terça-feira , 24 dezembro , 2024

Crítica | Whitney: Documentário abre a caixa de Pandora de uma das cantoras mais emblemáticas

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Publicamente, todas as fases da emblemática cantora Whitney Houston foram vividas diante dos olhos do público. De seus 16 anos em esporádicas e pequenas apresentações ao lado da mãe, para o seu estrondoso estrelato aos 20 anos – em 1983, cada fragmento fora capturado em câmera. E com a ascensão dos paparazzi, tabloides e da mídia sensacionalista, dividimos nosso tempo entre seus hits inesquecíveis e suas escorregadas cercadas por sua família e, mais do que todos, Bobby Brown.



Mas ainda como um enigma que todos juram ter desvendado, a história da artista vai além de todos os factoides veiculados. E como alguém que conseguiu a chave dessa caixa de pandora, o cineasta vencedor do Oscar, Kevin Macdonald, traz às telas todos os estilhaços não compilados, com conteúdos inéditos, vídeos familiares até então selados e entrevista cruas, honestas e puras de todos que passaram por sua vida. Whitney é o documentário definitivo que cancela a pavorosa cinebiografia Whitney (2015) e explica – de uma vez por todas – o que de fato aconteceu com a dona de uma das vozes mais poderosas que já cantou no mundo.

Reunindo familiares, amigos de longa data, empresários e demais funcionários que conviviam com a cantora em uma rotina diária, Whitney faz um trabalho quase investigativo, se esgueirando pelas frestas da intimidade da personalidade em questão. Conseguindo o passe para o backstage do palco de sua vida, desvenda todo o mistério cercado pelos excessos e explosões que se tornaram tão comuns para a artista desde tão cedo. Refutando as exaustivas argumentações dos tabloides que dilaceraram os vícios de Houston em fotos pavorosas, o documentário vai na raiz do problema, iniciando sua jornada de maneira inofensiva, como quem gostaria de apenas divagar sobre os alcances vocais da estrela POP.

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E conforme caminha pelos seu passado com um forte berço musical impresso em sua mãe, tia e primas, o filme revela detalhes inescrutáveis sobre sua vida pessoal, os abusos sexuais sofridos por parte de sua própria prima, a cantora Dee Dee Warwick, traumas de infância e sua fluidez sexual, que a levaram a um relacionamento duradouro com Robyn Crawford. A doentia dinâmica familiar de Whitney é exposta corajosamente, com seus familiares finalmente admitindo seus erros em virtude do deslumbramento com o sucesso quase meteórico da cantora, a negligência de todos os seus pares com seus vícios em crack, cocaína e maconha e o abandono de uma menor, com a pequena filha da cantora vivendo a Deus dará, se criando por conta própria (o que a levou a morte em 2015, aos 22 anos de idade).

Todas as rachaduras encobertas ficam à mostra, à medida que o documentário faz um paralelo excepcional entre o impacto sócio cultural de Whitney e as inúmeras transformações sócio políticas dos Estados Unidos. Com muito mais do que uma simples cantora Mezzo-soprano Dramático, a produção a apresenta como uma força para a comunidade negra, como a voz representativa desta parcela da sociedade. Vista como um ícone de projeções fundamentais para o fortalecimento dos afro norte americanos, ela já se portava como um símbolo e dizia, ainda em 1992 – na pré-estreia de O Guarda-Costas – o valor de ser “uma mulher negra em um papel de importância”. E rompendo barreiras econômicas e raciais, ela foi – em seu primeiro filme – a negra bem sucedida e rica, chefe de um homem branco, por quem se apaixona.

Fazendo analogias fundamentais que constroem o arquétipo de Whitney Houston, o documentário traz um material riquíssimo, em uma narrativa que não se desenvolve de maneira tradicional e que é capaz de manter um sincronismo surpreendente, deixando de lado a ordem cronológica dos fatos – para culmina-los com maestria no final. Cativante e doloroso, Whitney é também um retrato genuíno sobre a artista, nos constrange por termos sido espectadores de um espetáculo brutal de piadas que satirizaram seus doentios vícios e conseguiu, mais do que nunca, imortalizar a voz que se calara com sua morte, em 11 de fevereiro de 2012.

