Com um magnetismo impressionante, Michelle Buteau faz dos primeiros minutos de Sobrevivendo em Grande Estilo uma vitrine de seu carisma. Trazendo um estilo singular e uma confiança contagiante, ela é o reflexo de um momento diferente do entretenimento, onde curvas mais acentuadas e voluptuosidade são mais valorizadas e menos rechaçadas. A nova série de comédia dramática da A24 chega na Netflix com uma proposta simples, mas eficaz e identificável.
Explorando o amadurecimento tardio de uma estilista de 38 anos, a original do streaming celebra mulheres mais velhas, que continuam se descobrindo, sem perder a leveza jovial dos seus 20 poucos anos. Com Buteau brilhando em tela com uma delicadeza sempre mesclada com uma voracidade divertida, Sobrevivendo em Grande Estilo – cocriada por ela e Danielle Sanchez-Witzel – é como um passeio no parque em meio ao verão. Solar, um tanto despretensiosa e sempre com uma atmosfera otimista e esperançosa, a série é um relato em primeira pessoa de alguém que se vê forçada a se reinventar, ao ver o amor de sua vida se despedaçar em pedaços.
E com muito bom humor e uma caracterização excelente, Buteau assume a postura de frontwoman de sua produção de maneira poderosa, ora sendo caricata, ora sendo delicada e sutil. Mas o grande problema da nova iteração da A24 são seus excessivos pedágios sociais. Sinalizando virtude das maneiras mais desnecessárias possíveis, Sobrevivendo em Grande Estilo ofusca seu ótimo roteiro com sacadas forçadas, frases de efeito sem qualquer profundidade e a constante necessidade de se mostrar um “aliado” de uma agenda progressista.
Ao invés de se concentrar unicamente em contar uma boa história (o que não é difícil, uma vez que a trama é sim cativante em sua essência), a série da Netflix se distrai por diversas vezes. Desviando-se de seu foco para tentar convencer os tolos que amam ser servidos com pseudo virtudes baratas e sem substância, a comédia se torna cansativa a partir de seu quarto episódio e gradativamente vai nos perdendo, justamente por esquecer que – acima de qualquer sinalização política – o público quer mesmo é se entreter sem ser “palestrado” a cada cinco minutos.
Perdendo uma oportunidade valiosa de apenas se divertir em tela e conquistar uma audiência pouco valorizada, a dramédia acaba ficando no meio do caminho. Nunca alcançando todo o seu potencial, Sobrevivendo em Grande Estilo se furta do direito de ser tão prazerosa como Master of None, ao explorar a dinâmica relacional de adultos na casa dos 35-38 anos. Engraçada, mas também politicamente pedante e forçada, a nova produção da A24 tem todos os elementos certos que fazem da produtora a riqueza criativa que é, mas peca por não saber usá-los genuinamente a seu favor, como aconteceu nas séries Treta e Mo.