sexta-feira , 22 novembro , 2024

Exclusivo | “Quero trabalhar com Alicia Vikander”, diz Olivier Assayas

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Em passagem pelo Brasil durante o Festival do Rio, realizado de 1 a 11 de novembro, para promover o seu novo filme Vidas Duplas (Double Vies), Olivier Assayas conversou com o CinePOP sobre sua nova obra, as políticas cinematográficas e seu desejo de filmar com a ganhadora do Oscar de 2015. Além disso, revelou ser fã de Woody Allen e ter um grande carinho por Kristen Stewart.

Com 30 obras no currículo, o diretor francês trabalha pela quarta vez com a musa Juliette Binoche – as três primeiras foram Paris, Eu te Amo (2006), Horas de Verão (2008) e Acima das Nuvens (2014). Ele também levou Kristen Stewart (Crepúsculo) a ganhar o César de Melhor Atriz Coadjuvante e conta com um prêmio de Melhor Diretor em Cannes.



Previsto para entrar no circuito comercial no início do próximo ano, Vidas Duplas discute o mercado literário francês, as crises da meia idade e, principalmente, a hipocrisia humana. Confira abaixo o nosso bate-papo com o diretor e marque na agenda para conferir seu lançamento.

Crítica | Vidas Duplas – Comédia Francesa com tom de Woody Allen

CinePOP: Por conta do grande fluxo de diálogos no filme Vidas Duplas, há uma comparação da sua obra com as de Woody Allen. O que você pensa sobre isso?

Olivier Assayas: Sim. É Woody Allen, é Éric Rohmer [diretor francês de O Joelho de Claire (1970) e Pauline na Praia (1983)]; é parte da tradição francesa. A propósito, eu sou fã de Woody Allen. Eu adoro o trabalho dele e, às vezes, desejava ter a sua relevância, porque ele é um ótimo escritor de comédias e, ocasionalmente, bem eloquente. No entanto, não temos as mesmas origens. Eu acredito que muito do trabalho de Allen agora é sobre o que ele recorda e o que o inspira. Nesse sentido, posso dizer que temos essa majoritária influência em comum,  porque eu também acredito que esse tipo de inspiração é vital para um realizador de filmes.

Essa característica [diálogos eloquentes] é, de certa forma, uma tradição do cinema francês, no qual os personagens estão sentandos e conversando sobre algo que perturba o narrador. Para mim, o excitante como diretor é me permitir a oportunidade de novos desafios e quando eu escrevo um roteiro, o que a princípio são apenas vários diálogos, eu me pergunto como eu vou realizar esta cena, como vou filmá-la.

CinePOP: O filme discute muito sobre a transformação do livro para o modelo digital e-book. Você enxerga o mercado cinematográfico nesta mesma dinâmica? O que você acha da polêmica do lançamento de Roma, de Alfonso Cuarón, pela Netflix?

Assayas: Eu vi o filme uma vez e é ótimo. É a única coisa que eu posso dizer sobre o filme em si. Eu não me envolvo nas políticas cinematográficas, mas o que eu sei é que Cuarón é um grande diretor e meu amigo. Eu fiquei realmente impressionado com o filme e acredito que é uma obra para ser vista no cinema. Eu acho que a gente está em momento muito confuso em termos de evolução do cinema. O modo com as pessoas assistem filme está transformando o cenário na França, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.

CinePOP: A gente pode fazer a mesma analogia dos livros com os filmes?

Assayas: Não, não. A revolução digital do cinema está acontecendo por um longo tempo. Começou nos anos 90, quando o som tornou-se digital e, dois anos depois, vieram os aparelhos para transformar a edição do filme de película em edição digital; depois as câmeras digitais e os DCPs [A Digital Cinema Package]. Os filmes começaram a ser distribuídos com mais facilidade em todo o mundo por conta do formato digital.

Já são quase 50 anos que o cinema vem com uma completa reinvenção digital do seu formato. Agora, quando fazemos um filme, temos que estar conscientes que apenas uma minoria vai assisti-lo no cinema. A grande parte vai ver por streaming, no laptop, na televisão de casa, a gente não tem controle de como a pessoa vai ver o nosso trabalho.

