Se a 1ª temporada foi focada em apresentar o background dos personagens principais e elencar os periféricos que ajudam a compor a trama, tendo como pano de fundo a realidade opressora do dia a dia de trabalho dos funcionários de um hospital público na zona norte do Rio de Janeiro, nesta 2ª temporada o jogo se inverte, e a luz agora recai sobre as condições de trabalho da equipe e o jogo de interesses por trás dos problemas das instituições públicas brasileiras.
A Dra. Renata Gomes (Fernanda Torres, muito competente em retratar uma mulher ambiciosa, porém com princípios que são postos à prova ao longo da história) é convocada para fazer uma intervenção no hospital, relegando o Dr. Samuel (Stepan Nercessian, novamente ótimo no papel) à posição de assistente. Insatisfeitos, a equipe médica não recebe bem a nova diretora, e isso abre a brecha para uma disputa de egos e poder unilateral, que, aos poucos o espectador entende que vai muito além das paredes de hospital. Com negócios escusos com o deputado Roberto Arruda (Marcelo Serrado), Renata aceita entrar num esquema de compra superfaturada de medicamentos e materiais cirúrgicos, ganhando uma porcentagem em cima disso.
Da noite para o dia, o hospital passa a receber quantidades nunca antes vistas de remédios, além de aparelhos novíssimos de raio-X, tomografia e ressonância, sem contar uma nova UTI. Do nada, surge verba para isso. A equipe médica desconfia, porém, diante da necessidade e da urgência, Dr. Evandro (o incansável Júlio Andrade, mais uma vez entregando um trabalho de excelência) apenas assina as notas fiscais, sem se importar com o conteúdo. No entanto, novato Dr. Henrique (Humberto Carrão, que caiu como uma luva no papel de um médico mauricinho da zona sul carioca) sabe exatamente o que está acontecendo e pressiona a diretora do hospital.
É assim que, para além dos dramas pessoais dos médicos e da falência do sistema público de saúde, ‘Sob Pressão’ expande o debate para a presença das milícias dentro desses espaços, gerando corrupção e superfaturamento, acentuando ainda mais a tragédia que é para a população tentar ser atendido em uma dessas unidades.
A produção com escopo cinematográfico da série é um deleite aos olhos e contribui para a manipulação (no bom sentido) dos sentimentos do espectador. Uma cena específica é primorosa: nela, a Dra. Carolina (Marjorie Estiano, uma das melhores atrizes brasileiras da atualidade) está em cima de um paciente na maca, fazendo massagem cardíaca nele; a câmera está posicionada onde seria a cabeça desse paciente, então, a imagem que vemos é como se fosse a que seria vista pelos olhos desse paciente. E isso, claro, contribui para que a gente torça para sermos salvos pela Dr. Carolina.
Dos onze episódios, destacamos o 1º, em que o Dr. Evandro é sequestrado, mas o final é – pasmem! – romântico; o 4º, em que aparece um paciente transgênero; definitivamente o 5º, que é o episódio mais tenso de toda a série, em que ocorre um acidente de ônibus com a Dra. Carolina dentro; o 7º, em que os pais de uma criança recusam a transfusão de sangue por motivos religiosos; o 8º, em que um prédio desaba e os feridos lotam a emergência do hospital; o 9º, quando o Dr. Samuel passa mal por conta da diabetes; e o 11º, cujo desfecho deixou o público sem saber o que ia acontecer.
Para nossa alegria, a 3ª temporada de ‘Sob Pressão’ está confirmada e a estreia será dia 2 de maio.