domingo , 17 novembro , 2024

Crítica | Quando Meus Pais Não Estão em Casa

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Um belíssimo filme sobre uma amizade que se dá em meio a diversas crises, não só econômica, mas social e cultural. ‘Quando Meus Pais Não Estão em Casa (Ilo ilo) apresenta sua história de maneira simples e sutil, sem nunca perder a beleza. Mais do que a história da relação entre um menino e uma doméstica, um retrato da Singapura de 97 e todos os seus dilemas.

Passado em Singapura durante a crise financial asiática de 1997. Ilo ilo conta a história do dia a dia da família Lim, suas relações e seus dramas. Buscando uma doméstica, a família “contrata” Teresa (Angeli Bayani), uma imigrante filipina para trabalhar para eles. Teresa de inicio tem problemas com Jiale (Koh Jia Ler), mas os dois acabam desenvolvendo uma forte amizade.

Já nos primeiros minutos do longa, percebe-se que a personagem mais interessante e mais complexa é Teresa. Uma imigrante mal quista, não só naquele país, mas no próprio local de trabalho, que acaba sendo sua moradia também. Uma mãe que deixou seu filho de doze meses para buscar trabalho, Teresa, além de ser uma mulher forte, apresenta um instinto materno muito grande em relação à Jiale, mesmo quando ele lhe trata muito mal. Bem como se percebe nela, vaidade e vontade de se enfeitar, se embelezar e vestir bem, mesmo não estando em condições para tal (não tem moradia própria e quase nenhum dinheiro).



Em uma cena, à vemos passar batom e usar brincos, que nem são seus, num instinto de enfeitar-se e ficar bonita. E é engraçado quando Teresa usa roupas mais refinadas, dadas pela “patroa”, e é repreendida pela mesma. “Por que você está usando isso?“, pergunta ela, como se a doméstica não tivesse o direito de se embelezar.

E se Jiale é, de início, extremamente hostil a Teresa, esta consegue se impor a ele e a relação dos dois começa a se tornar mais sólida, com a doméstica cumprindo o papel da mãe do garoto. Ai se encontram os momentos mais bonitos do longa, bem como seus temas mais interessantes. Os pais de Jiale não cumprem seus papéis de Pai e mãe, os dois trabalham o dia inteiro e nunca de fato “estão lá” para o garoto, aparecendo apenas nos momentos de repreensão. A relação do garoto com os pais é de agressão e disciplina, nunca há diálogo de fato, sempre algum tipo de punição. Quando Teresa começa a se aproximar, ela cumpre o papel de mãe e pai, de fato, estando o tempo todo com o garoto e protagonizando os momentos mais íntimos com ele. Dando-lhe banho, conversando com ele ou o deixando montar nas costas dela, numa brincadeira infantil e belíssima.

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Mas quem será que é o culpado por esses problemas? O diretor Anthony Chen parece atribuir essa responsabilidade ao sistema. As regras de mercado impostas pelas grandes corporações e economias afetam aquele país ditando suas regras em qualquer âmbito. Os pais de Jiale são infelizes em suas ocupações e chegam cansados do trabalho, sem nenhum tempo ou animo de dedicar tempo a criança. Bem como Teresa é obrigada a deixar seu filho porque precisa de trabalho. A própria cultura daquela sociedade é apagada em função do capital. Nesse sentido, a direção de arte se destaca como o elemento mais expressivo do filme. Vemos em quase todos os lugares cores neutras ou claras, sem vida, para denotar uma sociedade que não se identifica mais, que não tem mais suas características, globalizada. Aculturada pelo capital. Em alguns momentos vemos Teresa utilizando uma camisa branca onde se lê “Dream Team“, decisão inteligentíssima por parte do departamento de arte.

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O desfecho do filme é diretamente relacionado com o capital. Por conta da crise financeira, os pais de Jiale são obrigados a demitir a doméstica. E numa despedida extremamente triste, vemos Teresa ser cortada da vida do garoto, não por seu pai ou sua mãe, mas pela crise econômica. E ai, o diretor não apela nem um pouco ao melodrama, deixando a despedida curta e concisa numa atitude inteligente e honesta.

E apesar de um ou dois diálogos desnecessários, próximos ao final do filme, bem como uma extensão desnecessária, estes não chegam a atrapalhar, de fato, o andamento do filme. ‘Quando Meus Pais Não Estão em Casa dispõe de uma sensibilidade e beleza incríveis dentro dos seus temas diversos, e consegue nos emocionar com seus personagens complexos e uma relação extremamente bela.

