O longa-metragem Ilha dos Cachorros, dirigido por Wes Anderson, conta a história de um garoto japonês chamado Atari Kobayashi, residente da cidade de Megasaki, onde o corrupto prefeito aprova uma lei que proíbe todos os cachorros de morarem no local, fazendo com que os animais sejam banidos para uma ilha vizinha repleta de lixo. O jovem, que não aceita se separar do seu animal de estimação Spots, convoca os amigos e parte em uma busca por seu fiel companheiro.
A animação em stop motion, que conquistou a crítica e gera comentários sobre uma possível indicação ao Oscar, tem como Key Animator o brasileiro Mathias Liebrecht, que já trabalhou com Tim Burton em Frankenweenie. A jornalista Karolen Passos teve a oportunidade de bater um papo com ele sobre o filme durante o AnimaMundi. Confira:
Crítica | Ilha dos Cachorros – Wes Anderson declara seu amor ao stop-motion (e aos cachorros)
Karolen Passos: Você tem um animal de estimação?
Mathias Liebrecht: Não tenho mais. Eu já tive um cachorro, cresci com ele e, para mim, ele era meu irmão (risos). Até o dia dele morrer quando eu tinha treze anos. Tenho um irmão também, mas na minha cabeça, tinha dois irmãos. Desde então eu não tive, quer dizer, tive um peixe.
KP: Mas não deixa de ser um animal de estimação.
ML: Não deixa de ser, mas não era a mesma coisa, o cachorro era especial.
KP: Como foi trabalhar com uma história como a de Ilha dos Cachorros? O que foi diferente do seu trabalho em outros filmes?
ML: Acho que o estilo do filme. Há muito tempo eu morria de vontade de trabalhar em um filme do Wes Anderson. Quando fiquei sabendo de ‘O Fantástico Sr. Raposo’, tentei entrar neste filme e não deu naquela época, por diversos motivos. Na hora que anunciaram, já sabia que esse filme ia ser diferente de todos os outros em stop motion, e foi, realmente. Para mim, foi um marco na história do stop motion atual. E esse filme (Ilha dos Cachorros) segue uma linha parecida, acho que é o estilo e a marca registrada do visual dele (Anderson). Para mim foi isso, mais o estilo e a potência do filme.
EXCLUSIVO: Vídeo mostra como foi criado o Stop Motion da animação ‘Ilha dos Cachorros’
KP: Como foi trabalhar com um diretor com uma visão tão peculiar como o Wes Anderson?
ML: Ele é super peculiar. Muito detalhista, extremamente detalhista, muito visual. Mas por outro lado, ele abre muito o diálogo para discutir o objetivo da cena, como chegar naquele ponto. Ele é extremamente detalhista, eu também sou, então, entendo ele.
KP: Então funcionou muito bem?
ML: Funcionou. Mas às vezes, foi difícil, mas funcionou sim. É difícil para quem trabalha na equipe de um diretor muito detalhista, porque você tem que lidar com isso. Então, não é uma coisa fácil. Mas é algo que te empurra pros seus limites e faz você buscar outras maneiras, e encontra-las também. E acho isso bom. Quando é muito fácil, você não evolui muito. Quando a coisa é difícil e tem barreiras, você é forçado a evoluir. Isso foi bom!
KP: Qual é o maior desafio de produzir uma animação em stop motion?
ML: O maior desafio, talvez, seja a resistência. É muito tempo, antes de mais nada, um longa dura, pelo menos, um ano e meio de montagem. Você precisa ter essa resistência para poder chegar no seu ápice de animação. Todo dia, todo tempo, o tempo inteiro. Então, tem cena que dura um dia e outras que duram três semanas, às vezes, a cena é relativamente curta, mas é muito complexa, com muitos personagens e movimento de câmera. Chega em um grau de complexidade que você tem que manter a sua performance durante a cena toda, durante o filme todo para não decair.
As Melhores Animações em Stop-Motion – Incluindo ‘Ilha dos Cachorros’
KP: Teve alguma cena, em particular, em que você se sentiu mais desafiado na hora de realiza-la?
ML: As cenas que tem atuação, para mim, são as mais desafiadoras e também as minhas preferidas ao mesmo tempo. Eu gosto de cenas onde a atuação é forte, é onde eu me sinto como um ator, que é o que a gente é, uma mistura de ator com coreógrafo com técnico, uma mistura dessas três coisas. A cena dos cachorros no campo de golfe foi uma das mais desafiadoras.
KP: Ilha dos Cachorros já está gerando um murmurinho sobre uma possível indicação ao Oscar. O que você pensa sobre isso?
ML: Provavelmente vai ser indicado ao Oscar. Um dos filmes mais proeminentes em animação atualmente. Se vai ganhar ou não, eu não sei.
KP: O que você diria para quem ainda não foi conferir Ilha dos Cachorros?
ML: Vai assistir (risos). Porque é lindo e uma história muito única. É um dos filmes em que trabalhei que eu mais gosto, como obra cinematográfica.
Ilha dos Cachorros já se encontra em cartaz nos cinemas brasileiros. Já pode correr para assistir!