Adaptações de game para as telonas são extremamente complicadas, e muito dificilmente agradam o público. Porém, a franquia ‘Resident Evil‘ pode ser considerada a mais bem sucedida nos cinemas. O diretor e produtor Paul W.S. Anderson, “especializado” em adaptar games para os cinemas em filmes como ‘Mortal Kombat‘ (1995) e ‘Monster Hunter‘ (2020), realizou em 2002 a primeira adaptação da franquia com ‘Resident Evil: O Hóspede Maldito‘, que custou pouco para os padrões de um blockbuster e rendeu uma franquia com seis filmes, que faturaram US$ 1.24 bilhão nas bilheterias mundiais.
Os filmes conquistaram grande parte do público com muita ação e efeitos especiais de ponta, mas desagradaram grande parte dos gamers por trazerem como protagonista Alice – vivida pela maravilhosa Milla Jovovich – uma personagem que nunca apareceu nos jogos. Apesar da franquia ser bem sucedida, muitos fãs dos jogos torciam o nariz pelo diretor tomar liberdades criativas e entregar histórias diferentes do material de origem, adaptando para que elas coubessem nos filmes.
Apenas cinco anos após ‘Resident Evil 6: O Capítulo Final‘ (2016), a Sony fez a mesma jogada que realizou com a franquia ‘Homem-Aranha‘ e desenvolveu um reboot com uma nova equipe e elenco, adaptando fielmente os dois primeiros jogos e juntando-os em um só filme.
O resultado é agridoce. Aqueles que amam os jogos provavelmente vão se divertir com a nostalgia e as referências, já que o filme recria quadro a quadro vários momentos icônicos, mas falha justamente em criar uma história e personagens interessantes e aprofundados para justificar mais um filme da franquia.
A sensação é que estamos assistindo um amigo jogar ‘Resident Evil‘ no Playstation 2 enquanto esperamos a nossa vez. Mas por que no Playstation 2? Por que os gráficos e efeitos especiais são tão mal desenvolvidos que parecem ter saído da plataforma nos anos 90, vide a cena do Doberman claramente criada em uma computação gráfica tão mal feita que faz pensar se é apenas uma referência ao jogo original, ou se eles realmente não se importaram em gastar dinheiro com efeitos especiais decentes.
‘Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City‘ volta às origens da franquia ao mostrar Claire Redfield voltando para Raccoon City em 1998, após passar uma infância traumática em um orfanato da gigante farmacêutica em expansão Umbrella Corporation, aonde as crianças eram usadas como cobaia para experimentos ilegais. Anos depois, Raccoon City é agora uma cidade agonizante do nada. O êxodo da empresa transformou a cidade em um deserto, com um grande mal fermentando escondido abaixo da superfície. Quando esse mal é libertado, um grupo de sobreviventes deve trabalhar juntos para descobrir a verdade por trás da Umbrella enquanto buscam viver por mais uma noite.
Todos os grandes personagens do game estão aqui em versões extremamente parecidas com as originais, com exceção dos looks do Leon S. Kennedy (Avan Jogia) e Jill Valentine (Hannah John-Kamen). Porém, o roteiro desengonçado não dá tempo para que nenhum dos personagens brilhe em tela, e também não tira tempo para desenvolver nenhum deles.
Os únicos que ganham algum destaque são Kaya Scodelario (Claire) e Robbie Amell (Chris), mas a relação deles é explorada rapidamente e superficialmente em prol de partir para as cenas de ação e terror.
Na minha opinião, para você fazer o reboot de uma franquia, você precisa criar algo melhor que o original. E não é o que acontece aqui. Apesar do primeiro filme com a Milla Jovovich apostar mais na ação do que no terror, era uma produção visivelmente bem cuidada e dirigida, enquanto este novo parece um telefilme dos anos 90.
As cenas de ação são poucas e as cenas de terror não assustam, sempre com uma fotografia escura e uma ambientação confusa. O diretor Johannes Roberts (‘Medo Profundo’) até consegue entregar algumas cenas interessantes, embaladas por músicas que faziam sucesso no fim dos anos 90, mas nem as boas atuações salvam ‘Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City‘ de ser um filme mediano, com um roteiro pouco inspirado e diálogos mal escritos. Não foi dessa vez.