quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Vortex – Polêmico Gaspar Noé apresenta um retrato bipartido da morte

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Polêmica à parte, Gaspar Noé é um cineasta conhecido por causar fortes emoções ao público. Em Vortex, o diretor franco-argentino abandona o lado psicodélico e abraça uma dolorosa caminhada rumo à morte.

Sem diálogos pré-estabelecidos e uma tela dividida ao meio, Vortex conta a história de um casal septuagenário pelo ponto de vista de ambos ao mesmo tempo. A evidência do cinema de Noé é a forma. Ele sempre subverte as “regras” do audiovisual para complementar a experiência do enredo. Seja quando ele corrompe a linearidade – Irreversível (2002) e Love (2015) -, seja proporcionado um ponto de vista a partir dos olhos do seu protagonista – Enter the Void (2009). 



Seu trabalho é provocar o público. Se não for para causar, Gaspar Noé nem toca na câmera. Dito isso, Vortex conta com Françoise Lebrun, musa francesa dos anos 1970, conhecida pelo filme A Mãe e a Puta (1973), e Dario Argento, cineasta maestro do horror, responsável por Suspiria (1977). Sem nomear os seus protagonistas, a história se desenrola no vagaroso cotidiano do casal. 

Cada passo dado é uma aproximação furtiva do fim. A esposa começa a esquecer das coisas, dos lugares e de si mesma. A demência impõe sua presença impiedosa para confusão de sua portadora e sofrimento dos seus pares. Já o marido tenta escrever um livro sobre sonhos, mas nunca consegue organizar seus pensamentos. Como terceiro personagem, o apartamento amontoado de objetos completa a mise-en-scène claustrofóbica. 

Por meio da tela bipartida e uma ambientação de aprisionamento, Gaspar Noé nos coloca no meio da angústia, dos sofrimentos e das sombras desse casal prestes a perder a luz de sua existência. Para compor o cenário, entra em cena o filho dos protagonistas (Alex Lutz), um dependente químico tão perdido na vida que não ajuda nem a si mesmo, nem os pais. 

Quando as cenas demandam diálogos entre os personagens, é perceptível a falta de um roteiro pré-escrito. As falas se repetem e as ideias andam em círculos. Este detalhe torna o filme mais cansativo do que deveria ser. Ao colocar tantos sentimentos sombrios em cena e optar por uma edição lenta, o diretor passa a ansiedade dos personagens ao espectador.

Como dito no início, Gaspar Noé utiliza muito mais a forma do que o texto para contar suas histórias. Se o resultado é um sentimento de apreensão e aflição pelo fim é porque o mestre da narrativa consegue colocar todos os elementos para causar essas sensações. Desse modo, Vortex emociona alguns e entendia outros.

Vortex estreou mundialmente no Festival de Cannes 2021 e está disponível na plataforma MUBI no Brasil, desde 30 de setembro de 2022.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Seu trabalho é provocar o público. Se não for para causar, Gaspar Noé nem toca na câmera. Dito isso, Vortex conta com Françoise Lebrun, musa francesa dos anos 1970, conhecida pelo filme A Mãe e a Puta (1973), e Dario Argento, cineasta maestro do horror, responsável por Suspiria (1977). Sem nomear os seus protagonistas, a história se desenrola no vagaroso cotidiano do casal. 

Cada passo dado é uma aproximação furtiva do fim. A esposa começa a esquecer das coisas, dos lugares e de si mesma. A demência impõe sua presença impiedosa para confusão de sua portadora e sofrimento dos seus pares. Já o marido tenta escrever um livro sobre sonhos, mas nunca consegue organizar seus pensamentos. Como terceiro personagem, o apartamento amontoado de objetos completa a mise-en-scène claustrofóbica. 

Por meio da tela bipartida e uma ambientação de aprisionamento, Gaspar Noé nos coloca no meio da angústia, dos sofrimentos e das sombras desse casal prestes a perder a luz de sua existência. Para compor o cenário, entra em cena o filho dos protagonistas (Alex Lutz), um dependente químico tão perdido na vida que não ajuda nem a si mesmo, nem os pais. 

Quando as cenas demandam diálogos entre os personagens, é perceptível a falta de um roteiro pré-escrito. As falas se repetem e as ideias andam em círculos. Este detalhe torna o filme mais cansativo do que deveria ser. Ao colocar tantos sentimentos sombrios em cena e optar por uma edição lenta, o diretor passa a ansiedade dos personagens ao espectador.

Como dito no início, Gaspar Noé utiliza muito mais a forma do que o texto para contar suas histórias. Se o resultado é um sentimento de apreensão e aflição pelo fim é porque o mestre da narrativa consegue colocar todos os elementos para causar essas sensações. Desse modo, Vortex emociona alguns e entendia outros.

Vortex estreou mundialmente no Festival de Cannes 2021 e está disponível na plataforma MUBI no Brasil, desde 30 de setembro de 2022.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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