sábado , 21 dezembro , 2024

‘Napoleão’ de Stanley Kubrick | O Maior Filme Jamais Feito

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Uma das produções mais lendárias de Hollywood que jamais viu a luz do dia

Recentemente foi anunciado que o atual detentor do Oscar de melhor ator, Joaquin Phoenix, se unirá ao elenco de Kitbag; vindouro drama de época dirigido por Ridley Scott sobre o histórico monarca francês Napoleão Bonaparte. O roteiro, assinado por David Scarpa, promete ser um verdadeiro épico sobre a ascensão de Napoleão; partindo de um início discreto até o ápice de seu poder ao se auto coroar regente. Outro fator importante para o filme promete ser a personagem de sua esposa, Josefina de Beauharnais, e como seu relacionamento volátil moldou o protagonista.



No entanto, a tentativa de Scott em retratar Napoleão nos cinemas não é a primeira; houveram duas outras. Ou quase isso. A primeira foi em 1927 quando o cineasta francês, Abel Gance, lançou a primeira parte do que seria uma hexalogia sobre o imperador. O objetivo era mostrar a jornada de toda a sua vida, começando com o primeiro filme focando em sua fase como estudante, seu papel como Capitão de artilharia no cerco à Toulon em 1793 e na campanha na Itália durante a Guerra da Primeira Coligação; isso é visível no apuro estético do filme e do uso de técnicas inéditas de filmagem, como câmera de mão e closes demorados.

Infelizmente o sonho de Gance jamais se realizou. A produção do primeiro filme assumiu um custo inevitavelmente alto demais para a época, além de ter pego o início da febre dos filmes falados. Isso foi especialmente difícil pois a obra foi originalmente lançada como um filme mudo e a rápida aceitação do público à nova tecnologia empurrou mais e mais Napoleão para a obscuridade. Mesmo com o diretor lançado novas versões diferentes do longa no decorrer de anos seguintes, isso não foi o suficiente para dar novo fôlego à saga.

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Adversidades econômicas e técnicas impediram Gance de continuar sua visão sobre Napoleão

A segunda tentativa foi em 1969, ou assim teria sido. O diretor Stanley Kubrick estava no topo da indústria durante esse período; com sucessos históricos e amplamente aceitos por público e crítica como 2001- Uma Odisseia no Espaço, Dr. Fantástico, Spartacus e Lolita ele havia conquistado um posto bem específico em Hollywood onde qualquer projeto vindo dele seria aceito por qualquer estúdio ou, no mínimo, avaliado com bastante atenção.

Vindo da sua bem sucedida empreitada no campo da ficção científica, Kubrick começou a elaborar um novo projeto com foco no antigo comandante e imperador francês. Sua justificativa sobre o seu próximo protagonista, conforme escrito por Nicholas Barber no artigo Was Napoleon the greatest film never made?, foi “um desses homens raros que movem a história e moldam o destino de seu tempo e das gerações futuras”.

Logo no princípio do trabalho criativo, quando a equipe precisou reunir dados históricos para compor o roteiro, Kubrick enviou seu produtor executivo de longa data, Jon Harlan, para Zurique a fim de coletar dados sobre a trajetória de Napoleão. No artigo mencionado anteriormente, Nicholas Barber transcreve algumas declarações de Harlan sobre a famosa atenção minuciosa do diretor aos pequenos detalhes que também se fez presente nessa busca inicial.

Ao final dos anos 60, Kubrick já tinha uma reputação invejável

 “Eu estava em Zurique entre 1968 e 1969 (disse Harlan, agora com 82 anos) procurando por material relevante, livros e desenhos, simplesmente tudo que eu pudesse encontrar do período da Revolução Francesa até o Congresso de Viena em 1815… Nenhum detalhe era tão pequeno para fascinar Kubrick. Fosse a cor do solo de um campo de batalha ou o prego de uma ferradura de cavalo.”

O projeto prometia ser um épico histórico, com um roteiro inicial que ultrapassava as 140 páginas e priorizava as diferentes batalhas na vida de seu protagonista (algo que o diretor faria com Barry Lyndon alguns anos mais tarde) e, acima de tudo, adaptando o quão intenso foi o relacionamento entre Napoleão e a esposa Josefina. A atriz Audrey Hepburn, inclusive, era a favorita do diretor para o papel. 

Durante uma entrevista concedida a Joseph Gelmis em 1969, Kubrick foi questionado sobre o motivo de ter escolhido este para ser seu próximo filme. “ …Para começar, ele me fascina. Sua vida tem sido descrita como um épico poema de ação… em um senso muito concreto, nosso próprio mundo é resultado de Napoleão, assim como o mapa da Europa no pós-guerra é resultado da Segunda Guerra Mundial. E, obviamente, nunca houve um filme fidedigno a ele. Também, acho que todas as questões que lhe preocupam são estranhamente contemporâneas: as responsabilidades, o abuso de poder… guerra, militarismo, etc”.

O relacionamento entre Napoleão e Josefina teria papel central no roteiro de Kubrick

Kubrick ainda detalha certos aspectos que ele planejava conceder à produção que poderiam ser considerados nada mais que opulentos. Para simular os exércitos das famosas campanhas militares de Napoleão ele planejava contar com no máximo 40.000 de infantaria e 1.000 da cavalaria emprestados pelo exército romeno. O diretor defendia que o projeto era viável economicamente, visto que o uniforme da figuração utilizaria materiais de baixo custo e não haveria construção de locações, apenas a utilização dos locais reais.

