e humanidade de tirar o fôlego. De fato, as quase três horas do filme passam em um piscar de olhos, refletindo a capacidade do compente time em nos manter vidrados do começo ao fim.

Além dos visuais, os obstáculos se estendem para uma insistente previsibilidade em certos diálogos, que são antecipados até mesmo pelo público não-aficionado pelo universo Marvel. Porém, tais deslizes também são varridos para debaixo do tapete pelas assustadoras performances do elenco protagonista e coadjuvante. Wright é a verdadeira protagonista e aproveita o longa anterior para pegar elementos emprestados da complexa configuração de T’Challa, inclusive numa cena-chave que lhe arremessa para um arco misto de vingança, redenção e perdão; Bassett volta a nos encantar como Ramonda, reafirmando seu icônico status no cenário do entretenimento; Thorne e Huerta fazem uma impecável estreia no MCU e servem como contraponto um do outro, ainda que quase não dividam as cenas; e Danai Gurira nos rouba a atenção ao reprisar o papel de Okoye, general das Dora Milaje.

Um dos emblemáticos aspectos de Pantera Negraé o respeito com que trata as raízes africanas que inspiram as engrenagens de Wakanda – e isso não seria diferente no segundo capítulo da franquia. A irretocável trilha sonora de Ludwig Göransson pode lhe render mais uma indicação ao Oscar, sabendo como ditar a atmosfera de qualquer sequência através de instrumentos inusitados, como a sutil presença do cajón e dos atabaques; a fotografia de Autumn Durald Arkapaw glorifica o conflito imagético entre Wakanda e Talokan, contrastando o misticismo submarino e a imponência terrestre; e, para completar, temos um resgate da cultura mesoamericana que funciona em boa parte da produção – mas não podemos deixar de sentir um gostinho agridoce por essa parte não ser mais explorada do que deveria.

Pantera Negra: Wakanda para Sempre é uma ótima e refrescante adição ao MCU, principalmente depois de recentes títulos duvidosos. Ainda que não tenha o mesmo peso de seu predecessor, o longa nos envolve ao celebrar o poder saudosista da memória e dos entes que já se foram – nos relembrando de que, mesmo caindo, conseguimos nos levantar mais fortes e prontos para voltar ao campo de guerra.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Trazendo Ryan Coogler de volta à cadeira de direção, a trama já se inicia com uma potente sequência que anuncia a trágica morte de T’Challa (uma saída tocante encontrada pelos realizadores após o precoce falecimento de Boseman), impulsionando a Rainha Ramonda (interpretada pela sempre impecável Angela Bassett) e a Princesa Shuri (Letitia Wright) a reorganizarem tanto o reino de Wakanda quanto a visão de mundo – visto que devem lidar com a pungência de um luto desmedido e com o fato de que pessoas dependem de sua liderança. Nesse quesito, o longa trata essa dor da perda de forma muito cândida, colocando em xeque a crença espiritual de Ramonda contra a mente calculista e factial de Shuri – mostrando que cada uma lida à sua própria maneira e enfrentam as consequências do modo que as convêm.

Mas isso não é tudo: além do sólido impacto que a morte de T’Challa emplaca, um outro problema surge no horizonte. Diferente do que todos pensavam, o valioso metal conhecido como vibranium não era característico apenas em Wakanda, mas sim em um mundo submarino conhecido como Talocan, que é um reduto da mesma substância. Ainda que as grandes potências do planeta não tenham descoberto a localização desse novo reino, o divinal soberano Namor (Tenoch Huerta) se vê obrigado a realizar uma ofensiva contra aqueles que escavam o fundo do mar, pedindo a ajuda dos wakandanos para proteger Talokan, seus habitantes e toda a cultura que lutam para manterem viva. E de que forma eles podem ajudar? Encontrando o paradeiro da jovem cientista que criou a tecnologia que detecta o uso do vibranium, Riri Williams (Dominique Thorne), que futuramente ficaria conhecida como Coração de Ferro.

É claro que as coisas não são tão simples como parecem e o embate entre Wakanda e Talokan se concretiza e dá início a uma batalha pincelada com coreografias incríveis que ofuscam os pontuais problemas de efeitos visuais (algo já recorrente no MCU há algum tempo). Mais do que isso, a certeira direção de Coogler é um deleite para os olhos e permite que a produção não seja apenas uma ótima e instigante aventura, mas um amoroso tributo a Boseman, cujo legado permite que a obra ganhe camadas de profundidade e humanidade de tirar o fôlego. De fato, as quase três horas do filme passam em um piscar de olhos, refletindo a capacidade do compente time em nos manter vidrados do começo ao fim.

Além dos visuais, os obstáculos se estendem para uma insistente previsibilidade em certos diálogos, que são antecipados até mesmo pelo público não-aficionado pelo universo Marvel. Porém, tais deslizes também são varridos para debaixo do tapete pelas assustadoras performances do elenco protagonista e coadjuvante. Wright é a verdadeira protagonista e aproveita o longa anterior para pegar elementos emprestados da complexa configuração de T’Challa, inclusive numa cena-chave que lhe arremessa para um arco misto de vingança, redenção e perdão; Bassett volta a nos encantar como Ramonda, reafirmando seu icônico status no cenário do entretenimento; Thorne e Huerta fazem uma impecável estreia no MCU e servem como contraponto um do outro, ainda que quase não dividam as cenas; e Danai Gurira nos rouba a atenção ao reprisar o papel de Okoye, general das Dora Milaje.

Um dos emblemáticos aspectos de Pantera Negraé o respeito com que trata as raízes africanas que inspiram as engrenagens de Wakanda – e isso não seria diferente no segundo capítulo da franquia. A irretocável trilha sonora de Ludwig Göransson pode lhe render mais uma indicação ao Oscar, sabendo como ditar a atmosfera de qualquer sequência através de instrumentos inusitados, como a sutil presença do cajón e dos atabaques; a fotografia de Autumn Durald Arkapaw glorifica o conflito imagético entre Wakanda e Talokan, contrastando o misticismo submarino e a imponência terrestre; e, para completar, temos um resgate da cultura mesoamericana que funciona em boa parte da produção – mas não podemos deixar de sentir um gostinho agridoce por essa parte não ser mais explorada do que deveria.

Pantera Negra: Wakanda para Sempre é uma ótima e refrescante adição ao MCU, principalmente depois de recentes títulos duvidosos. Ainda que não tenha o mesmo peso de seu predecessor, o longa nos envolve ao celebrar o poder saudosista da memória e dos entes que já se foram – nos relembrando de que, mesmo caindo, conseguimos nos levantar mais fortes e prontos para voltar ao campo de guerra.

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