quarta-feira , 25 dezembro , 2024

‘Esquadrão Suicida’ (2016) | Cinco anos da Promessa de Fenômeno POP que se tornou um “filme maldito”

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Com a estreia de O Esquadrão Suicida nos cinemas do Brasil, os fãs puderam finalmente conferir por aqui o que vem sendo anunciado como um dos melhores filmes de entretenimento do ano. Dono de 93% de aprovação dos críticos, a superprodução da DC (Warner) tem comando de James Gunn (Guardiões da Galáxia), um dos grandes nomes do gênero na atualidade. Os não escolados no universo de heróis de quadrinhos podem até lembrar que já ouviram este título antes no cinema, e não estão errados. É claro que todo o resto do mundo sabe muito bem o que foi Esquadrão Suicida (sem o uso do artigo “o”).

A badalação criada pelo novo filme de James Gunn já havia sido experimentada sobre o mesmo tema há exatos cinco anos no passado – ou seja, tempo insuficiente para criar uma nova geração. Lançado no início de agosto de 2016 (dia 4 no Brasil e 5 nos EUA em grande circuito), Esquadrão Suicida era a promessa de um verdadeiro fenômeno cultural pop. E em partes o foi. Mas não da maneira esperada. É seguro dizer que ninguém, nem os fãs, tampouco os envolvidos com o projeto esperavam o backlash (o famoso tiro pela culatra) que a produção sofreria após seu lançamento – primordialmente devido à incisivas críticas ruins dos maiores e mais prestigiados veículos especializados, que destroçaram o longa, por falta de palavra melhor.



Veja que disparidade: enquanto o novo O Esquadrão Suicida (de James Gunn) angariou os exemplares 96% de aprovação, seu predecessor, fazendo uso do mesmo material em mãos, amargou irrisórios 26% de aprovações com a mesma imprensa cinco anos antes. O que podemos perceber com isso não é a superioridade ou gênio de um cineasta sobre outro, mas sim o aprendizado de um grande estúdio como a Warner no que diz respeito à interferência na visão de um artista para sua obra. Cinco anos se passaram e a mesma Warner cedeu à pressão dos fãs por um Snydercut, a versão planejada por Zack Snyder para sua Liga da Justiça. E a empresa igualmente parece ter dado total liberdade ao diretor James Gunn, que também assina o roteiro, para que entregasse o filme que planejava.

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É preciso ter em mente que há cinco anos, a Warner se via desesperada para engatar um universo cinematográfico nos moldes do que a Marvel vinha fazendo. Assim, todos os filmes da DC no período ficariam estigmatizados como produções esquizofrênicas mais preocupadas em tecer ligações entre seus filmes do que criar uma obra coerente com começo, meio e fim. A pressão embutida nos cineastas era tamanha que muitas vezes eles tinham seus filmes “sequestrados” pelos executivos, com profissionais chamados às pressas – e não envolvidos com a produção do filme – para dar seu pitaco e reeditar tais obras. Foi o caso com Esquadrão Suicida (2016), que teve sua versão final editada pela empresa Trailer Park, Inc., responsável pela edição do trailer do filme – aquele com a música do Queen que fez muito sucesso e despertou em todos o interesse imediato pelo produto.

O mundo é um lugar injusto, e no mundo do cinema a competição é visceral. Promessas e sonhos podem ser dilacerados instantaneamente. A carreira de um artista, hoje com o advento da mídia na ponta do dedo de cada espectador, pode ir pelo ralo com apenas um deslize. É devastador pensar no tempo e a dedicação que profissionais aplicam a uma determinada obra e quando o resultado surge, se não agradar é necessário encontrar alguém para culpar. David Ayer foi o diretor de Esquadrão Suicida (2016), então um cineasta estabelecido, tendo trabalhos badalados tanto como roteirista (Velozes e Furiosos / Dia de Treinamento) quanto na direção (Marcados para Morrer / Corações de Ferro).

O novo O Esquadrão Suicida (2021) se beneficiou em partes pelo hype comedido em relação ao longa, que nem de longe se compara ao que foi alcançado com o filme de Ayer em 2016. Há cinco anos, nada no estilo havia sido feito antes, com o filme então sendo o primeiro a se concentrar em vilões como protagonistas ao invés dos heróis. O tal trailer contendo a canção do Queen gerou mais visualizações, por exemplo, do que ambos do que era o maior filme da casa para aquele ano: Batman vs Superman, lançado em março de 2016. De fato, uma das promessas sobre Esquadrão Suicida é que iria fazer pelos personagens secundários da DC o que Guardiões da Galáxia havia feito pelos da Marvel dois anos antes. Ou seja, transformá-los em ícones pop. E aí está uma coincidente ligação com James Gunn.