 

 

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Crítica | Whitney: Documentário abre a caixa de Pandora de uma das cantoras mais emblemáticas

Publicamente, todas as fases da emblemática cantora Whitney Houston foram vividas diante dos olhos do público. De seus 16 anos em esporádicas e pequenas apresentações ao lado da mãe, para o seu estrondoso estrelato aos 20 anos – em 1983, cada fragmento fora capturado em câmera. E com a ascensão dos paparazzi, tabloides e da mídia sensacionalista, dividimos nosso tempo entre seus hits inesquecíveis e suas escorregadas cercadas por sua família e, mais do que todos, Bobby Brown.

Mas ainda como um enigma que todos juram ter desvendado, a história da artista vai além de todos os factoides veiculados. E como alguém que conseguiu a chave dessa caixa de pandora, o cineasta vencedor do Oscar, Kevin Macdonald, traz às telas todos os estilhaços não compilados, com conteúdos inéditos, vídeos familiares até então selados e entrevista cruas, honestas e puras de todos que passaram por sua vida. Whitney é o documentário definitivo que cancela a pavorosa cinebiografia Whitney (2015) e explica – de uma vez por todas – o que de fato aconteceu com a dona de uma das vozes mais poderosas que já cantou no mundo.

Reunindo familiares, amigos de longa data, empresários e demais funcionários que conviviam com a cantora em uma rotina diária, Whitney faz um trabalho quase investigativo, se esgueirando pelas frestas da intimidade da personalidade em questão. Conseguindo o passe para o backstage do palco de sua vida, desvenda todo o mistério cercado pelos excessos e explosões que se tornaram tão comuns para a artista desde tão cedo. Refutando as exaustivas argumentações dos tabloides que dilaceraram os vícios de Houston em fotos pavorosas, o documentário vai na raiz do problema, iniciando sua jornada de maneira inofensiva, como quem gostaria de apenas divagar sobre os alcances vocais da estrela POP.

E conforme caminha pelos seu passado com um forte berço musical impresso em sua mãe, tia e primas, o filme revela detalhes inescrutáveis sobre sua vida pessoal, os abusos sexuais sofridos por parte de sua própria prima, a cantora Dee Dee Warwick, traumas de infância e sua fluidez sexual, que a levaram a um relacionamento duradouro com Robyn Crawford. A doentia dinâmica familiar de Whitney é exposta corajosamente, com seus familiares finalmente admitindo seus erros em virtude do deslumbramento com o sucesso quase meteórico da cantora, a negligência de todos os seus pares com seus vícios em crack, cocaína e maconha e o abandono de uma menor, com a pequena filha da cantora vivendo a Deus dará, se criando por conta própria (o que a levou a morte em 2015, aos 22 anos de idade).

Todas as rachaduras encobertas ficam à mostra, à medida que o documentário faz um paralelo excepcional entre o impacto sócio cultural de Whitney e as inúmeras transformações sócio políticas dos Estados Unidos. Com muito mais do que uma simples cantora Mezzo-soprano Dramático, a produção a apresenta como uma força para a comunidade negra, como a voz representativa desta parcela da sociedade. Vista como um ícone de projeções fundamentais para o fortalecimento dos afro norte americanos, ela já se portava como um símbolo e dizia, ainda em 1992 – na pré-estreia de O Guarda-Costas – o valor de ser “uma mulher negra em um papel de importância”. E rompendo barreiras econômicas e raciais, ela foi – em seu primeiro filme – a negra bem sucedida e rica, chefe de um homem branco, por quem se apaixona.

Fazendo analogias fundamentais que constroem o arquétipo de Whitney Houston, o documentário traz um material riquíssimo, em uma narrativa que não se desenvolve de maneira tradicional e que é capaz de manter um sincronismo surpreendente, deixando de lado a ordem cronológica dos fatos – para culmina-los com maestria no final. Cativante e doloroso, Whitney é também um retrato genuíno sobre a artista, nos constrange por termos sido espectadores de um espetáculo brutal de piadas que satirizaram seus doentios vícios e conseguiu, mais do que nunca, imortalizar a voz que se calara com sua morte, em 11 de fevereiro de 2012.

 

 

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