domingo , 17 novembro , 2024

Crítica TIFF | Meu Nome é Dolemite – A redenção de Eddie Murphy

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Filme Assistido durante o Festival de Toronto 2019

Irreverência, carisma e improviso sempre foram algumas das mais fortes características de Eddie Murphy. De raciocínio rápido, ele percorre por frases de efeito cômicas como quem se sente à vontade, como quem absorve o mundo ao seu redor e sabe transformá-lo em uma boa piada. Sua percepção caricata do mundo nos presenteou com clássicos modernos como Um Tira da Pesada e Um Príncipe em Nova York. Sua postura unapologetic o consagrou como um dos ícones do humor oitentista.

E mais de 30 anos depois da sua fagulha instantânea de encanto com o público ele está de volta, rompendo com o silêncio de pouco mais de uma década de fracas performances, nos lembrando o porquê nos apaixonamos por ele no auge de sua juventude. Saindo de um hiato em direção à pré-lista de indicados às grandes premiações de 2020, Murphy faz de Meu Nome é Dolemite a redenção de um gênio que jamais deveria ter se afastado de sua primorosa essência.



Dolemite é uma figura caricata por natureza. Extravagante e bocudo, ele é a personificação hiperbólica da comunidade afro-americana. Com suas frases cheias de palavrões, muita vulgaridade em sua linguagem comunicativa e uma completa sensação de grandiosidade, o personagem é também o retrato humorístico de seu próprio povo e de suas histórias familiares. Representando a negritude com um humor que funciona mesmo, o sketch criado por Rudy Ray Moore se tornou maior que a própria vida, sendo imortalizado como a resposta para a falta de representatividade cultural e artística na indústria cinematográfica no auge dos anos 70. E aqui, na obra dirigida por Craig Brewer, esse sentimento de pertencimento social, racial e cultural são resgatados e abordados, a partir de uma trama inspiradora que apresenta um dos mais emblemáticos personagens do gênero Blaxploitation para gerações que sequer estavam vivas à sua época para desfrutar de seu sucesso e crescimento.

Com uma estética colorida e que explora as padronagens, texturas e tecidos mais comuns da moda setentista, Meu Nome é Dolemite é completo em sua totalidade, apresentando um visual cativante desde seu design de produção aos figurinos, que enaltecem a beleza negra em tons fortes e chamativos. Trazendo Murphy como o frontman de toda essa plasticidade, ele caminha com passos ritmados como se sempre estivesse dançando, usa uma bengala estratégica para garantir o seu mojo e traja chapéus performáticos e que acrescentam um vigor diferente à caricatura de seu personagem.

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Visivelmente acima do peso, ele nunca esteve tão confortável em sua própria pele, não tem medo de suas curvas acentuadas e ainda consegue extrair um certo charme de sua barriga saliente, se despindo – literalmente – diante do público, como quem está disposto a encarar toda a irreverência de Dolemite. Com uma postura impecável, sua persona valoriza ainda mais toda a estética da produção, fazendo da comédia original da Netflix um espetáculo que compete em nível de igualdade com tantas outras produções apresentadas no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2019.

Recriando algumas das cenas mais inusitadas do primeiro Dolemite, a cinebiografia é categórica e fez seu dever de casa, copiando quadro a quadro as tomadas, estabelecendo os mesmos figurinos usados na produção, à medida que também mostra os bastidores de um longa de baixíssimo orçamento, onde a falta de estrutura e conhecimento técnico imperavam. Com uma mensagem otimista e inspiradora, Meu Nome é Dolemite ainda instiga os sonhadores peculiares, que almejam carreiras suntuosas de tão difíceis de serem alcançadas. Divertido e envolvente, o longa ainda traz uma série de personagens coadjuvantes que ajudam a ditar o humor e o soul da produção, tornando-a uma bela homenagem ao gênero Blaxploitation, conforme também se torna um deleite ao público negro, que ainda peleja em se ver representado nos cinemas.

Bem dirigido, o filme ainda conta com um roteiro pontual, que aborda apenas o início da jornada de sucesso de Dolemite, instigando a audiência mais alheia à sua história a descobrir a fundo sua extensa trajetória cinematográfica, bem como o que fez com que ele se transformasse em um ícone capaz de conquistar públicos das mais diversas raças.

Roteirizado por Scott Alexander e Larry Karaszewiski (autores de outra produção cultuada no mesmo estilo: Ed Wood, de Tim Burton), Meu Nome é Dolemite segue com uma narrativa linear simples, o que de maneira alguma impacta em seu poder narrativo. Trazendo todos de forma instantânea, o longa nos leva pelo ritmo da belíssima atuação de Eddie Murphy – que retoma sua essência humorística com maestria, fazendo suspirar por seu tão aguardado e caricato retorno. Com uma trilha sonora que vai a fundo na funky music dos anos 70, sob uma plasticidade que explora as cores e estilos vivos do período, Meu Nome é Dolemite ainda promete se destacar nas grandes premiações no ano seguinte, com honrarias dignas. E se ainda assim sua indicação ao Oscar não vier, Murphy pelo menos inicia 2020 com uma bela indicação ao Globo de Ouro. Amém?! Amém baby!