É preciso levar em conta também que Esquadrão Suicida seguia a recepção mais do que morna que o citado Batman vs. Superman havia recebido da mídia especializada (com 28% de aprovação). Mesmo assim, bastava uma olhada no trailer do filme de Ayer para todos ganharem muita confiança em relação ao longa. Não existe uma pessoa sequer que não tenha sido “enganada” pela prévia mais legal dos últimos anos. O problema foi que depois de termos assistido ao filme, percebíamos que o trailer era mais interessante e melhor. O hype, no entanto, havia sido gerado bem antes, com a revelação do elenco, com a divulgação das imagens dos atores caracterizados como seus personagens. Esquadrão Suicida contou com um dos melhores grupos de atores dos últimos anos, daquele tipo que não acreditamos que tenham conseguido reunir tanta gente boa num único projeto.

Em especial quatro nomes chamavam muita atenção na frente das câmeras. Will Smith, um dos maiores astros de Hollywood, adentrava pela primeira vez nos chamados “filmes de super-heróis”, aceitando um papel que estava muito longe de personagens como Batman, Superman ou qualquer outra figura encapuzada famosa. No filme ele era o bandido Pistoleiro, vilão B da galeria da editora. Sua participação demonstrava a confiança do ator no projeto e numa dinâmica ensamble (termo usado para quando não temos apenas um protagonista dentro da história). Na cola de Smith chegava Margot Robbie, jovem atriz australiana que havia sido revelada como furacão em O Lobo de Wall Street (2013) e aqui repetia a dobradinha com Smith de Golpe Duplo (2015). Robbie ganhava o papel de sua carreira na pele da Arlequina.

Viola Davis já nesta época vinha sendo considerada uma grande intérprete de pura representatividade. Ela havia sido indicada ao Oscar por Histórias Cruzadas (2011), na TV era celebrada na série How to Get Away With Murder (2014-2020) e no mesmo ano ganharia o Oscar por Um Limite Entre Nós. Davis era a escolha perfeita para a fria e calculista Amanda Waller, chefe de uma agência secreta do governo. Fechando o quarteto principal, o excêntrico Jared Leto havia dado um tempo de sua carreira como ator até retornar para sua vitória no Oscar em Clube de Compras Dallas (2013). Sua performance e sua vitória no filme citado o levaram ao papel do psicopata Coringa, um dos maiores vilões da cultura pop. Do filme citado até Esquadrão Suicida foram mais três anos para o ator.

Algumas caracterizações acertaram o alvo, como a de Robbie e Davis, outras se tornaram escolhas duvidosas e controversas, como a de Leto. Seja como for, houve um incrível empenho de todos os atores envolvidos. Todos se entregaram aos papeis, aprendendo lutas, se exercitando, se desafiando, aprendendo a usar armas, técnicas de combate. Robbie aprendeu a andar no trapézio e técnicas de circo. Smith se dedicou com fuzileiros reais. Foram meses de estudos nos mais variados âmbitos da parte de todos os atores. Cara Delevingne, por exemplo, contratada para o papel da feiticeira Magia sem que existisse um roteiro ainda, foi recomendada pelo diretor que andasse nua à luz da lua e sentisse a lama em seus pés descalços – como forma de se preparar para a personagem. Coisa que a modelo e atriz levou à risca.

Margot Robbie aprendeu a arte da tatuagem, já que sua personagem tem o corpo coberto pelos desenhos na pele. O elenco se tornou tão unido que uma forte amizade surgiu entre eles, as fotos divulgadas e tudo que cercava a produção fazia questão de enfatizar este clima de camaradagem, como há muito não se via numa produção deste porte. Era a forma de todos atestarem um envolvimento genuíno além de seu contracheque ao fim do trabalho. A conexão foi tão forte, com o elenco acreditando tanto no projeto, que todos fizeram tatuagens (a maioria feita por Robbie) em seus corpos com os dizeres “SKWAD”, uma gíria na forma de escrever a palavra Esquadrão em inglês. É claro que os relatos mais polêmicos vieram do ator do método Leto que, entre outras coisas, incorporou a persona do Coringa, só queria ser chamado pelo personagem e enviou presentes para lá de bizarros (como ratos) para seus colegas de cena.

