sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | Whitney: Documentário abre a caixa de Pandora de uma das cantoras mais emblemáticas

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Publicamente, todas as fases da emblemática cantora Whitney Houston foram vividas diante dos olhos do público. De seus 16 anos em esporádicas e pequenas apresentações ao lado da mãe, para o seu estrondoso estrelato aos 20 anos – em 1983, cada fragmento fora capturado em câmera. E com a ascensão dos paparazzi, tabloides e da mídia sensacionalista, dividimos nosso tempo entre seus hits inesquecíveis e suas escorregadas cercadas por sua família e, mais do que todos, Bobby Brown.



Mas ainda como um enigma que todos juram ter desvendado, a história da artista vai além de todos os factoides veiculados. E como alguém que conseguiu a chave dessa caixa de pandora, o cineasta vencedor do Oscar, Kevin Macdonald, traz às telas todos os estilhaços não compilados, com conteúdos inéditos, vídeos familiares até então selados e entrevista cruas, honestas e puras de todos que passaram por sua vida. Whitney é o documentário definitivo que cancela a pavorosa cinebiografia Whitney (2015) e explica – de uma vez por todas – o que de fato aconteceu com a dona de uma das vozes mais poderosas que já cantou no mundo.

Reunindo familiares, amigos de longa data, empresários e demais funcionários que conviviam com a cantora em uma rotina diária, Whitney faz um trabalho quase investigativo, se esgueirando pelas frestas da intimidade da personalidade em questão. Conseguindo o passe para o backstage do palco de sua vida, desvenda todo o mistério cercado pelos excessos e explosões que se tornaram tão comuns para a artista desde tão cedo. Refutando as exaustivas argumentações dos tabloides que dilaceraram os vícios de Houston em fotos pavorosas, o documentário vai na raiz do problema, iniciando sua jornada de maneira inofensiva, como quem gostaria de apenas divagar sobre os alcances vocais da estrela POP.

E conforme caminha pelos seu passado com um forte berço musical impresso em sua mãe, tia e primas, o filme revela detalhes inescrutáveis sobre sua vida pessoal, os abusos sexuais sofridos por parte de sua própria prima, a cantora Dee Dee Warwick, traumas de infância e sua fluidez sexual, que a levaram a um relacionamento duradouro com Robyn Crawford. A doentia dinâmica familiar de Whitney é exposta corajosamente, com seus familiares finalmente admitindo seus erros em virtude do deslumbramento com o sucesso quase meteórico da cantora, a negligência de todos os seus pares com seus vícios em crack, cocaína e maconha e o abandono de uma menor, com a pequena filha da cantora vivendo a Deus dará, se criando por conta própria (o que a levou a morte em 2015, aos 22 anos de idade).

Todas as rachaduras encobertas ficam à mostra, à medida que o documentário faz um paralelo excepcional entre o impacto sócio cultural de Whitney e as inúmeras transformações sócio políticas dos Estados Unidos. Com muito mais do que uma simples cantora Mezzo-soprano Dramático, a produção a apresenta como uma força para a comunidade negra, como a voz representativa desta parcela da sociedade. Vista como um ícone de projeções fundamentais para o fortalecimento dos afro norte americanos, ela já se portava como um símbolo e dizia, ainda em 1992 – na pré-estreia de O Guarda-Costas – o valor de ser “uma mulher negra em um papel de importância”. E rompendo barreiras econômicas e raciais, ela foi – em seu primeiro filme – a negra bem sucedida e rica, chefe de um homem branco, por quem se apaixona.

Fazendo analogias fundamentais que constroem o arquétipo de Whitney Houston, o documentário traz um material riquíssimo, em uma narrativa que não se desenvolve de maneira tradicional e que é capaz de manter um sincronismo surpreendente, deixando de lado a ordem cronológica dos fatos – para culmina-los com maestria no final. Cativante e doloroso, Whitney é também um retrato genuíno sobre a artista, nos constrange por termos sido espectadores de um espetáculo brutal de piadas que satirizaram seus doentios vícios e conseguiu, mais do que nunca, imortalizar a voz que se calara com sua morte, em 11 de fevereiro de 2012.