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E mais de 30 anos depois da sua fagulha instantânea de encanto com o público ele está de volta, rompendo com o silêncio de pouco mais de uma década de fracas performances, nos lembrando o porquê nos apaixonamos por ele no auge de sua juventude. Saindo de um hiato em direção à pré-lista de indicados às grandes premiações de 2020, Murphy faz de Meu Nome é Dolemite a redenção de um gênio que jamais deveria ter se afastado de sua primorosa essência.

Dolemite é uma figura caricata por natureza. Extravagante e bocudo, ele é a personificação hiperbólica da comunidade afro-americana. Com suas frases cheias de palavrões, muita vulgaridade em sua linguagem comunicativa e uma completa sensação de grandiosidade, o personagem é também o retrato humorístico de seu próprio povo e de suas histórias familiares. Representando a negritude com um humor que funciona mesmo, o sketch criado por Rudy Ray Moore se tornou maior que a própria vida, sendo imortalizado como a resposta para a falta de representatividade cultural e artística na indústria cinematográfica no auge dos anos 70. E aqui, na obra dirigida por Craig Brewer, esse sentimento de pertencimento social, racial e cultural são resgatados e abordados, a partir de uma trama inspiradora que apresenta um dos mais emblemáticos personagens do gênero Blaxploitation para gerações que sequer estavam vivas à sua época para desfrutar de seu sucesso e crescimento.

Com uma estética colorida e que explora as padronagens, texturas e tecidos mais comuns da moda setentista, Meu Nome é Dolemite é completo em sua totalidade, apresentando um visual cativante desde seu design de produção aos figurinos, que enaltecem a beleza negra em tons fortes e chamativos. Trazendo Murphy como o frontman de toda essa plasticidade, ele caminha com passos ritmados como se sempre estivesse dançando, usa uma bengala estratégica para garantir o seu mojo e traja chapéus performáticos e que acrescentam um vigor diferente à caricatura de seu personagem.

Visivelmente acima do peso, ele nunca esteve tão confortável em sua própria pele, não tem medo de suas curvas acentuadas e ainda consegue extrair um certo charme de sua barriga saliente, se despindo – literalmente – diante do público, como quem está disposto a encarar toda a irreverência de Dolemite. Com uma postura impecável, sua persona valoriza ainda mais toda a estética da produção, fazendo da comédia original da Netflix um espetáculo que compete em nível de igualdade com tantas outras produções apresentadas no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2019.

Recriando algumas das cenas mais inusitadas do primeiro Dolemite, a cinebiografia é categórica e fez seu dever de casa, copiando quadro a quadro as tomadas, estabelecendo os mesmos figurinos usados na produção, à medida que também mostra os bastidores de um longa de baixíssimo orçamento, onde a falta de estrutura e conhecimento técnico imperavam. Com uma mensagem otimista e inspiradora, Meu Nome é Dolemite ainda instiga os sonhadores peculiares, que almejam carreiras suntuosas de tão difíceis de serem alcançadas. Divertido e envolvente, o longa ainda traz uma série de personagens coadjuvantes que ajudam a ditar o humor e o soul da produção, tornando-a uma bela homenagem ao gênero Blaxploitation, conforme também se torna um deleite ao público negro, que ainda peleja em se ver representado nos cinemas.

Bem dirigido, o filme ainda conta com um roteiro pontual, que aborda apenas o início da jornada de sucesso de Dolemite, instigando a audiência mais alheia à sua história a descobrir a fundo sua extensa trajetória cinematográfica, bem como o que fez com que ele se transformasse em um ícone capaz de conquistar públicos das mais diversas raças.

Roteirizado por Scott Alexander e Larry Karaszewiski (autores de outra produção cultuada no mesmo estilo: Ed Wood, de Tim Burton), Meu Nome é Dolemite segue com uma narrativa linear simples, o que de maneira alguma impacta em seu poder narrativo. Trazendo todos de forma instantânea, o longa nos leva pelo ritmo da belíssima atuação de Eddie Murphy – que retoma sua essência humorística com maestria, fazendo suspirar por seu tão aguardado e caricato retorno. Com uma trilha sonora que vai a fundo na funky music dos anos 70, sob uma plasticidade que explora as cores e estilos vivos do período, Meu Nome é Dolemite ainda promete se destacar nas grandes premiações no ano seguinte, com honrarias dignas. E se ainda assim sua indicação ao Oscar não vier, Murphy pelo menos inicia 2020 com uma bela indicação ao Globo de Ouro. Amém?! Amém baby!

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