sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | Segunda parte de ‘American Horror Story: Double Feature’ começa do jeito mais bizarro possível

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Na semana passada, Ryan Murphy e Brad Falchuk se despediram da primeira parte de American Horror Story: Double Feature’ com um episódio um tanto quanto desconjuntado e perdido nas próprias ambições que despertou nos capítulos anteriores. Afinal, ‘Red Tide’, como ficou intitulada a metade inicial da décima temporada, começou de forma surpreendentemente coesa e aumentou as nossas expectativas para uma conclusão digna e satisfatória; no final das contas, apressar a condução da trama foi um tiro que saiu pela culatra, rendendo-se aos mesmos problemas de ciclos predecessores – como ‘Freak Show’, ‘Hotel’ e ‘Roanoke’.

De qualquer forma, mudar o que aconteceu é impossível – então, o que podemos fazer é esperar para que a segunda metade, subtitulada ‘Death Valley’, trilhe um caminho mais sólido e cumpra com o prometido. O episódio de “reestreia”, “Take Me to Your Leader”, remodelou a equipe criativa e introduziu Max Winkler como diretor. Conhecido por seu trabalho em produções como ‘Crazy Ex-Girlfriend’ e ‘Cruel Summer’, Winkler já apresentara suas habilidades em uma carreira relativamente prolífica e funcionaria como uma perfeita adição a esse insano universo antológico. O resultado é o que esperaríamos de uma série no estilo de ‘AHS’ e, apesar de tropeçar em certos aspectos técnicos, mostra-se promissora para as semanas que seguirão.

Enquanto algumas pessoas encaram o “bizarro” como uma qualificação pejorativa, o termo é muito bem-vindo neste show. O sétimo capítulo da décima temporada se encaixa com perfeição dentro do espectro prenunciado pelo adjetivo, desde a evocativa e nostálgica cena de abertura ao chocante e nada previsível gancho. Winkler não pensa duas vezes antes de homenagear alguns clássicos do gênero de ficção científica, como ‘Eles Vivem’, ‘Sinais’ e até o segmento “Slumber Party Alien Abduction”, do terror ‘V/H/S/ 2’. A estética preto-e-branco do primeiro ato nos leva de volta para os anos 1950, em que a narrativa acompanha as primeiras incursões do então presidente Dwight Eisenhower (Neal McDonough) e o contato com raças alienígenas – que, ao que tudo indica, têm uma mensagem a dar aos humanos. Ora, mesmo a pioneira da aviação Amelia Earhart (Lily Rabe em mais uma interpretação impecável) faz uma breve aparição, seguindo os rumores de que havia sido abduzida por extraterrestres após seu misterioso desaparecimento sobre o Atlântico.

Pouco depois, somos trazidos de volta ao presente e acompanhamos o breve retiro de férias do grupo formado por Kendall (Kaia Gerber), Cal (Nico Greetham), Troy (Isaac Cole Powell) e Jamie (Rachel Hilson), que resolvem se afastar da tecnologia e da civilização por um tempo até se tornarem alvo de acontecimentos muito estranhos que envolvem a mutilação em massa de uma horda de vacas e um estranho lapso de memória em uma estrada deserta. É claro que, com as óbvias pistas que Winkler joga na iteração – e o roteiro nada sutil de Falchuk, Kristen Reidel e Manny Coto -, sabemos que essa espécie de sonho foi algo arquitetado pelos alienígenas que os abduziram – e mais: que engravidaram todos do grupo.

Em qualquer outro drama da televisão contemporânea, tal reviravolta seria encarada como uma falta de criatividade; mas, em se tratando de American Horror Story, as coisas têm a tendência de seguir um padrão que beira o lunático e que, dentro da atmosfera camp da qual se vale, tem praticidade admirável. Talvez por essa razão, os problemas enfrentados se encontrem em sua base estrutural: há a trama que se amarra com a presença de Rebecca Dayan como Mary Wycoff, bem como o alienígena que Eisenhower e o Departamento de Defesa encontram em pleno deserto; temos, também, a pontual presença de Sarah Paulson como Mamie, esposa de Dwight, que isola-se em um complicado esquecimento num nível similar às subtramas que envolvem os jovens da cronologia atual.

À medida que as escolhas visuais acertam em cheio em criar dois microcosmos dentro de um cosmos que já pertence a algo muito maior – e que pode ser amarrado nas próximas semanas -, o enredo soa familiar demais para demonstrar qualquer originalidade. Isso não seria um obstáculo caso tratado com concisa naturalidade, como vimos em ‘Red Tide’; porém, não é o que vemos aqui: as confusas mensagens parecem não se desenrolar como deveriam e não exploram todo o potencial que carregam. Temos, por exemplo, uma homenagem on point ao conhecido título ‘Contatos Imediatos de Terceiro Grau’, de Steven Spielberg, em uma delineação que inclusive remonta aos anos 1970 – e que de nada adianta se os eventos se amalgamam em um frenesi incontrolável.

