O abdicar por acreditar. Mostrando mais um recorte dos horrores de um tempo que marcou uma das páginas mais tristes da história brasileira, o longa-metragem mineiro Zé, filme de abertura do CINEBH 2023, se perde na redundância do seu principal objetivo como discurso. Demasiadamente longo, com seus 124 minutos de projeção, o desenvolvimento da narrativa toma um rumo maçante. Mas há pontos positivos: amplia o leque de análise para um momento marcante do nosso país, se torna ferramenta cultural de aprendizado se tornando uma obra que constará como consulta para futuras gerações entenderem esse conturbado momento. O roteiro assinado por Anna Flavia Dias e Rafael Conde, a direção é do último, um dos homenageados do CINEBH 2023.
Na trama, ambientada nos tempos sombrios da ditadura, conhecemos Zé (Caio Horowicz), um rapaz vindo de uma família de classe média, influente dentro do Movimento Estudantil, que se junta a amigos com o mesmo pensar revolucionário fazendo parte assim de um grupo de resistência contra a Ditadura. Quando o cerco aperta para ele e outros membros do grupo, Zé resolve viver na clandestinidade, nesse tempo desenvolve uma família ao lado da companheira Bete (Eduarda Fernandes) e precisa viver longe de tudo e todos, praticamente ficando sem contato com os pais. Com a vida rumando para o imprevisível, uma traição de alguém próximo ao grupo será o início de mais uma tragédia na vida dele.
Repetitivo, como se já soubéssemos o que viria a acontecer na sequência, Zé perde a oportunidade de ser uma obra mais penetrante no nosso pensar dentro de uma enorme safra de ótimos filmes sobre o tema. A insistência em reforçar o discurso se torna desnecessária e quebra o ritmo da narrativa pois a montagem é confusa. A contextualização não se apresenta quando se pede, deixando a linha temporal uma gangorra de suposições. Talvez um bom complemento para tudo que assistimos seja ler o livro que fora inspirado. O filme é baseado na obra escrita pelo poeta cearense Samarone Lima, Zé José Carlos Novais da Mata Machado, uma Reportagem.
Como importância para a vasta filmografia brasileira, Zé se coloca como mais uma ferramenta de consulta para futuras gerações que vão pesquisar sobre os horrores vividos nas décadas de 60, 70 e 80. E isso é algo muito importante! Mesmo com questões na narrativa, esse é um longa-metragem que se coloca na lista dos filmes urgentes para conscientizar para que tempos como aqueles vividos por Zé nunca voltem para nosso cotidiano.