Eu viajo muito para Ásia e já encontrei os meus filmes sendo vendidos em caixas nas ruas, eu honestamente não tenho problema com isso. Para mim, a Netflix não é algo novo. Os filmes estão disponíveis desde sempre. O problema com a Netflix, por exemplo, é o sistema de financiamento de filmes.

Na França, temos um canal pago que injeta muito dinheiro nas produções francesas. A emissora tem a obrigação de fazer esse investimento, uma vez que ela possui inscritos e eles pagam mais do que a mensalidade da Netflix. A empresa, portanto, investe este lucro nos cineastas nacionais, algo que a Netflix não faz. Neste sistema, é permitido que você contribua com o criador e, portanto, essa questão é um problema de política externa.

CinePOP: Você já afirmou que Juliette Binoche é sua musa e a norte-americana Kristen Stewart teve um surpreendente desempenho em dois filmes seus. Com qual atriz de fora do cinema francês você ainda tem vontade de trabalhar?

Assayas: Kristen, com certeza, é uma atriz com quem quero trabalhar novamente. Eu a amo. Construímos um forte laço e eu quero investir mais nisso. Outra atriz que gostaria de trabalhar é com Alicia Vikander [atriz sueca de A Garota Dinamarquesa (2015) e Lara Croft: A Origem (2018)], mas eu ainda não tenho nenhum personagem específico para ela.

CinePOP: Qual filme o fez se interessar pela atuação de Alicia Vikander?

Assayas: A obra sueca sobre casamento, O Amante da Rainha (The Royal Affair, 2012).

CinePOP: Sobre o protagonista Alain (Guillaume Canet) em Vidas Duplas. Ele é um pouco da sua própria posição sobre o mercado literário atualmente?

Assayas: Quando você escreve, há um pouco de você em cada personagem, talvez eu seja mais próximo de um do que de outro. Vamos colocar desta forma, eu comecei a escrever o roteiro a partir do personagem Alain, o editor. Ele é quem eu tinha em mente para construir a história e os outros personagens cresceram em volta desse desejo.

CinePOP: Vidas Duplas deixa as discussões em aberto, sem definições. É assim que você enxerga o assunto?

Assayas: O filme não é sobre responder nenhuma questão. Eu acredito que o melhor que podemos fazer como realizadores é ajudar o público a formular as questões e as respostas por conta deles mesmos. Eu não quero empurrar nada para os espectadores.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Com 30 obras no currículo, o diretor francês trabalha pela quarta vez com a musa Juliette Binoche – as três primeiras foram Paris, Eu te Amo (2006), Horas de Verão (2008) e Acima das Nuvens (2014). Ele também levou Kristen Stewart (Crepúsculo) a ganhar o César de Melhor Atriz Coadjuvante e conta com um prêmio de Melhor Diretor em Cannes.

Previsto para entrar no circuito comercial no início do próximo ano, Vidas Duplas discute o mercado literário francês, as crises da meia idade e, principalmente, a hipocrisia humana. Confira abaixo o nosso bate-papo com o diretor e marque na agenda para conferir seu lançamento.

Crítica | Vidas Duplas – Comédia Francesa com tom de Woody Allen

CinePOP: Por conta do grande fluxo de diálogos no filme Vidas Duplas, há uma comparação da sua obra com as de Woody Allen. O que você pensa sobre isso?

Olivier Assayas: Sim. É Woody Allen, é Éric Rohmer [diretor francês de O Joelho de Claire (1970) e Pauline na Praia (1983)]; é parte da tradição francesa. A propósito, eu sou fã de Woody Allen. Eu adoro o trabalho dele e, às vezes, desejava ter a sua relevância, porque ele é um ótimo escritor de comédias e, ocasionalmente, bem eloquente. No entanto, não temos as mesmas origens. Eu acredito que muito do trabalho de Allen agora é sobre o que ele recorda e o que o inspira. Nesse sentido, posso dizer que temos essa majoritária influência em comum,  porque eu também acredito que esse tipo de inspiração é vital para um realizador de filmes.