A segunda parte de ‘Double Feature’ pode não ter acertado em todos os elementos que dispôs aos telespectadores, mas mostrou um lado de Murphy e de seu time que já não víamos há algum tempo. Apesar dos deslizes, ‘Death Valley’ tem chances de dar vida a uma história muito interessante e que pode recuperar nosso interesse em incursões exploradas no cenário do entretenimento desde sempre.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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De qualquer forma, mudar o que aconteceu é impossível – então, o que podemos fazer é esperar para que a segunda metade, subtitulada ‘Death Valley’, trilhe um caminho mais sólido e cumpra com o prometido. O episódio de “reestreia”, “Take Me to Your Leader”, remodelou a equipe criativa e introduziu Max Winkler como diretor. Conhecido por seu trabalho em produções como ‘Crazy Ex-Girlfriend’ e ‘Cruel Summer’, Winkler já apresentara suas habilidades em uma carreira relativamente prolífica e funcionaria como uma perfeita adição a esse insano universo antológico. O resultado é o que esperaríamos de uma série no estilo de ‘AHS’ e, apesar de tropeçar em certos aspectos técnicos, mostra-se promissora para as semanas que seguirão.

Enquanto algumas pessoas encaram o “bizarro” como uma qualificação pejorativa, o termo é muito bem-vindo neste show. O sétimo capítulo da décima temporada se encaixa com perfeição dentro do espectro prenunciado pelo adjetivo, desde a evocativa e nostálgica cena de abertura ao chocante e nada previsível gancho. Winkler não pensa duas vezes antes de homenagear alguns clássicos do gênero de ficção científica, como ‘Eles Vivem’, ‘Sinais’ e até o segmento “Slumber Party Alien Abduction”, do terror ‘V/H/S/ 2’. A estética preto-e-branco do primeiro ato nos leva de volta para os anos 1950, em que a narrativa acompanha as primeiras incursões do então presidente Dwight Eisenhower (Neal McDonough) e o contato com raças alienígenas – que, ao que tudo indica, têm uma mensagem a dar aos humanos. Ora, mesmo a pioneira da aviação Amelia Earhart (Lily Rabe em mais uma interpretação impecável) faz uma breve aparição, seguindo os rumores de que havia sido abduzida por extraterrestres após seu misterioso desaparecimento sobre o Atlântico.

Pouco depois, somos trazidos de volta ao presente e acompanhamos o breve retiro de férias do grupo formado por Kendall (Kaia Gerber), Cal (Nico Greetham), Troy (Isaac Cole Powell) e Jamie (Rachel Hilson), que resolvem se afastar da tecnologia e da civilização por um tempo até se tornarem alvo de acontecimentos muito estranhos que envolvem a mutilação em massa de uma horda de vacas e um estranho lapso de memória em uma estrada deserta. É claro que, com as óbvias pistas que Winkler joga na iteração – e o roteiro nada sutil de Falchuk, Kristen Reidel e Manny Coto -, sabemos que essa espécie de sonho foi algo arquitetado pelos alienígenas que os abduziram – e mais: que engravidaram todos do grupo.

Em qualquer outro drama da televisão contemporânea, tal reviravolta seria encarada como uma falta de criatividade; mas, em se tratando de American Horror Story, as coisas têm a tendência de seguir um padrão que beira o lunático e que, dentro da atmosfera camp da qual se vale, tem praticidade admirável. Talvez por essa razão, os problemas enfrentados se encontrem em sua base estrutural: há a trama que se amarra com a presença de Rebecca Dayan como Mary Wycoff, bem como o alienígena que Eisenhower e o Departamento de Defesa encontram em pleno deserto; temos, também, a pontual presença de Sarah Paulson como Mamie, esposa de Dwight, que isola-se em um complicado esquecimento num nível similar às subtramas que envolvem os jovens da cronologia atual.

À medida que as escolhas visuais acertam em cheio em criar dois microcosmos dentro de um cosmos que já pertence a algo muito maior – e que pode ser amarrado nas próximas semanas -, o enredo soa familiar demais para demonstrar qualquer originalidade. Isso não seria um obstáculo caso tratado com concisa naturalidade, como vimos em ‘Red Tide’; porém, não é o que vemos aqui: as confusas mensagens parecem não se desenrolar como deveriam e não exploram todo o potencial que carregam. Temos, por exemplo, uma homenagem on point ao conhecido título ‘Contatos Imediatos de Terceiro Grau’, de Steven Spielberg, em uma delineação que inclusive remonta aos anos 1970 – e que de nada adianta se os eventos se amalgamam em um frenesi incontrolável.

A segunda parte de ‘Double Feature’ pode não ter acertado em todos os elementos que dispôs aos telespectadores, mas mostrou um lado de Murphy e de seu time que já não víamos há algum tempo. Apesar dos deslizes, ‘Death Valley’ tem chances de dar vida a uma história muito interessante e que pode recuperar nosso interesse em incursões exploradas no cenário do entretenimento desde sempre.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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