quinta-feira , 14 novembro , 2024

Crítica | Treta: Série da A24 para a Netflix é uma excelente combinação entre drama e comédia

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Um retrato genuíno e hiperbólico da sociedade contemporânea, Treta é a consumação máxima da frustração humana em seus extremos. Entre a pobreza e a riqueza, a carreira que deu certo e a vida na malandragem e entre trambiques e negociações milionárias, a série original da A24 para a Netflix é uma profunda e caótica análise de personagem que mostra homens e mulheres em seu estado mais primitivo. E com as emoções à flor da pele, diante das circunstâncias mais adversas, dois estranhos que se cruzam no trânsito se tornam algozes um do outro, fazendo de uma fechada em um estacionamento de uma loja de departamento em uma jornada infindável de vinganças desmedidas e ira dilacerada.

Em alguns momentos até fazendo uma analogia ao animalesco, Treta é um relato cru sobre a psique em seu limite. Mostrando duas extremidades da esfera social – uma empresária talentosa prestes a fechar um acordo milionário e um homem que cresceu em meio à miséria e falta de oportunidades -, a série criada por Lee Sung Jin é uma tempestade perfeita e constrói visualmente o encontro entre um tornado e um furacão. Sempre trazendo à tona a fúria de duas pessoas emocional e profissionalmente frustradas, a original Netflix ainda consegue unir drama e comédia conforme passeia em meio a questionamentos existenciais reais e o humor nascido do inesperado.



Imprevisível a cada episódio, Treta é capaz de nos surpreender de forma crescente, suprindo nossas expectativas não apenas em relação aos personagens, mas também em relação à própria trama. Com Ali Wong e Steven Yeun em performances arrebatadoras, a produção mostra novas facetas de ambos os atores, evidenciando a versatilidade em suas atuações e a capacidade de oscilar em um cenário tragicômico. Estampando uma profundidade inigualável, os dois brilham com vigor e autenticidade e fazem da série uma união impecável entre um roteiro afiado, direção autoral e atuações hipnotizantes.



Com uma estética conceitual que emana a essência criativa da produtora A24, Treta ainda conta com uma direção habilidosa, que hora revela a beleza árida das regiões desérticas da Califórnia, hora favorece as luzes artificiais em contraste com ambientes que exalam a cultura Yuppie. E salpicando temáticas mais sérias como maldição hereditária, infidelidade e porte de armas, a original Netflix é feita de personagens falhos, imperfeitos e muitas vezes difíceis de digerir. Mas mesmo correndo o risco de não serem carismáticos o bastante, Amy (Wong) e Danny (Yeun) nos cativam em suas frustrações e tristezas, à medida em que nos fazem identificar com suas falhas morais, egocentrismo e egoísmo. Tudo isso se dá ao poderoso roteiro de Sung Jin, que muito mais do que humanizar a feiura que naturalmente nos faz torcer o nariz, nos convida a refletir sobre as próprias sombras que carregamos em nós.

E em 10 episódios curtos, dinamismo, suspense e caos sociocultural ganham vida diante das telas, em uma trama progressiva que nos tira o fôlego a cada episódio. Com uma trilha sonora adaptada bem noventista, Treta é uma vitrine de performances dignas de Emmy Awards, uma aula de originalidade e escrita criativa e um banquete de reviravoltas que nos revelam que nada é tão ruim que não possa piorar. Encapsulando o comportamento contemporâneo de insatisfação que rege a sociedade e que transcende raça e status social/ financeiro, essa é mais uma das riquezas que só a A24 tem a ousadia de nos presentear.

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Em alguns momentos até fazendo uma analogia ao animalesco, Treta é um relato cru sobre a psique em seu limite. Mostrando duas extremidades da esfera social – uma empresária talentosa prestes a fechar um acordo milionário e um homem que cresceu em meio à miséria e falta de oportunidades -, a série criada por Lee Sung Jin é uma tempestade perfeita e constrói visualmente o encontro entre um tornado e um furacão. Sempre trazendo à tona a fúria de duas pessoas emocional e profissionalmente frustradas, a original Netflix ainda consegue unir drama e comédia conforme passeia em meio a questionamentos existenciais reais e o humor nascido do inesperado.

Imprevisível a cada episódio, Treta é capaz de nos surpreender de forma crescente, suprindo nossas expectativas não apenas em relação aos personagens, mas também em relação à própria trama. Com Ali Wong e Steven Yeun em performances arrebatadoras, a produção mostra novas facetas de ambos os atores, evidenciando a versatilidade em suas atuações e a capacidade de oscilar em um cenário tragicômico. Estampando uma profundidade inigualável, os dois brilham com vigor e autenticidade e fazem da série uma união impecável entre um roteiro afiado, direção autoral e atuações hipnotizantes.

Com uma estética conceitual que emana a essência criativa da produtora A24, Treta ainda conta com uma direção habilidosa, que hora revela a beleza árida das regiões desérticas da Califórnia, hora favorece as luzes artificiais em contraste com ambientes que exalam a cultura Yuppie. E salpicando temáticas mais sérias como maldição hereditária, infidelidade e porte de armas, a original Netflix é feita de personagens falhos, imperfeitos e muitas vezes difíceis de digerir. Mas mesmo correndo o risco de não serem carismáticos o bastante, Amy (Wong) e Danny (Yeun) nos cativam em suas frustrações e tristezas, à medida em que nos fazem identificar com suas falhas morais, egocentrismo e egoísmo. Tudo isso se dá ao poderoso roteiro de Sung Jin, que muito mais do que humanizar a feiura que naturalmente nos faz torcer o nariz, nos convida a refletir sobre as próprias sombras que carregamos em nós.

E em 10 episódios curtos, dinamismo, suspense e caos sociocultural ganham vida diante das telas, em uma trama progressiva que nos tira o fôlego a cada episódio. Com uma trilha sonora adaptada bem noventista, Treta é uma vitrine de performances dignas de Emmy Awards, uma aula de originalidade e escrita criativa e um banquete de reviravoltas que nos revelam que nada é tão ruim que não possa piorar. Encapsulando o comportamento contemporâneo de insatisfação que rege a sociedade e que transcende raça e status social/ financeiro, essa é mais uma das riquezas que só a A24 tem a ousadia de nos presentear.

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