A pressão em relação ao projeto já acontecia antes de seu lançamento, com Margot Robbie admitindo ter recebido ameaças de morte por ter aceitado o papel, vindas da parte de “fãs” alucinados e ter percebido a partir daí a dimensão do projeto em que se envolvia. Com o lançamento do filme, a pressão foi outra, mais real e substancial. David Ayer escreveu algumas vezes de forma aberta em suas redes e para a mídia sobre a decepção de ter se dedicado tanto e sua obra não ter agradado. Ayer disse também que faria muitas coisas diferente se pudesse ter uma nova chance – grande parte do seu filme foi retalhada e a construção dos personagens (um número significativo em tela) terminou comprometida pelos cortes, com muitas cenas gravadas não utilizadas no produto final. Sendo o Coringa de Leto um dos que mais sofreram na versão que foi aos cinemas.

Esquadrão Suicida (2016) custou aos cofres da Warner US$175 milhões e recuperou quase tudo em seu fim de semana de estreia na América do Norte, com US$133 milhões em caixa. Foram US$325 milhões em bilheteria no seu território e US$746 milhões ao total no mundo – o que garantiu ao filme um sucesso financeiro. Junte a isso uma vitória no Oscar (na categoria de maquiagem), tornando o longa o quarto filme do subgênero a possuir tal honraria. Não deixa de ser um fato muito curioso Esquadrão Suicida ser o filme “odiado” mais bem sucedido dos últimos anos. O “fracasso”, porém, não passou despercebido pelos mesmos executivos que trataram de afastar Ayer do projeto Sereias de Gotham, seu próximo passo dentro deste universo.

Além de Ayer, um dos que mais sentiram o golpe foi o astro Will Smith, que tratou de se manter longe da continuação de Gunn (e deve estar arrependido agora). Entre mortos e feridos, Margot Robbie foi a que mais lucrou na história (isto é, desconsiderando as ameaças de morte). Arlequina a transformou uma estrela internacional aos 25 anos. A personagem (e Robbie) ganhou filme solo ano passado (Aves de Rapina) e novamente é chamariz em O Esquadrão Suicida (2021), além de ter se tornado, ela, o fenômeno pop que Esquadrão Suicida (2016) planejava ser. Todas as atenções no filme foram para a personagem e a atriz, garantindo extrema popularidade nas mais variadas mídias. Hoje, até quem não assistiu ao filme sabe da Arlequina.

David Ayer, cinco anos passados e com a poeira tendo baixado, começa a falar em sua versão do filme, querendo seguir pelo caminho do Snydercut. Agora com a propriedade nas mãos de outro cineasta, pode ser que o estúdio considere que esse “barco já partiu”. Isso é, a não ser que os fãs comessem a se mexer nesta direção.

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Com a estreia de O Esquadrão Suicida nos cinemas do Brasil, os fãs puderam finalmente conferir por aqui o que vem sendo anunciado como um dos melhores filmes de entretenimento do ano. Dono de 93% de aprovação dos críticos, a superprodução da DC (Warner) tem comando de James Gunn (Guardiões da Galáxia), um dos grandes nomes do gênero na atualidade. Os não escolados no universo de heróis de quadrinhos podem até lembrar que já ouviram este título antes no cinema, e não estão errados. É claro que todo o resto do mundo sabe muito bem o que foi Esquadrão Suicida (sem o uso do artigo “o”).

A badalação criada pelo novo filme de James Gunn já havia sido experimentada sobre o mesmo tema há exatos cinco anos no passado – ou seja, tempo insuficiente para criar uma nova geração. Lançado no início de agosto de 2016 (dia 4 no Brasil e 5 nos EUA em grande circuito), Esquadrão Suicida era a promessa de um verdadeiro fenômeno cultural pop. E em partes o foi. Mas não da maneira esperada. É seguro dizer que ninguém, nem os fãs, tampouco os envolvidos com o projeto esperavam o backlash (o famoso tiro pela culatra) que a produção sofreria após seu lançamento – primordialmente devido à incisivas críticas ruins dos maiores e mais prestigiados veículos especializados, que destroçaram o longa, por falta de palavra melhor.

Veja que disparidade: enquanto o novo O Esquadrão Suicida (de James Gunn) angariou os exemplares 96% de aprovação, seu predecessor, fazendo uso do mesmo material em mãos, amargou irrisórios 26% de aprovações com a mesma imprensa cinco anos antes. O que podemos perceber com isso não é a superioridade ou gênio de um cineasta sobre outro, mas sim o aprendizado de um grande estúdio como a Warner no que diz respeito à interferência na visão de um artista para sua obra. Cinco anos se passaram e a mesma Warner cedeu à pressão dos fãs por um Snydercut, a versão planejada por Zack Snyder para sua Liga da Justiça. E a empresa igualmente parece ter dado total liberdade ao diretor James Gunn, que também assina o roteiro, para que entregasse o filme que planejava.

