O cinéfilo raiz, a essa altura do ano, já ouviu falar do burburinho em torno do filme ‘Som da Liberdade’. O longa, produzido por Mel Gibson, tem dado o que falar lá fora justamente por ser uma produção de baixo orçamento que está conseguindo arrecadar bilheteria e público constante desde o seu lançamento no hemisfério norte – batendo, inclusive, números de produções de maior orçamento e apelo mundial. Então, às vésperas de estrear no circuito nacional, a imprensa finalmente foi convidada para conferir o filme antecipadamente, e agora podemos afirmar: ‘Som da Liberdade’ é tudo isso mesmo que estão falando.
Tim (Jim Caviezel) trabalha na polícia dos Estados Unidos, no departamento de investigação e detenção a pedófilos. Embora o trabalho seja pesado, Tim se orgulha de ter prendido quase 300 indivíduos. Porém, quando questionado por um colega quantas crianças ele salvara no mesmo período, Tim fica desconcertado, e se dá conta de que seu trabalho é apenas a ponta de um iceberg muito maior, de proporções internacionais. Assim, particularmente, ele começa uma investigação a partir de seu último predador capturado, Oshinsky (Kris Avedisian), através de quem consegue resgatar Miguel (Lucás Ávila), um menino colombiano de 8 anos que estava sendo atravessado na fronteira dos Estados Unidos pelo México. Quando descobre que Miguel tem uma irmã, Rocío (Cristal Aparicio), na mesma situação, Tim entende que essa é a sua missão de vida, e precisa fazer de tudo para resgatar essas crianças.
Baseado na história real da vida de Tim Ballard, ‘Som da Liberdade’ é um filme muito bem-produzido, que trabalha com inteligência um ponto problemático das sociedades: a proteção da infância e da adolescência. É claro que o roteiro de Rod Barr e Alejandro Monteverde vez ou outra dá uma exagerada no tom divino da coisa toda – com o protagonista repetindo “que as crianças de Deus não podem ser vendidas” e que essa é sua missão dada por Deus; ou colocando esse protagonista no papel de herói, o que não deixa de incomodar, seja por ele ser um cara estadunidense que se achou no direito de entrar no território alheio, seja por ele ser um homem branco que consegue resolver tudo sozinho justamente por sua condição.
Outro ponto que cansa é a frequência com que a música celestial se repete ao longo das duas horas e vinte de filme, cuja letra em latim só vai ser traduzida ao fim. Apesar destas questões, o filme de Alejandro Monteverde tem uma fotografia belíssima, um enquadramento de câmera perfeito e uma história impactante e totalmente contemporânea, uma vez que o tráfico humano é uma realidade principalmente em países cujas economias não estão favoráveis. Para o espectador mais sensível, vale informar que, apesar do tema pesado, o longa não se debruça em evidenciar as violências ou registrar visualmente qualquer tipo de abuso infantil.
Com um roteiro bem escrito, ‘Som da Liberdade’ pode ser um dos indicados ao Oscar 2024, ou até mesmo para melhor ator coadjuvante para Bill Camp. Com uma mensagem final de Jim Caviezel encabeçando uma campanha para que se compre ingressos para as outras pessoas irem ao cinema ver o filme, nota-se que a estratégia tem dado certo, mas nem precisava de tudo isso. ‘Som da Liberdade’ é um bom filme.