Essa característica [diálogos eloquentes] é, de certa forma, uma tradição do cinema francês, no qual os personagens estão sentandos e conversando sobre algo que perturba o narrador. Para mim, o excitante como diretor é me permitir a oportunidade de novos desafios e quando eu escrevo um roteiro, o que a princípio são apenas vários diálogos, eu me pergunto como eu vou realizar esta cena, como vou filmá-la.

CinePOP: O filme discute muito sobre a transformação do livro para o modelo digital e-book. Você enxerga o mercado cinematográfico nesta mesma dinâmica? O que você acha da polêmica do lançamento de Roma, de Alfonso Cuarón, pela Netflix?

Assayas: Eu vi o filme uma vez e é ótimo. É a única coisa que eu posso dizer sobre o filme em si. Eu não me envolvo nas políticas cinematográficas, mas o que eu sei é que Cuarón é um grande diretor e meu amigo. Eu fiquei realmente impressionado com o filme e acredito que é uma obra para ser vista no cinema. Eu acho que a gente está em momento muito confuso em termos de evolução do cinema. O modo com as pessoas assistem filme está transformando o cenário na França, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.

CinePOP: A gente pode fazer a mesma analogia dos livros com os filmes?

Assayas: Não, não. A revolução digital do cinema está acontecendo por um longo tempo. Começou nos anos 90, quando o som tornou-se digital e, dois anos depois, vieram os aparelhos para transformar a edição do filme de película em edição digital; depois as câmeras digitais e os DCPs [A Digital Cinema Package]. Os filmes começaram a ser distribuídos com mais facilidade em todo o mundo por conta do formato digital.

Já são quase 50 anos que o cinema vem com uma completa reinvenção digital do seu formato. Agora, quando fazemos um filme, temos que estar conscientes que apenas uma minoria vai assisti-lo no cinema. A grande parte vai ver por streaming, no laptop, na televisão de casa, a gente não tem controle de como a pessoa vai ver o nosso trabalho.

Eu viajo muito para Ásia e já encontrei os meus filmes sendo vendidos em caixas nas ruas, eu honestamente não tenho problema com isso. Para mim, a Netflix não é algo novo. Os filmes estão disponíveis desde sempre. O problema com a Netflix, por exemplo, é o sistema de financiamento de filmes.

Na França, temos um canal pago que injeta muito dinheiro nas produções francesas. A emissora tem a obrigação de fazer esse investimento, uma vez que ela possui inscritos e eles pagam mais do que a mensalidade da Netflix. A empresa, portanto, investe este lucro nos cineastas nacionais, algo que a Netflix não faz. Neste sistema, é permitido que você contribua com o criador e, portanto, essa questão é um problema de política externa.

CinePOP: Você já afirmou que Juliette Binoche é sua musa e a norte-americana Kristen Stewart teve um surpreendente desempenho em dois filmes seus. Com qual atriz de fora do cinema francês você ainda tem vontade de trabalhar?

Assayas: Kristen, com certeza, é uma atriz com quem quero trabalhar novamente. Eu a amo. Construímos um forte laço e eu quero investir mais nisso. Outra atriz que gostaria de trabalhar é com Alicia Vikander [atriz sueca de A Garota Dinamarquesa (2015) e Lara Croft: A Origem (2018)], mas eu ainda não tenho nenhum personagem específico para ela.

CinePOP: Qual filme o fez se interessar pela atuação de Alicia Vikander?

Assayas: A obra sueca sobre casamento, O Amante da Rainha (The Royal Affair, 2012).

CinePOP: Sobre o protagonista Alain (Guillaume Canet) em Vidas Duplas. Ele é um pouco da sua própria posição sobre o mercado literário atualmente?

Assayas: Quando você escreve, há um pouco de você em cada personagem, talvez eu seja mais próximo de um do que de outro. Vamos colocar desta forma, eu comecei a escrever o roteiro a partir do personagem Alain, o editor. Ele é quem eu tinha em mente para construir a história e os outros personagens cresceram em volta desse desejo.

CinePOP: Vidas Duplas deixa as discussões em aberto, sem definições. É assim que você enxerga o assunto?

Assayas: O filme não é sobre responder nenhuma questão. Eu acredito que o melhor que podemos fazer como realizadores é ajudar o público a formular as questões e as respostas por conta deles mesmos. Eu não quero empurrar nada para os espectadores.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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