É preciso ter em mente que há cinco anos, a Warner se via desesperada para engatar um universo cinematográfico nos moldes do que a Marvel vinha fazendo. Assim, todos os filmes da DC no período ficariam estigmatizados como produções esquizofrênicas mais preocupadas em tecer ligações entre seus filmes do que criar uma obra coerente com começo, meio e fim. A pressão embutida nos cineastas era tamanha que muitas vezes eles tinham seus filmes “sequestrados” pelos executivos, com profissionais chamados às pressas – e não envolvidos com a produção do filme – para dar seu pitaco e reeditar tais obras. Foi o caso com Esquadrão Suicida (2016), que teve sua versão final editada pela empresa Trailer Park, Inc., responsável pela edição do trailer do filme – aquele com a música do Queen que fez muito sucesso e despertou em todos o interesse imediato pelo produto.

O mundo é um lugar injusto, e no mundo do cinema a competição é visceral. Promessas e sonhos podem ser dilacerados instantaneamente. A carreira de um artista, hoje com o advento da mídia na ponta do dedo de cada espectador, pode ir pelo ralo com apenas um deslize. É devastador pensar no tempo e a dedicação que profissionais aplicam a uma determinada obra e quando o resultado surge, se não agradar é necessário encontrar alguém para culpar. David Ayer foi o diretor de Esquadrão Suicida (2016), então um cineasta estabelecido, tendo trabalhos badalados tanto como roteirista (Velozes e Furiosos / Dia de Treinamento) quanto na direção (Marcados para Morrer / Corações de Ferro).

O novo O Esquadrão Suicida (2021) se beneficiou em partes pelo hype comedido em relação ao longa, que nem de longe se compara ao que foi alcançado com o filme de Ayer em 2016. Há cinco anos, nada no estilo havia sido feito antes, com o filme então sendo o primeiro a se concentrar em vilões como protagonistas ao invés dos heróis. O tal trailer contendo a canção do Queen gerou mais visualizações, por exemplo, do que ambos do que era o maior filme da casa para aquele ano: Batman vs Superman, lançado em março de 2016. De fato, uma das promessas sobre Esquadrão Suicida é que iria fazer pelos personagens secundários da DC o que Guardiões da Galáxia havia feito pelos da Marvel dois anos antes. Ou seja, transformá-los em ícones pop. E aí está uma coincidente ligação com James Gunn.

É preciso levar em conta também que Esquadrão Suicida seguia a recepção mais do que morna que o citado Batman vs. Superman havia recebido da mídia especializada (com 28% de aprovação). Mesmo assim, bastava uma olhada no trailer do filme de Ayer para todos ganharem muita confiança em relação ao longa. Não existe uma pessoa sequer que não tenha sido “enganada” pela prévia mais legal dos últimos anos. O problema foi que depois de termos assistido ao filme, percebíamos que o trailer era mais interessante e melhor. O hype, no entanto, havia sido gerado bem antes, com a revelação do elenco, com a divulgação das imagens dos atores caracterizados como seus personagens. Esquadrão Suicida contou com um dos melhores grupos de atores dos últimos anos, daquele tipo que não acreditamos que tenham conseguido reunir tanta gente boa num único projeto.

Em especial quatro nomes chamavam muita atenção na frente das câmeras. Will Smith, um dos maiores astros de Hollywood, adentrava pela primeira vez nos chamados “filmes de super-heróis”, aceitando um papel que estava muito longe de personagens como Batman, Superman ou qualquer outra figura encapuzada famosa. No filme ele era o bandido Pistoleiro, vilão B da galeria da editora. Sua participação demonstrava a confiança do ator no projeto e numa dinâmica ensamble (termo usado para quando não temos apenas um protagonista dentro da história). Na cola de Smith chegava Margot Robbie, jovem atriz australiana que havia sido revelada como furacão em O Lobo de Wall Street (2013) e aqui repetia a dobradinha com Smith de Golpe Duplo (2015). Robbie ganhava o papel de sua carreira na pele da Arlequina.

Viola Davis já nesta época vinha sendo considerada uma grande intérprete de pura representatividade. Ela havia sido indicada ao Oscar por Histórias Cruzadas (2011), na TV era celebrada na série How to Get Away With Murder (2014-2020) e no mesmo ano ganharia o Oscar por Um Limite Entre Nós. Davis era a escolha perfeita para a fria e calculista Amanda Waller, chefe de uma agência secreta do governo. Fechando o quarteto principal, o excêntrico Jared Leto havia dado um tempo de sua carreira como ator até retornar para sua vitória no Oscar em Clube de Compras Dallas (2013). Sua performance e sua vitória no filme citado o levaram ao papel do psicopata Coringa, um dos maiores vilões da cultura pop. Do filme citado até Esquadrão Suicida foram mais três anos para o ator.

