Um dos gêneros que mais tem crescido dentre o público brasileiro é o do thriller policial, muito por conta da proximidade com a nossa própria realidade. Talvez a gente simplesmente goste dessa tênue linha que separa a ficção da realidade e que parece ser bem mais fina aqui no Brasil, razão pela qual as plataformas de streaming e de tv aberta andam investindo um bocado em produções desse gênero. E a mais nova representante desse quesito é a série ‘Sentença’, novo lançamento de excelência do Prime Video.
Heloísa Luz (Camila Morgado) é uma advogada de porta de cadeia de extrema competência, dessas que faz a promotoria parecer despreparada na frente de qualquer juiz. Certo dia um caso muito peculiar chega às suas mãos, pedindo especificamente por ela: o caso da Incendiária (Lena Roque), uma mulher que colocou fogo em um policial que entrou em sua casa e cujas imagens foram filmadas por um casal de adolescentes que casualmente estava gravando uma live na laje. Em paralelo, a saúde da mãe de Heloísa, Carolina (Clara Carvalho), que está presa, começa a se deteriorar muito rapidamente, o que obrigará a advogada a considerar tomar decisões não tão ortodoxas assim.
Dividido em seis episódios com cerca de cinquenta minutos cada, ‘Sentença’ é uma série brasileira muito bem escrita e ainda mais bem executada. O roteiro, escrito em bastante sintonia a muitas mãos – Francine Barbosa, Luíza Fazio, Paula Knudsen, Davi Kolb, Cássio Koshikumo, Maria Shu, Janaína Tokitaka – abre a série com uma sequência que fisga o espectador de imediato: a do crime, em que dois jovens brincam de gravar dancinha na laje a acabam não só filmando, mas sendo testemunhas-chave de um homicídio bárbaro. Os minutos iniciais da história mostram o impacto que conduzirá o espectador ao longo do enredo, e o que encontramos ao fim do último episódio é um projeto bem elaborado, coeso e bastante honesto acerca do universo advocatício brasileiro, com seus xeque-mate que nem sempre são tão idôneos.
Não passa despercebido o fato de além da protagonista de ‘Sentença’ ser uma mulher (interpretada por outra mulher forte), também o bastidor é conduzido pelo punho mulheril: as diretoras Anahí Berneri e Marina Meliande, e as cinco supracitadas roteiristas são a pulsão empática certa para se produzir uma história de uma protagonista feminina que foi pensada por uma equipe que vislumbra de dentro a rotina, as dificuldades e o universo dessa personagem. É assim que chegamos à vida dessa protagonista que, supercompetente no que faz, ainda encontra tempo e disposição para cuidar e acompanhar o filho e para fazer sexo com seu marido (mesmo que algumas dessas cenas tenham sido inseridas de maneira meio solta, quebrando o ritmo da trama).
Séria e bem realizada, ‘Sentença’ é uma série de thriller policial advocatício que finca seu lugar numa vertente de gênero majoritariamente ocupada por personagens e tramas masculinos. Camila Morgado, com sua experiência e entrega dramatúrgica, confere à personagem profundidade, carisma e bastante intensidade. ‘Sentença’ é uma ótima série, dessas para ver de uma sentada só.