quarta-feira , 20 novembro , 2024

Dica de Série | ‘Patrulha do Destino’: uma ótima produção que merecia mais reconhecimento

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No começo de 2019, Titãs’ chegava à Netflix pouco tempo depois do primeiro season finale nos Estados Unidos e causou um positivo e otimista alvoroço entre o crescente público da plataforma e os fãs da DC – criando um prospecto interessante para os estúdios e para as múltiplas adaptações em live-action de seus próprios quadrinhos. E seguindo os mesmos passos que essa série, Patrulha do Destino chegaria pouco tempo depois às telinhas, explorando ainda mais o universo e marcando uma convergência entre dois times que, apesar de serem vistos com repúdio por uma sociedade conservadora e retrógrada, não fazem nada além de proteger os fracos e inocentes – como é de praxe para qualquer narrativa super-heroica. 

É claro que não sabíamos o que esperar sobre esse spin-off, mas felizmente o resultado foi bastante agradável e cultivou possibilidades infinitas que continuam sendo exploradas mesmo depois de quatro anos. Mas o que mais consegue cativar o público, seja ele o mais cético imaginável, é a forma como as múltiplas tramas convergem em um sutil melodrama carregado com expectativas e frustrações, desmistificando a construção epopeica dos heróis e deixando-os humanizados além do esperado, ou seja, com desejos, falhas e ambições. 



Patrulha do Destino retoma o classicismo cênico ao introduzir um narrador onisciente para nos apresentar os personagens. Entretanto, diferente das inúmeras fórmulas convencionais, a presença dessa força desconhecida contribui para aumentar a identidade da série: uma ótima mistura entre bizarrice e estranheza – que se reafirmam conforme a narrativa se desenrola. A priori, tudo parece confuso, mas logo abre espaço para nos introduzir a personagens deliciosamente bem arquitetados: porém, é com Cliff Steele (Brendan Fraser) que temos o primeiro baque. 

O ex-piloto de corridas vê sua vida se despedaçar quando sofre um acidente em uma de suas competições, acordando anos depois dentro do corpo metálico do Homem-Robô. Ao que tudo indica, a única parte que o misteriosamente zeloso Dr. Niles Caulder (Timothy Dalton), também conhecido como Chefe, conseguiu salvar foi seu cérebro, transplantando-o para uma máquina que criou e mantendo seu espírito vivo, ainda que estivesse encarcerando-o em uma outra prisão. Porém, a série criada por Jeremy Carver nunca nos entrega de bandeja o que precisamos entender, e é brincando com a cronologia e com a mutável sensação do tempo que percebemos que, na verdade, a tragédia que acometeu Cliff é muito pior do que imaginávamos. 

É logo aqui que os espectadores começam a criar laços com as múltiplas personalidades que habitam a Mansão Dayton, exilada de qualquer outro contato humano: um ex-piloto de avião que foi exposto a uma espécie de energia negativa e agora utiliza bandagens para impedir que a radiação emita de seu corpo, também conhecido como Homem-Negativo (Matt Bomer); Rita Farr (April Bowlby), uma atriz da Era de Ouro do cinema norte-americano que se esconde após ter contato com um gás tóxico e transformar-se na Mulher Elástica; e Crazy Jane (Diane Guerrero), uma jovem garota que desenvolveu 64 personalidades diferentes, cada qual com um poder específico. 

A priori, a série deixa bem claro que a história não é centrada nos clássicos super-heróis, mas sim nos tristes “zeros à esquerda” que observaram impotentes suas vidas virarem de cabeça para baixo e agora são obrigados a passar seus dias se escondendo. Ainda que a tensa e obscura atmosfera mova os primeiros atos do episódio, é o equilíbrio entre tragédia e comédia que cria essa irretocável envolvência, preparando-nos para o que está por vir. A rebeldia narrativa e a irreverência cênica, que oscilam entre passado e presente várias vezes sem nos cansar, impede que o show seja apenas um rip-off de outras produções e ganha uma roupagem única, além de contribuir para um aprazível dinamismo. 

Por vezes, a série opta por apressar demais as conclusões de cada arco, pegando um pequeno espaço para mostrar (ou nos relembrar) as peculiaridades de cada membro da Patrulha. De qualquer forma, essa multiplicidade de perspectiva não é totalmente jogada ao acaso, ajudando a compreender que nenhum deles, por mais desesperados que estejam para ajudar as pessoas que não os querem por perto, está pronto para lutar ou para enfrentar os reais perigos que habitam o mundo lá fora. Mas se eles dessem ouvido à costumeira voz de sabedoria, não haveria história para ser contada. 

