Jogos Vorazes
Jogos e brincadeiras. Este é o tema das comédias da Warner em 2018. E quem poderia adivinhar que adultos brincando e jogando renderia duas das melhores comédias do ano. Primeiro, foi a vez do hilário A Noite do Jogo, comédia imprópria e violenta, protagonizada por Rachel McAdams e Jason Bateman. Agora, é uma incrível história real que ganha os holofotes como ideia para uma espirituosa produção, igualmente recheada com um elenco de peso.
Crítica | A Noite do Jogo – Hilária comédia para maiores com Jason Bateman e Rachel McAdams
Baseado no artigo do Wall Street Journal intitulado ‘It Takes Planning, Caution to Avoid Being It’, de Russell Adams, o filme transcreve para o cinema uma brincadeira de pique-pega (ou pega-pega) – tag no original –, entre um grupo de amigos, que já dura décadas. Da infância direto para a vida adulta, uma vez por ano (sempre no mês de maio), a mesma turma se reúne para dar seguimento ao jogo, mesmo que para isso precisem formular os mais elaborados esquemas a fim de “pegar” o próximo integrante.
Ao contrário de A Noite do Jogo, que até conta com um roteiro elaborado, mesclando na mistura o gênero do suspense – onde nada é o que parece – o maior desafio do texto de Te Peguei! era tornar interessante um fiapo de ideia como a matéria prima de tal artigo. Para a surpresa, os realizadores fazem esta gimmick funcionar e bem. Utilizando artifícios do nonsense e do escracho, o filme cria uma sucessão incansável de tentativas de humor. A maioria funciona. Mas o passo além precisava ser dado para criar o mínimo de identificação. O que igualmente conseguem atingir.
O roteiro de Te Peguei! consegue criar personagens bem delineados, relações críveis e até mesmo – pasmem – cenas emotivas no meio de toda esta loucura. Assim como ocorre em A Noite do Jogo, em certos trechos não sabemos muito bem no que acreditar, no que pode ser real ou fraude, mesmo que aqui qualquer teor um pouco mais sombrio passe bem longe. Não existe nada em Te Peguei! que possa elevar a censura.
Se formos apontar outro gênero adicionado no filme, por incrível que possa parecer, ele seria o drama. Tema de muitos filmes do tipo, a amizade trazida da infância não cansa de ser reforçada como item indispensável em nossa formação de caráter, que diz muito de quem fomos e somos. No fim das contas, a brincadeira termina sendo apenas a ponte que une estas pessoas, cujas vidas se afastaram, moram em cidades diferentes e precisam constantemente ser lembrados do que verdadeiramente importa, acima de sucesso, carreira e qualquer sentimento egoísta.
Ed Helms, Jon Hamm, Jake Johnson e Hannibal Buress são os velhos amigos, cujo pega-pega ultrapassa todos os limites. Na brincadeira, o alvo da turma é Jerry, papel de Jeremy Renner, o amigo que nunca foi pego e segue invicto há décadas. O sujeito é bom no que faz e elabora os mais inacreditáveis planos para constantemente escapar das investidas da turma. E acredite, este grupo vai até as últimas consequências para dar continuidade a tal jogo – rendendo algumas das gags mais engraçadas do longa.
A direção fica por conta de Jeff Tomisc, saído de séries de comédia, estreando no cinema com o pé direito. O cineasta cria um bom ritmo narrativo, confeccionando momentos de apelo visual – como quando o personagem de Renner antevê as ações dos colegas, narrando suas previsões para o resultado. O elenco conta ainda com Isla Fisher, Leslie Bibb, Annabelle Wallis e Rashida Jones, variando em níveis de carisma e graciosidade.
Comédia é muito difícil de fazer. E quando dá certo, é preciso reconhecimento. Em sua maioria, este tipo de filme é medido de uma forma: é engraçado ou não. E aqui, a coisa funciona o suficiente, mesmo que nem tudo acerte o alvo. Por comparação, é só voltarmos para o início do ano e lembrar do sofrível Correndo Atrás de um Pai, com o mesmo Ed Helms, para compreender a diferença. O trecho final é verdadeiramente caloroso e pode te fazer refletir um pouco sobre sua própria vida. O que é mais do que podemos dizer da maioria dos filmes do gênero.