Apresentado no último fim de semana na 80ª edição do Festival de Cinema de Veneza, O Palácio (The Palace), novo filme de Roman Polanski, foi massacrado pela crítica especializada. Fora da competição, o longa já gerava polêmicas apenas pela sua participação no evento cinematográfico, ao lado de uma seleção constelar do cinema: Sofia Coppola, Harmony Korine, William Friedkin, Pablo Larraín, Ryūsuke Hamaguchi, David Fincher e Yorgos Lanthimos.
Com o seu filme anterior, O Oficial e o Espião (2019), igualmente apresentado no Festival de Veneza quatro anos atrás, a recepção foi bem mais calorosa. Com 12 indicações ao César, o Oscar francês, o longa ganhou o prêmio de melhor direção e causou uma das mais recentes polêmicas em volta do nome do diretor. Apesar de não ter comparecido à cerimônia para receber o troféu, na ocasião, a atriz Adèle Haenel (Retrato de uma Jovem em Chamas) levantou-se revoltada com o anúncio do prêmio e retirou-se do recinto esbravejando a palavra: “vergonha” (La honte!).
90 anos de Roman Polanski
De lá para cá, aos 90 anos, Roman Polanski não aparenta ter a mesma liderança atrás das câmeras. Com 13 críticas publicadas no Rotten Tomatoes até o momento, O Palácio amarga 0% de aceitação dos jornalistas presentes no festival. Polêmicas à parte, a nota não tem nada a ver com a vida pessoal do diretor, mas é devido a qualidade duvidosa da obra satírica.
O Palácio passa-se inteiramente no Gstaad Palace, o famoso hotel de luxo situado nos Alpes Suíços, onde o próprio Polanski já declarou frequentar. Inaugurado em 1913, o hotel é um playground da aristocracia europeia. A narrativa é centrada na reunião desse grupo de ricos egocêntricos na véspera do Ano Novo em 1999, ou seja, na virada do “bug do milênio” e da lenda urbana do fim do mundo. Os personagens estão, portanto, preocupados com o iminente fim, mas de maneira mesquinha e narcisista. Talvez Polanski mirou em Triângulo da Tristeza (2022), de Ruben Östlund, e acertou em…?
Antecedentes incriminatórios
A melhor explicação para o vexame no festival veio do crítico Owen Gleiberman, da Variety: Polanski sempre errou a mão na comédia. O jornalista descreve o constrangimento na sala lotada de 1400 lugares e nenhuma risada durante uma hora e quarenta minutos de projeção. Ele ainda lembra que o cineasta polonês tem funestos antecedentes, como a comédia de horror A Dança dos Vampiros (1967), Piratas (1986) e o mais recente O Deus da Carnificina (2011).
Embora alguns elementos de horror e sátira estejam presentes nas suas obras de maior sucesso como O Bebê de Rosemary (1968) e Repulsa ao Sexo (1965), o forte do cineasta é o drama, como os premiadíssimos Chinatown (1975) e O Pianista (2002). Como toda carreira longínqua, Polanski coleciona fracassos e sucessos, mas este o seu primeiro — mesmo que temporário — 0% de aprovação.
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A opinião dos críticos
“O mais recente [de Polanski], O Palácio, deixa pouco espaço para ambiguidades. É a pior coisa que ele já fez – ou, em qualquer caso, o pior filme dele que este crítico já viu. (Só perdi alguns títulos em sua filmografia, que agora conta com 23 longas.)” — Jordan Mintzer do Hollywood Reporter
“Você pode precisar de uma bebida forte para assistir o novo filme de Roman Polanski inteiro; você pode até achar que precisa de várias – qualquer coisa que alivie a dor”. — Xan Brooks, do The Guardian
“Não tenho certeza se já ouvi um cinema gigante tão silencioso para um filme que trabalha tão arduamente para te divertir”. — Owen Gleiberman, da Variety
“O problema com O Palácio… é que não é importante e não é arte: é uma cláusula de alteração no testamento de um dos maiores autores do cinema. Na verdade, é um pouco triste — Fionnuala Halligan, do Screen International
“A situação instável do realizador parece impactar diretamente o elenco composto para esta comédia negra sem humor, além de que a construção grotescamente rígida dá ao filme a impressão de ser um dedo do meio gigante para o mundo inteiro”. — Ben Croll, do TheWrap