sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | Trilha sonora de ‘Nasce Uma Estrela’ traz o melhor de Lady Gaga à tona

Depois de se aventurar pelo pop, pelo electro-rock, pela música eletrônica, pelo jazz e pelo country, Lady Gaga se olhou no espelho e decidiu que estava na hora de voltar a conquistar um antigo sonho: o de conquistar o mundo da atuação.

É claro que a titânica performer nunca deixou de imprimir traços do cinema e da televisão em seus aclamados videoclipes e em suas centenas de apresentações ao redor do mundo – é só observarmos a competência emocional que ela traz para “Marry the Night” ou seu apreço pelo macabro e pelo bizarro em “Applause”. Até mesmo no subestimado “John Wayne” ela mostrava seu interesse por atuar e, depois de algumas aparições em filmes e documentários, ela entregou-se ao elogiado e premiado papel da Condessa na quinta temporada de ‘American Horror Story’ antes de, em 2018, voltar a conquistar o mundo na aclamada interpretação de Ally Maine no remake de ‘Nasce Uma Estrela’. Quebrando recordes e fazendo história mais uma vez, nada seria mais justo que um papel musical para sua estreia protagonista nas telonas – e o sucesso da trilha sonora homônima do longa-metragem mostra que, mesmo com altos e baixos, Gaga nunca foi passada para trás por absolutamente ninguém.

O compilado de músicas originais não apenas fez um sucesso comercial estrondoso, tornando-se uma das trilhas sonoras mais rentáveis do século e garantindo à Gaga mais um #1 nas paradas mundiais, como também caiu no gosto da crítica e dos membros da Academia Fonográfica, conquistando quatro estatuetas do Grammy, um Oscar, um BAFTA, dois Critics’ Choice Awards e dúzias de outros prêmios. E não é por menos: a artista, aliando-se às habilidades irretocáveis de Bradley Cooper, continuou provando ser uma das personas mais versáteis da história, desmistificando sua aparência e apostando em algo que poderia recair no blasé estético, mas que explodiu de modo irreverente, crítico e sensível pelos quatro cantos do planeta.

Cooper, que deu vida ao decadente astro da música Jackson Maine, surpreendeu a todos com sua voz rouca e grave, bem como um domínio sonoro de causar inveja em qualquer um. Ele é a voz por trás das maravilhosas “Black Eyes” e “Alibi”, além de investir no amadorismo estreante de Ally e seu domínio teatral que lhe chama a atenção desde as breves incursões de “Somewhere Over the Rainbow” até a rendição aplaudível de “La Vie En Rose”, encarnando Edith Piaf como ninguém. Como se não bastasse, o ator assinou vários versos e ficou encarregado da produção executiva de boa parte das faixas, sempre guiado pela veterana da música que sabia muito bem o que estava fazendo desde o momento em que o público e os ouvintes foram transportados para os espetaculares shows do longa.

A dupla desfruta de uma paixão pelo que faz que transparece em cada nota, cada crescendo e cada falsetto que compartilham nas faixas. O carro-chefe da soundtrack, “Shallow”, é até hoje aclamada pelos críticos internacionais e continua a colher frutos de sua ovação, estendendo o recorde de prêmios e mantendo-se sólida no patamar de música mais premiada de todos os tempos. A composição, assinada por Gaga e por seu frequente colaborador, Mark Ronson, traz uma lírica elegíaca e evocativa, pincelada com explorações temáticas sobre depressão, confiança e relacionamentos. É notável a forma como a camaleônica artista abriu espaço para o country e para o folk e afastou-se de todos os alter-egos utilizados em eras anteriores, quebrando os paradigmas que a cruel mídia engessava sobre sua imagem e criando ainda outra construção que se tornou aliada dos fãs pela simplicidade e pela assertiva humildade.

Eventualmente, é Gaga quem rouba os holofotes, não apenas pela canção supracitada, mas por todos os outros momentos em que apodera-se de um piano e cria mágica como mais ninguém. É claro que já havia trabalhado com melódicas baladas anteriormente, como é o caso de “Speechless” e “Dope”, e esse apreço pelo instrumento permitiu que ela colocasse todos os seus sentimentos em uma poética jornada de ascensão e queda, de romance e ódio, de fervor e de calmaria. “Always Remember Us This Way”, uma de tantas belíssimas tracks do álbum, carrega inspirações de Elton John e de Martina McBride, reafirmando o panorama country que rege essa aventura sinestésica e tocante; “Look What I Found”, que traz o blues rock à tona, merecia mais reconhecimento por ser, simplesmente, uma das melhores músicas da década passada; e, fechando com chave de ouro, temos a trágica e estonteante epopeia “I’ll Never Love Again”.

De um lado, temos a profundidade de letras atemporais e que se tornaram clássicos instantâneos da indústria do entretenimento; de outro, temos as duras críticas que Gaga, Cooper e um time de competentes musicistas fazem à modelagem do cenário pop com a propositalmente superficial “Why Did You Do That?”, que cumpre com o que esperamos de uma música assim; temos o divertido synth-pop “Hair Body Face” e até mesmo a repetitiva semi-balada “Heal Me” – com as três demonstrando uma capacidade inigualável de compactuar com as melodias conhecidas do country e do americana.

A trilha sonora de ‘Nasce Uma Estrela’ é um fenômeno anômalo quando pensamos no cenário cinematográfico. Despontando como o álbum mais premiado desse gênero e conquistando as mais diversas gerações desde o seu lançamento até os dias de hoje, são poucas as produções que conseguiram o feito que esta – e poucas que irão conseguir nas próximas décadas.

Não deixe de assistir:

Nota por faixa:

1. Black Eyes – 5/5
2. La Vie En Rose – 5/5
3. Maybe It’s Time – 4,5/5
4. Out of Time – 5/5
5. Alibi – 5/5
6. Shallow – 5/5
7. Music To My Eyes – 4,5/5
8. Diggin’ My Grave – 5/5
9. Always Remember Us This Way – 5/5
10. Look What I Found – 5/5
11. Heal Me – 4/5
12. I Don’t Know What Love Is – 4,5/5
13. Is That Alright? – 5/5
14. Why Did You Do That? – 4/5
15. Hair Body Face – 4,5/5
16. Before I Cry – 5/5
17. Too Far Gone – 4,5/5
18. I’ll Never Love Again (Extended Version) – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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