Patrulha do Destino é uma produção recheada de personagens memoráveis e incumbido com um potencial que nos encantou durante breves quatro temporadas. E, dentre os vários pontos altos, o que mais nos chama a atenção é sua singularidade – e uma celebração necessária e bastante bem-vinda do que nos torna únicos. 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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É claro que não sabíamos o que esperar sobre esse spin-off, mas felizmente o resultado foi bastante agradável e cultivou possibilidades infinitas que continuam sendo exploradas mesmo depois de quatro anos. Mas o que mais consegue cativar o público, seja ele o mais cético imaginável, é a forma como as múltiplas tramas convergem em um sutil melodrama carregado com expectativas e frustrações, desmistificando a construção epopeica dos heróis e deixando-os humanizados além do esperado, ou seja, com desejos, falhas e ambições. 

Patrulha do Destino retoma o classicismo cênico ao introduzir um narrador onisciente para nos apresentar os personagens. Entretanto, diferente das inúmeras fórmulas convencionais, a presença dessa força desconhecida contribui para aumentar a identidade da série: uma ótima mistura entre bizarrice e estranheza – que se reafirmam conforme a narrativa se desenrola. A priori, tudo parece confuso, mas logo abre espaço para nos introduzir a personagens deliciosamente bem arquitetados: porém, é com Cliff Steele (Brendan Fraser) que temos o primeiro baque. 

O ex-piloto de corridas vê sua vida se despedaçar quando sofre um acidente em uma de suas competições, acordando anos depois dentro do corpo metálico do Homem-Robô. Ao que tudo indica, a única parte que o misteriosamente zeloso Dr. Niles Caulder (Timothy Dalton), também conhecido como Chefe, conseguiu salvar foi seu cérebro, transplantando-o para uma máquina que criou e mantendo seu espírito vivo, ainda que estivesse encarcerando-o em uma outra prisão. Porém, a série criada por Jeremy Carver nunca nos entrega de bandeja o que precisamos entender, e é brincando com a cronologia e com a mutável sensação do tempo que percebemos que, na verdade, a tragédia que acometeu Cliff é muito pior do que imaginávamos. 

É logo aqui que os espectadores começam a criar laços com as múltiplas personalidades que habitam a Mansão Dayton, exilada de qualquer outro contato humano: um ex-piloto de avião que foi exposto a uma espécie de energia negativa e agora utiliza bandagens para impedir que a radiação emita de seu corpo, também conhecido como Homem-Negativo (Matt Bomer); Rita Farr (April Bowlby), uma atriz da Era de Ouro do cinema norte-americano que se esconde após ter contato com um gás tóxico e transformar-se na Mulher Elástica; e Crazy Jane (Diane Guerrero), uma jovem garota que desenvolveu 64 personalidades diferentes, cada qual com um poder específico. 

A priori, a série deixa bem claro que a história não é centrada nos clássicos super-heróis, mas sim nos tristes “zeros à esquerda” que observaram impotentes suas vidas virarem de cabeça para baixo e agora são obrigados a passar seus dias se escondendo. Ainda que a tensa e obscura atmosfera mova os primeiros atos do episódio, é o equilíbrio entre tragédia e comédia que cria essa irretocável envolvência, preparando-nos para o que está por vir. A rebeldia narrativa e a irreverência cênica, que oscilam entre passado e presente várias vezes sem nos cansar, impede que o show seja apenas um rip-off de outras produções e ganha uma roupagem única, além de contribuir para um aprazível dinamismo. 

Por vezes, a série opta por apressar demais as conclusões de cada arco, pegando um pequeno espaço para mostrar (ou nos relembrar) as peculiaridades de cada membro da Patrulha. De qualquer forma, essa multiplicidade de perspectiva não é totalmente jogada ao acaso, ajudando a compreender que nenhum deles, por mais desesperados que estejam para ajudar as pessoas que não os querem por perto, está pronto para lutar ou para enfrentar os reais perigos que habitam o mundo lá fora. Mas se eles dessem ouvido à costumeira voz de sabedoria, não haveria história para ser contada. 

Patrulha do Destino é uma produção recheada de personagens memoráveis e incumbido com um potencial que nos encantou durante breves quatro temporadas. E, dentre os vários pontos altos, o que mais nos chama a atenção é sua singularidade – e uma celebração necessária e bastante bem-vinda do que nos torna únicos. 

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