Algumas caracterizações acertaram o alvo, como a de Robbie e Davis, outras se tornaram escolhas duvidosas e controversas, como a de Leto. Seja como for, houve um incrível empenho de todos os atores envolvidos. Todos se entregaram aos papeis, aprendendo lutas, se exercitando, se desafiando, aprendendo a usar armas, técnicas de combate. Robbie aprendeu a andar no trapézio e técnicas de circo. Smith se dedicou com fuzileiros reais. Foram meses de estudos nos mais variados âmbitos da parte de todos os atores. Cara Delevingne, por exemplo, contratada para o papel da feiticeira Magia sem que existisse um roteiro ainda, foi recomendada pelo diretor que andasse nua à luz da lua e sentisse a lama em seus pés descalços – como forma de se preparar para a personagem. Coisa que a modelo e atriz levou à risca.

Margot Robbie aprendeu a arte da tatuagem, já que sua personagem tem o corpo coberto pelos desenhos na pele. O elenco se tornou tão unido que uma forte amizade surgiu entre eles, as fotos divulgadas e tudo que cercava a produção fazia questão de enfatizar este clima de camaradagem, como há muito não se via numa produção deste porte. Era a forma de todos atestarem um envolvimento genuíno além de seu contracheque ao fim do trabalho. A conexão foi tão forte, com o elenco acreditando tanto no projeto, que todos fizeram tatuagens (a maioria feita por Robbie) em seus corpos com os dizeres “SKWAD”, uma gíria na forma de escrever a palavra Esquadrão em inglês. É claro que os relatos mais polêmicos vieram do ator do método Leto que, entre outras coisas, incorporou a persona do Coringa, só queria ser chamado pelo personagem e enviou presentes para lá de bizarros (como ratos) para seus colegas de cena.

A pressão em relação ao projeto já acontecia antes de seu lançamento, com Margot Robbie admitindo ter recebido ameaças de morte por ter aceitado o papel, vindas da parte de “fãs” alucinados e ter percebido a partir daí a dimensão do projeto em que se envolvia. Com o lançamento do filme, a pressão foi outra, mais real e substancial. David Ayer escreveu algumas vezes de forma aberta em suas redes e para a mídia sobre a decepção de ter se dedicado tanto e sua obra não ter agradado. Ayer disse também que faria muitas coisas diferente se pudesse ter uma nova chance – grande parte do seu filme foi retalhada e a construção dos personagens (um número significativo em tela) terminou comprometida pelos cortes, com muitas cenas gravadas não utilizadas no produto final. Sendo o Coringa de Leto um dos que mais sofreram na versão que foi aos cinemas.

Esquadrão Suicida (2016) custou aos cofres da Warner US$175 milhões e recuperou quase tudo em seu fim de semana de estreia na América do Norte, com US$133 milhões em caixa. Foram US$325 milhões em bilheteria no seu território e US$746 milhões ao total no mundo – o que garantiu ao filme um sucesso financeiro. Junte a isso uma vitória no Oscar (na categoria de maquiagem), tornando o longa o quarto filme do subgênero a possuir tal honraria. Não deixa de ser um fato muito curioso Esquadrão Suicida ser o filme “odiado” mais bem sucedido dos últimos anos. O “fracasso”, porém, não passou despercebido pelos mesmos executivos que trataram de afastar Ayer do projeto Sereias de Gotham, seu próximo passo dentro deste universo.

Além de Ayer, um dos que mais sentiram o golpe foi o astro Will Smith, que tratou de se manter longe da continuação de Gunn (e deve estar arrependido agora). Entre mortos e feridos, Margot Robbie foi a que mais lucrou na história (isto é, desconsiderando as ameaças de morte). Arlequina a transformou uma estrela internacional aos 25 anos. A personagem (e Robbie) ganhou filme solo ano passado (Aves de Rapina) e novamente é chamariz em O Esquadrão Suicida (2021), além de ter se tornado, ela, o fenômeno pop que Esquadrão Suicida (2016) planejava ser. Todas as atenções no filme foram para a personagem e a atriz, garantindo extrema popularidade nas mais variadas mídias. Hoje, até quem não assistiu ao filme sabe da Arlequina.

David Ayer, cinco anos passados e com a poeira tendo baixado, começa a falar em sua versão do filme, querendo seguir pelo caminho do Snydercut. Agora com a propriedade nas mãos de outro cineasta, pode ser que o estúdio considere que esse “barco já partiu”. Isso é, a não ser que os fãs comessem a se mexer nesta direção.

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