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Crítica 2 | ‘Truque de Mestre: O 3º Ato’ se mantém fiel à identidade da franquia em uma divertida e despojada aventura


Atenção: crítica livre de spoilers.

Em 2013, Louis Leterrier deu vida a um dos filmes mais divertidos da década passada com Truque de Mestre – uma remodelação das clássicas histórias de roubo que trouxe quatro mágicos bastante habilidosos ao centro dos holofotes. Guiados pelas diretrizes de uma organização conhecida como O Olho, o time de ladrões é responsável por trazer um pouco mais de justiça a um mundo marcado pela desigualdade. O sucesso do projeto culminou em uma sequência dirigida por Jon M. Chu e que chegou aos cinemas em 2016, alcançando uma bilheteria muito parecida e que já lançava possíveis futuros para essa despojada franquia cinematográfica.

Agora, Ruben Fleischer, conhecido por seu trabalho em Zumbilândia, nos convida a revisitar esse mundo com o antecipadíssimo Truque de Mestre: O 3º Ato’ – que, mesmo apostando em algumas repetições para se manter fiel à identidade dos outros filmes, funciona dentro do esperado e insurge como um bom escape cinematográfico que não ousa e nem quer entregar mais do que consegue. Fomentando um encontro entre duas gerações e garantindo um aproveitamento máximo de personagens-legado, o terceiro capítulo dessa envolvente saga funciona dentro dos próprios limites ao deixar que um elenco estelar brilhe sem muitos problemas.



Dez anos após o último golpe dos Quatro Cavaleiros, uma nova geração de mágicos usa e abusa da tecnologia para expandir o legado de seus ídolos: Charlie (Justice Smith), Bosco Leroy (Dominic Sessa) e June (Ariana Greenblatt), um trio de ladrões amadores que utiliza a imagem eternizada dos Cavaleiros para realizar seus roubos. Após seu mais recente espetáculo, Charlie, Bosco e June recebem a visita inesperada de J. Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), que é contatado pelo próprio Olho para recrutá-los em uma missão perigosa: roubar O Coração, o maior diamante do mundo, que está sob posse da predatória bilionária Veronika Vanderberg (Rosamund Pike) – cuja companhia está lavando dinheiro para terroristas ao redor do mundo. Dessa forma, cabe aos mágicos roubar o diamante e expor as mentiras que Veronika está escondendo por trás de uma fachada benevolente e charmosa.

Porém, o quarteto não está sozinho nessa empreitada: durante um evento privativo na Bélgica, eles conseguem roubar o Coração e são auxiliados pelos outros membros da formação original do grupo – Merritt McKinney (Woody Harrelson), Jack Wilder (Dave Franco) e Henley Reeves (Isla Fisher) -, que os guiam para uma mansão no interior da França, sendo recepcionados por ninguém menos que Thaddeus Bradley (Morgan Freeman). Unidos mais uma vez para o golpe do século, o grupo precisa navegar por uma caçada contra o tempo e lutar pela sobrevivência à medida que se tornam alvo de um dos nomes mais poderosos do planeta – e que sairá vitoriosa, não importa quem tenha que destruir pelo caminho.

Ao longo de sua carreira, Fleischer mostrou várias vezes que sabe como brincar com o humor mesmo em narrativas que, na essência, não são cômicas. Seja com Zumbilândia, Venom ou Uncharted, o diretor fez o possível para construir ritmo e dinamismo mesmo com histórias convencionais e familiares – e, aqui, isso não seria diferente. Afinal, é notável como a franquia Truque de Mestre encontrou a “galinha dos ovos de ouro” em um cosmos que traz diversas referências a clássicos do gênero à medida que expande sua própria mitologia em uma absurdez que, mesmo impalpável, é aprazível o suficiente para nos satisfazer. E, através de quase duas horas, Fleischer faz o que pode para nos manter vidrados e investir nos pontos fortes em vez de almejar a algo fora de alcance.

O roteiro, assinado a quatro pares de mãos, por vezes se rende ao exagero e abre espaço para tramas demais para serem aproveitadas como merecem, Fleischer acerta em cheio ao garantir que os personagens sejam o centro da nossa atenção – e faz isso ao promover o retorno de todo o elenco original, incluindo Fisher, que faz uma gloriosa reaparição como Henley e mostra que, às vezes, jogar com as cartas que conhecemos é a melhor sacada. Enquanto o restante dos veteranos faz um sólido trabalho – incluindo Lizzy Caplan, que regressa como Lula May pouco antes do terceiro ato -, Smith, Sessa e Greenblatt tem espaço de sobra para brilharem; e Pike, já tendo reiterado sua versatilidade performática incontáveis vezes, diverte-se na propositalmente caricata atuação como Veronika, trazendo referências às vilãs dos anos 1990 da televisão e do cinema.

Apesar dos óbvios erros, Truque de Mestre: O 3º Ato’ encontra sucesso ao se manter fiel à essência da franquia e ao não desejar dar um passo maior que a perna para nos entreter. Explorando a química dos protagonistas de maneira categórica e incisiva, Fleischer mostra que a saga ainda tem histórias para contar – e prepara terreno para um já confirmado quarto capítulo que, com sorte, trará todos os personagens de volta para mais uma mágica e perigosa aventura.

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Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
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