sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | Um Dia de Chuva em Nova York – Filme destaca a inédita irreverência de Elle Fanning

Rodeado de polêmicas por conta da antiga e conturbada história de Woody Allen com Mia Farrow, Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day in New York) finalmente chega aos cinemas para a apreciação do público, sobretudo, pelas atuações de Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome) e Elle Fanning (Malévola: Dona do Mal). Como um casal de jovens universitários, os protagonistas brilham ao destacar o cinismo de forma carismática e contemplativa. 

Comparada às últimas obras do cineasta, seu 49º projeto possui o frescor dos artistas mais promissores desta década. Assemelha-se, no entanto, a narrativa de Allen em apresentar crônicas diárias sobre o comportamento humano e os seu desvios de caráter, sempre regadas a ironia e um pouco de sarcasmo. 

Dito isto, os apreciadores do estilo se sentirão envolvidos pela história de Gatsby Welles (Chalamet) e Ashleigh Enright (Fanning). Ele, um rebelde domesticado que nutre um desprezo pela riqueza da família e o trabalho formal, prefere fazer o seu dinheiro honestamente no pôquer. Já ela, uma bem-nascida aspirante a jornalista vinda do sudoeste dos Estados Unidos e entusiasmada com as frivolidades da vida. 

Com a trama desenvolvida em apenas um fim de semana, o enredo se constrói a partir da curta viagem do jovem casal do campus universitário no interior do Estado para a capital nova-iorquina nos anos 1960. É a primeira vez da menina na cidade grande e ela tem a maior oportunidade da sua pretensa carreira jornalística: uma entrevista com o prestigiado cineasta Roland Pollard (Liev Schreiber). 

O encontro entre Ashleigh e Pollard é o estopim para o brilhantismo de Elle Fanning, roubando todas as cenas com a sua sonhadora e insidiosa personagem. Todos os outros grandes nomes aparecem como meros coadjuvantes para a atriz de 19 anos mostrar o seu lado irreverente, jamais visto no cinema. Até agora escalada para trabalhos dramáticos e sombrios – vide Malévola (2014) e Demônio de Néon (2016), sua nova faceta é magnética aos espectadores. 

Do outro lado, embora Timothée Chalamet já tenha provado o seu talento anteriormente, o enredo não demanda muito do rapaz, entre as cenas de esnobismo às tradições e a estupefação diante das mulheres ao seu redor, sua mãe (Cherry Jones), a namorada Ashleigh e a aspirante a atriz Shannon (Selena Gomez). Obviamente, no entanto, ele constrói um personagem mais cativante e charmoso do que Bobby (Jesse Eisenberg), de Café Society (2016), e Mickey (Justin Timberlake), de Roda Gigante (2017).

Após o arrebatador trabalho fotográfico em Roda Gigante, Woody Allen continua a parceria com o três vezes ganhador Oscar Vittorio Storaro. O terceiro trabalho em conjunto é um misto de luminosidade na presença da imperativa Ashleigh e névoa na confusão do pacato Gatsby. Um jogo no qual o galã Francisco Vega (Diego Luna) e o roteirista Ted Davidoff (Jude Law) funcionam apenas como matizes na aquarela de descobrimento da jovem estudante sobre um mundo cinematográfico de egos, descaramentos e falsidades.

Como em suas última duas obras, Allen soa repetitivo ao mostrar a enganação do romance, afastando-se de suas grandes discussões antropológicas/sociológicas como em Blue Jasmine (2013), Meia-Noite em Paris (2011) e Vicky Christina Barcelona (2008). Seus diálogos continuam afiados, mas sem o esplendor de uma narrativa para além de tipos banais, os quais cruzamos diariamente nas estações de metrô. Ou seja, Um Dia de Chuva em Nova York tem seus momentos e uma nostalgia da cidade dos anos 60, mas sem sensibilizar.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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