Começa hoje, dia 9 de maio, o 7º Panorama de Cinema Suíço Contemporâneo, em São Paulo. Uma parceria entre o Centro Cultural Banco do Brasil SP, o Sesc SP e o Consulado da Suíça.
E para abrir esse mega Festival, nada melhor que um documentário à altura, chamado ‘Hafis & Mara’, dirigido pelo sírio Mano Khalil, e que narra um período importante da vida do casal Hafis e Mara Bertschinger. Seus dramas, dificuldades e amor pela arte, acima de tudo.
Nosso redator e crítico Thiago Muniz teve a oportunidade de entrevistar Khalil por telefone, direto dos bastidores do Festival, em São Paulo. Em um bate-papo descontraído sobre a arte de fazer filmes, o diretor contou um pouco como surgiu a ideia de contar essa história e falou, até mesmo, sobre a dominação global dos super-heróis no cinema.
Confira a entrevista na íntegra:
Como surgiu a ideia de contar uma história tão peculiar como essa e qual foi o maior desafio de mostrar a vida do casal?
Mano Khalil: Quando conheci Hafis e conversei com ele pela primeira vez, ele me contou um pouco sobre sua história, sobre sua vida e suas viagens ao Líbano e a Palestina, e também sobre seu pai, que foi enterrado sozinho em Beirute. Lembro-me que quando vi suas obras de arte e o que ele poderia fazer com tão pouco, na hora lembrei de mim como cineasta, que desejava fazer um grande filme, uma obra de arte, ser famoso e ter dinheiro para viajar para qualquer lugar… mas muitas vezes são apenas sonhos distantes.
Nós envelhecemos e tudo isso vai ficando para trás. Eu vi isso nas obras de Hafis, que trabalhava sozinho em seu estúdio e depois levava todo o resultado para casa, para Mara, que era a única pessoa que lhe dava dinheiro e apoio… Para mim, isso era inacreditável. Muita pessoas acreditam na arte e um dia morrem sem reconhecimento, falidos… Eu só queria, acima de tudo, eternizar sua história.
A coisa mais difícil foi trazer Mara para o filme, sem dúvida. No início, ela não aceitou participar. Aos poucos, construí uma amizade com ela e foi então que se abriu para mim, assim como abriu as portas de sua casa e tocou em assuntos que nunca antes haviam conversado. Ela pediu para que eu fizesse um filme que respeitasse seus sentimentos e não apenas explorasse sua história e ou os casos homossexuais do marido.
O mais importante de tudo para mim foi conhecê-la, uma senhora debilitada que amou e apoiou seu marido até o fim, que o via como um artista de fato, até mesmo sabendo de seus casos homossexuais, ela esteve com ele e deu para ele sua alma. Isso foi muito importante para contarmos essa história.
De certa forma, o filme mostra como a arte resiste através do tempo. E para você, como foi fazer um documentário tradicional em um mundo onde os super-heróis dominam o cinema mundial?
Pessoalmente, estudei Direção Cinematográfica na Checoslováquia e aprendi a contar histórias, sem discriminação ou barreiras, seja um documentário tradicional ou um longa-metragem ficcional, eu amo essas combinações de arte. O que importa para mim é contar uma história que as pessoas possam compreender e se identificar, assim como eu me identifico. Por isso me envolvo mais com histórias reais que com ficções.
Mas não acredito que haja uma barreira entre fazer um documentário e fazer um blockbuster americano, é questão de desejo apenas. Tem lugar para todos.
O que está achando do Brasil até agora? Você tem vontade de gravar algum filme aqui um dia?
Estou adorando a recepção calorosa. Com certeza. Eu não faço filmes só para mim ou para meus amigos, eu gosto de conhecer novas culturas. Minha casa é um misto de culturas, falamos umas três ou quatro línguas diferentes. Minha esposa é grega e tenho dois filhos, que falam grego, alemão, sueco, italiano e inglês. É essa união que faz eu ser eu mesmo. Por que não aprender um pouco de português?
Talvez eu faça um filme em Portugal antes do Brasil… Gostaria muito. Vou pensar seriamente nisso.
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Se interessou pelo filme? Confira a crítica: Hafis & Mara – Com tom melancólico, documentário celebra o amor pela arte
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