“NO EPISÓDIO DE HOJE, APRENDEMOS…”
Se He-Man aparecesse no final deste 3º ep. de Game Of Thrones – GoT, provavelmente diria: “no episódio de hoje, aprendemos que você sairá perdendo se for inocente, mas se não tiver nenhuma virtude, também vai pra terra dos pés-juntos”. Ou algo assim… Fato, este ep. pode ser lido como uma resposta à pergunta (ligeiramente adaptada) feita por Tywin Lannister (Charles Dance) para seu neto Tommen Baratheon (Callum Wharry): “em um mundo injusto e violento, qual virtude deve ser cultivada?”
Primeiro, descobrimos que Dontos Hollard (Tony Way), ex-cavaleiro e bobo da corte, enganou Sansa (Sophie Turner). No primeiro ep., ele lhe entregou um colar, supostamente de sua mãe, como agradecimento por tê-lo salvo a vida, em temporadas passadas. Foi diálogo emocionante. Tudo mentira. Dontos estava à mando de Petyr Baelish (Aidan Gillen), que o mata neste 3º ep. E, bancando o He-Man, Baelish ensina para Sansa que não se pode confiar em ninguém, exceto nele! Sansa ainda é muito inocente, e Compadre Washington nos ensinou que inocentes não sabem de nada.
Pouco depois, estamos diante do corpo de Joffrey sendo velado por Cersei (Lena Headey) e seu filho Tommen. Tywin entra anunciando que Tommen será o próximo rei, e questiona-o sobre qual a virtude que um rei deve ter. Não é a santidade, não é a justiça, nem a força, mas a sabedoria. Não se pode ser inocente, deve-se buscar a sabedoria. Mais isso ainda diz pouco…
Mais adiante, vemos Arya (Maissie Williams) e o Sandor (Rory McCann) em uma parada técnica. Enquanto recolhiam água, um senhor questiona o que ambos fazem em suas terras. Sandor é ríspido, mas logo é interrompido por Arya, que inventa que ele é seu pai e que se feriu durante a guerra. Ao fingir que lutaram pela Casa dos Tully, o senhor da terra oferece abrigo e comida. Durante o jantar, ele propõe trabalho a Sandor. Na cena seguinte, Arya acorda com gritos e vê Sandor agredindo o senhor da terra e roubando sua prata. Arya diz que aquele era um bom homem e não merecia isso. Sandor diz que se trata de um velho que morrerá no inverno e mortos não precisam de prata. Arya o acusa de ser mal. Sandor diz que há outros muito piores. A lição: o mundo é violento, e ser bom demais dá merda!
Ned Stark (Sean Bean) foi um dos mais justos de Westeros. Conciliador, ponderado, sábio, honesto, honrado. Votaríamos nele para presidente. Morreu decapitado. Confrontado com as palavras do Cão, a conclusão é de que os bons sentimentos não tem lugar em mundo. A sequência na qual os selvagens dizimam um pequeno lugarejo, próximo do final do 3º ep., é a figuração desse mundo injusto e violento. Contudo, R. R. Martin não parece ser um cético.
Tyrion (Peter Dinklage) está preso e recebe a visita de Podrick (Daniel Portman). Este lhe fala sobre proposta que recebeu para testemunhar contra ele no caso da morte de Joffrey. Mas, Podrick recusou. Sabendo dos riscos que isto representa, Tyrion ordena que Podrick aceite a proposta. Ele se recusa. Tyrion fala para que ele fuja.
Ao mandar que Podrick minta, Tyrion revela a quão obscura e profunda a justiça pode ser. Nossos pais nos ensinaram que mentir é feio, e a vida que mentira é necessária. Caso Podrick falasse a verdade, manteria sua lealdade e acabaria morto. Se mentisse, salvaria sua pele e trairia Tyrion. Este, quando ordena que ele aceite mentir, está sendo realista, percebendo que é a única forma de Podrick sobreviver. Assim, Tyrion honra toda a lealdade que o jovem teve consigo.
É um senso de justiça sofisticado, que foge do abstrato. A justiça apenas pode ser entendida quando em confronto com a brutalidade do mundo. E, mesmo sendo um ato justo, quase sempre comportará uma grande dose de perversidade.
E nesse cruzamento de Um Teoria da Justiça, He-Man e Compadre Washington, podemos costurar uma chave para entender GoT. Em um mundo injusto e violento, bons sentimentos e inocência não tem espaço, mas a maldade em estado puro não é garantia (vejam o Joffrey). Apenas com um sábio equilíbrio entre vícios e justiça a sobrevivência é viável.
E quando se fala em justiça, sempre me pergunta: Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) é sincera, ou ela teria espaço em Brasília? Embora sua estratégia para convencer os escravos de Meereen tenha sido ótima, sinceramente, ela vem me soando cada vez mais demagoga…
Mas falemos que coisas sérias. Vamos falar das orgias Oberyn Martell (Pedro Pascal). Podem não ser as maiores, mas são as mais instrutivas. No ep. de hoje, ele nos ensinou as vantagens da bissexualidade. O que He-Man diria?