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Um belíssimo filme sobre uma amizade que se dá em meio a diversas crises, não só econômica, mas social e cultural. ‘Quando Meus Pais Não Estão em Casa (Ilo ilo) apresenta sua história de maneira simples e sutil, sem nunca perder a beleza. Mais do que a história da relação entre um menino e uma doméstica, um retrato da Singapura de 97 e todos os seus dilemas.

Passado em Singapura durante a crise financial asiática de 1997. Ilo ilo conta a história do dia a dia da família Lim, suas relações e seus dramas. Buscando uma doméstica, a família “contrata” Teresa (Angeli Bayani), uma imigrante filipina para trabalhar para eles. Teresa de inicio tem problemas com Jiale (Koh Jia Ler), mas os dois acabam desenvolvendo uma forte amizade.

Já nos primeiros minutos do longa, percebe-se que a personagem mais interessante e mais complexa é Teresa. Uma imigrante mal quista, não só naquele país, mas no próprio local de trabalho, que acaba sendo sua moradia também. Uma mãe que deixou seu filho de doze meses para buscar trabalho, Teresa, além de ser uma mulher forte, apresenta um instinto materno muito grande em relação à Jiale, mesmo quando ele lhe trata muito mal. Bem como se percebe nela, vaidade e vontade de se enfeitar, se embelezar e vestir bem, mesmo não estando em condições para tal (não tem moradia própria e quase nenhum dinheiro).

Em uma cena, à vemos passar batom e usar brincos, que nem são seus, num instinto de enfeitar-se e ficar bonita. E é engraçado quando Teresa usa roupas mais refinadas, dadas pela “patroa”, e é repreendida pela mesma. “Por que você está usando isso?“, pergunta ela, como se a doméstica não tivesse o direito de se embelezar.

E se Jiale é, de início, extremamente hostil a Teresa, esta consegue se impor a ele e a relação dos dois começa a se tornar mais sólida, com a doméstica cumprindo o papel da mãe do garoto. Ai se encontram os momentos mais bonitos do longa, bem como seus temas mais interessantes. Os pais de Jiale não cumprem seus papéis de Pai e mãe, os dois trabalham o dia inteiro e nunca de fato “estão lá” para o garoto, aparecendo apenas nos momentos de repreensão. A relação do garoto com os pais é de agressão e disciplina, nunca há diálogo de fato, sempre algum tipo de punição. Quando Teresa começa a se aproximar, ela cumpre o papel de mãe e pai, de fato, estando o tempo todo com o garoto e protagonizando os momentos mais íntimos com ele. Dando-lhe banho, conversando com ele ou o deixando montar nas costas dela, numa brincadeira infantil e belíssima.

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Mas quem será que é o culpado por esses problemas? O diretor Anthony Chen parece atribuir essa responsabilidade ao sistema. As regras de mercado impostas pelas grandes corporações e economias afetam aquele país ditando suas regras em qualquer âmbito. Os pais de Jiale são infelizes em suas ocupações e chegam cansados do trabalho, sem nenhum tempo ou animo de dedicar tempo a criança. Bem como Teresa é obrigada a deixar seu filho porque precisa de trabalho. A própria cultura daquela sociedade é apagada em função do capital. Nesse sentido, a direção de arte se destaca como o elemento mais expressivo do filme. Vemos em quase todos os lugares cores neutras ou claras, sem vida, para denotar uma sociedade que não se identifica mais, que não tem mais suas características, globalizada. Aculturada pelo capital. Em alguns momentos vemos Teresa utilizando uma camisa branca onde se lê “Dream Team“, decisão inteligentíssima por parte do departamento de arte.

O desfecho do filme é diretamente relacionado com o capital. Por conta da crise financeira, os pais de Jiale são obrigados a demitir a doméstica. E numa despedida extremamente triste, vemos Teresa ser cortada da vida do garoto, não por seu pai ou sua mãe, mas pela crise econômica. E ai, o diretor não apela nem um pouco ao melodrama, deixando a despedida curta e concisa numa atitude inteligente e honesta.

E apesar de um ou dois diálogos desnecessários, próximos ao final do filme, bem como uma extensão desnecessária, estes não chegam a atrapalhar, de fato, o andamento do filme. ‘Quando Meus Pais Não Estão em Casa dispõe de uma sensibilidade e beleza incríveis dentro dos seus temas diversos, e consegue nos emocionar com seus personagens complexos e uma relação extremamente bela.

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