Recém-chegado ao catálogo da Netflix, o filme Tudo Em Família chamou atenção do público por trazer Nicole Kidman e Zac Efron em uma comédia romântica dirigida por Richard LaGravenese, famoso por seu trabalho no louvado P.S. Eu Te Amo (2007). E a premissa desse longa chega no timing perfeito. Em uma época em que as fanfics estão em alta, Tudo Em Família pega a trama batida da mulher comum que se apaixona por uma celebridade e tenta brincar com ela.
E o interessante é que há momentos em que o filme consegue brincar com essas expectativas, já que conta a história da mãe de uma assistente pessoal que se acaba se apaixonando pelo assistido da filha, que é um astro de Hollywood atormentado por uma franquia interminável dos cinemas.
No que diz respeito ao casal principal, o filme é perfeito. A forma como ele retrata a paixão entre Brooke e Chris é muito competente, principalmente porque eles vão se conectando por meio da arte. Ela com a bagagem adquirida nos anos como escritora, e ele pela carreira em alta no cinema. Por conta da rotina e aspectos tóxicos de sua personalidade, o jovem astro se afastou das pessoas e acabou encontrando na autora um ar de conforto e originalidade.
Já a autora, viúva há mais de uma década, vê no rapaz de 30 e poucos anos um respiro da rotina de solidão amorosa e frustrações pelo bloqueio criativo. Seu distanciamento dos namoros, inclusive, ganha uma justificativa muito honesta ao longo da trama.
Vividos respectivamente por Nicole Kidman e Zac Efron, Brooke e Chris fazem sua própria fanfic, que se sustenta com a força dos atores. Seus personagens não são mal escritos, mas também não trazem características marcantes do texto. Eles ganham muito com a química impressionante entre os dois atores. E vale destacar que é incrível viver em um mundo no qual Zac abraçou a comédia como seu filão, em vez de se contentar em viver apenas o galãzinho que canta e dança. Isso rendeu atuações divertidíssimas do ator na carreira, e aqui é apenas mais uma delas. Ele faz diversas brincadeiras com sua própria carreira, mas de forma irônica.
Já Nicole convence como viúva frustrada, mas principalmente como mulher se permitindo a voltar a se apaixonar novamente. Dessa forma, ela constrói esse amor com o astro aos poucos, conforme vai se abrindo com o rapaz e com as pessoas ao seu redor.
O problema do filme reside em todo o arco da filha de Brooke e assistente de Chris: Zara. Interpretada por Joey King, a personagem tenta criar arcos dramáticos e se desenvolver, só que é tão chata, tão egoísta, que toda aparição sua é cansativa. Ela traz ao público seus dilemas e problemas, como toda jovem buscando seu espaço no mundo. O problema é que a história dela é chata. O romance que está sendo construído ao redor dela é muito mais interessante e instigante, fazendo dela apenas uma mimadinha sem sal.
Percebendo isso, é assustador que LaGravenese tenha optado por seguir a trama com o protagonismo da Zara. Ele até tenta equilibrar um pouco dando mais tempo de tela ao casal, mas o roteiro foi construído em torno da menina, então não tem como escapar. Isso deixa o longa com uma falta de constância muito incômoda, porque você percebe que há alguma diversão por ali, só que se vê preso àquela mala em forma de personagem. É um daqueles casos clássicos de tentativa de paródia que se perde na piada e acaba construindo um filme bem executado daquilo que tentou zoar. Se eles tivessem assumido a pegada de fanfic, talvez tivesse funcionado melhor.