Mais recente animação do Homem de Aço teve como base uma de suas melhores histórias em tempos recentes
Até pouco tempo o braço de animações da DC Comics mantinha seu universo compartilhado de longas animados abastecido com novos lançamentos periodicamente. Apelidada de DC Animated Universe essa iniciativa começou com Liga da Justiça: Ponto de Ignição (adaptação do clássico moderno do Flash no qual ao voltar no tempo para evitar o assassinato da própria mãe ele modificou a realidade) e durou aproximadamente dezesseis filmes.
O último da empreitada foi Liga da Justiça Sombria: A Guerra de Apokolips, o explosivo confronto final entre o grupo e o vilão Darkseid. Ao final da película, a animação dá margem para um reinício das obras animadas da editora; encerrando aquela cronologia de eventos específicos. Um novo universo animado então se inicia com Superman: O Homem do Amanhã.
Logo de cara a nova imersão no universo do Superman já mostra que não é uma continuação do que já fora estabelecido antes com Liga da Justiça ou A Morte do Superman, com um traço visivelmente destoando do estilo anime que dominou as produção anteriores. O elenco de voz também foi completamente repaginado, tendo nomes como Zachary Quinto (Lex Luthor) e Alexandra Daddario (Lois Lane).
O enredo, como dito anteriormente, propõe a ser uma nova abordagem sobre os primeiros dias de atividade do super-herói, ainda que evitando ser totalmente uma história de origem (elementos tradicionais como a explosão de Krypton ou a infância no Kansas ainda estão lá). Ao mesmo tempo, a introdução de personagens como Caçador de Marte já estabelece mais um membro para uma futura nova adaptação da Liga da Justiça bem a como a participação do caçador de recompensas, Lobo, introduz um vilão bastante carismático dos quadrinhos.
A base do enredo de O Homem do Amanhã, porém, não é completamente original mas sim inspirada naquela que é a melhor história do personagem na última década: Superman – Alien Americano. A minissérie de sete edições escrita por Max Landis não foi bolada para ser um novo clássico do herói; lançada em 2016, ela veio alguns anos após a publicação de Grandes Astros: Superman (essa história integrou o selo All Star que na época tinha a ambição de pôr os maiores nomes da indústria para criarem novos clássicos).
O épico escrito por Grant Morrison narrou a história sob a perspectiva de um Clark Kent que sabia que lhe restava pouco tempo de vida e, correndo contra o relógio, precisava terminar alguns assuntos inacabados como revelar sua identidade para Lois Lane, arriscar uma última tentativa para salvar a alma de Lex Luthor e deixar um legado para gerações futuras. Para muitos a razão da história ter alcançado tal status em tão pouco tempo repousa na forma respeitosa com que ela aborda a ligação entre o kryptoniano e os humanos, jamais impondo a ele uma posição de divindade indiferente (como o Dr. Manhattan de Watchmen).
Indo na direção oposta, Alien Americano se propõe a dividir, entre suas edições, diferentes momentos da juventude de Clark até culminar em sua consolidação como Superman. Uma ideia que já havia sido posta em prática por Jeph Loeb na também minissérie Quatro Estações. O diferencial em questão é como Landis, tendo uma disponibilidade maior de duração, a usa para trabalhar a jornada do último filho de Krypton em parar de se ver como um alienígena refugiado e sim como um morador da Terra.
Cada história, portanto, passa a ser sobre um tema em específico e as consequentes respostas emocionais de Clark a esses episódios. Por exemplo a primeira edição mostra como ele, ainda criança, descobriu que podia voar, reagindo com total pavor por não saber o que está acontecendo e ao mesmo tempo por comprovar que ele não é humano. Porém, ao final dela ele vence esse medo e se vê empolgado com as descobertas.
Já na segunda edição, o protagonista, na adolescência, tem seu primeiro contato com a violência desmedida que o ser humano é capaz de produzir; quebrando assim a ideia da inocência da pureza humana que ele até então tinha com base no que via dos pais e dos moradores da pequena Smallville.
O ano em que a minissérie saiu também foi bastante propício. Em 2016 o personagem estava em evidência com os filmes do Homem de Aço e Batman Vs Superman: A Origem da Justiça, mesmo que pela ótica da contradição sobre os rumos tomados pela versão dos cinemas.
Ao chegar no intenso final, Alien Americano se revela com um merecido clássico moderno do personagem e um tributo a tudo que ele representa. Entender que Clark Kent vai muito além das habilidades sobre-humanas sempre foi um indicador para avaliar as histórias do personagem e nesse quesito, Max Landis passou com louvor.