 

 

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Publicamente, todas as fases da emblemática cantora Whitney Houston foram vividas diante dos olhos do público. De seus 16 anos em esporádicas e pequenas apresentações ao lado da mãe, para o seu estrondoso estrelato aos 20 anos – em 1983, cada fragmento fora capturado em câmera. E com a ascensão dos paparazzi, tabloides e da mídia sensacionalista, dividimos nosso tempo entre seus hits inesquecíveis e suas escorregadas cercadas por sua família e, mais do que todos, Bobby Brown.

Mas ainda como um enigma que todos juram ter desvendado, a história da artista vai além de todos os factoides veiculados. E como alguém que conseguiu a chave dessa caixa de pandora, o cineasta vencedor do Oscar, Kevin Macdonald, traz às telas todos os estilhaços não compilados, com conteúdos inéditos, vídeos familiares até então selados e entrevista cruas, honestas e puras de todos que passaram por sua vida. Whitney é o documentário definitivo que cancela a pavorosa cinebiografia Whitney (2015) e explica – de uma vez por todas – o que de fato aconteceu com a dona de uma das vozes mais poderosas que já cantou no mundo.

Reunindo familiares, amigos de longa data, empresários e demais funcionários que conviviam com a cantora em uma rotina diária, Whitney faz um trabalho quase investigativo, se esgueirando pelas frestas da intimidade da personalidade em questão. Conseguindo o passe para o backstage do palco de sua vida, desvenda todo o mistério cercado pelos excessos e explosões que se tornaram tão comuns para a artista desde tão cedo. Refutando as exaustivas argumentações dos tabloides que dilaceraram os vícios de Houston em fotos pavorosas, o documentário vai na raiz do problema, iniciando sua jornada de maneira inofensiva, como quem gostaria de apenas divagar sobre os alcances vocais da estrela POP.

E conforme caminha pelos seu passado com um forte berço musical impresso em sua mãe, tia e primas, o filme revela detalhes inescrutáveis sobre sua vida pessoal, os abusos sexuais sofridos por parte de sua própria prima, a cantora Dee Dee Warwick, traumas de infância e sua fluidez sexual, que a levaram a um relacionamento duradouro com Robyn Crawford. A doentia dinâmica familiar de Whitney é exposta corajosamente, com seus familiares finalmente admitindo seus erros em virtude do deslumbramento com o sucesso quase meteórico da cantora, a negligência de todos os seus pares com seus vícios em crack, cocaína e maconha e o abandono de uma menor, com a pequena filha da cantora vivendo a Deus dará, se criando por conta própria (o que a levou a morte em 2015, aos 22 anos de idade).

Todas as rachaduras encobertas ficam à mostra, à medida que o documentário faz um paralelo excepcional entre o impacto sócio cultural de Whitney e as inúmeras transformações sócio políticas dos Estados Unidos. Com muito mais do que uma simples cantora Mezzo-soprano Dramático, a produção a apresenta como uma força para a comunidade negra, como a voz representativa desta parcela da sociedade. Vista como um ícone de projeções fundamentais para o fortalecimento dos afro norte americanos, ela já se portava como um símbolo e dizia, ainda em 1992 – na pré-estreia de O Guarda-Costas – o valor de ser “uma mulher negra em um papel de importância”. E rompendo barreiras econômicas e raciais, ela foi – em seu primeiro filme – a negra bem sucedida e rica, chefe de um homem branco, por quem se apaixona.

Fazendo analogias fundamentais que constroem o arquétipo de Whitney Houston, o documentário traz um material riquíssimo, em uma narrativa que não se desenvolve de maneira tradicional e que é capaz de manter um sincronismo surpreendente, deixando de lado a ordem cronológica dos fatos – para culmina-los com maestria no final. Cativante e doloroso, Whitney é também um retrato genuíno sobre a artista, nos constrange por termos sido espectadores de um espetáculo brutal de piadas que satirizaram seus doentios vícios e conseguiu, mais do que nunca, imortalizar a voz que se calara com sua morte, em 11 de fevereiro de 2012.

 

 

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