Porém, nem mesmo o nome que o cineasta havia construído até então foi o suficiente para cooptar o apoio do estúdio MGM. Com a outrora parceria de sucesso deixada para trás (depois do sucesso com 2001) ele tentou vender o projeto para a United Artists. Acontece que por volta de 1970, o diretor Sergei Bondarchuk lançou Waterloo, seu próprio épico sobre a batalha de Waterloo comandada por Napoleão.

O filme foi considerado um desastre financeiro, lucrando pouco mais de US$ 152 milhões (numa conversão para valores atuais) e amedrontando qualquer produtor que ouvisse a proposta relacionada a qualquer filme sobre a figura francesa. Comumente a visão de Stanley Kubrick é intitulada como o maior filme jamais feito e muitos dos que estavam envolvidos na pré-produção concordam que o diretor pôs uma atenção diferenciada nesse projeto.

O roteiro pode ser lido na internet e é possível que a visão de Ridley Scott tenha similaridades e até se inspire; servindo como um gosto do que poderia ter sido o épico jamais nascido de Stanley Kubrick.

 

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No entanto, a tentativa de Scott em retratar Napoleão nos cinemas não é a primeira; houveram duas outras. Ou quase isso. A primeira foi em 1927 quando o cineasta francês, Abel Gance, lançou a primeira parte do que seria uma hexalogia sobre o imperador. O objetivo era mostrar a jornada de toda a sua vida, começando com o primeiro filme focando em sua fase como estudante, seu papel como Capitão de artilharia no cerco à Toulon em 1793 e na campanha na Itália durante a Guerra da Primeira Coligação; isso é visível no apuro estético do filme e do uso de técnicas inéditas de filmagem, como câmera de mão e closes demorados.

Infelizmente o sonho de Gance jamais se realizou. A produção do primeiro filme assumiu um custo inevitavelmente alto demais para a época, além de ter pego o início da febre dos filmes falados. Isso foi especialmente difícil pois a obra foi originalmente lançada como um filme mudo e a rápida aceitação do público à nova tecnologia empurrou mais e mais Napoleão para a obscuridade. Mesmo com o diretor lançado novas versões diferentes do longa no decorrer de anos seguintes, isso não foi o suficiente para dar novo fôlego à saga.

Adversidades econômicas e técnicas impediram Gance de continuar sua visão sobre Napoleão

A segunda tentativa foi em 1969, ou assim teria sido. O diretor Stanley Kubrick estava no topo da indústria durante esse período; com sucessos históricos e amplamente aceitos por público e crítica como 2001- Uma Odisseia no Espaço, Dr. Fantástico, Spartacus e Lolita ele havia conquistado um posto bem específico em Hollywood onde qualquer projeto vindo dele seria aceito por qualquer estúdio ou, no mínimo, avaliado com bastante atenção.

Vindo da sua bem sucedida empreitada no campo da ficção científica, Kubrick começou a elaborar um novo projeto com foco no antigo comandante e imperador francês. Sua justificativa sobre o seu próximo protagonista, conforme escrito por Nicholas Barber no artigo Was Napoleon the greatest film never made?, foi “um desses homens raros que movem a história e moldam o destino de seu tempo e das gerações futuras”.

Logo no princípio do trabalho criativo, quando a equipe precisou reunir dados históricos para compor o roteiro, Kubrick enviou seu produtor executivo de longa data, Jon Harlan, para Zurique a fim de coletar dados sobre a trajetória de Napoleão. No artigo mencionado anteriormente, Nicholas Barber transcreve algumas declarações de Harlan sobre a famosa atenção minuciosa do diretor aos pequenos detalhes que também se fez presente nessa busca inicial.

Ao final dos anos 60, Kubrick já tinha uma reputação invejável

 “Eu estava em Zurique entre 1968 e 1969 (disse Harlan, agora com 82 anos) procurando por material relevante, livros e desenhos, simplesmente tudo que eu pudesse encontrar do período da Revolução Francesa até o Congresso de Viena em 1815… Nenhum detalhe era tão pequeno para fascinar Kubrick. Fosse a cor do solo de um campo de batalha ou o prego de uma ferradura de cavalo.”

O projeto prometia ser um épico histórico, com um roteiro inicial que ultrapassava as 140 páginas e priorizava as diferentes batalhas na vida de seu protagonista (algo que o diretor faria com Barry Lyndon alguns anos mais tarde) e, acima de tudo, adaptando o quão intenso foi o relacionamento entre Napoleão e a esposa Josefina. A atriz Audrey Hepburn, inclusive, era a favorita do diretor para o papel. 

Durante uma entrevista concedida a Joseph Gelmis em 1969, Kubrick foi questionado sobre o motivo de ter escolhido este para ser seu próximo filme. “ …Para começar, ele me fascina. Sua vida tem sido descrita como um épico poema de ação… em um senso muito concreto, nosso próprio mundo é resultado de Napoleão, assim como o mapa da Europa no pós-guerra é resultado da Segunda Guerra Mundial. E, obviamente, nunca houve um filme fidedigno a ele. Também, acho que todas as questões que lhe preocupam são estranhamente contemporâneas: as responsabilidades, o abuso de poder… guerra, militarismo, etc”.

O relacionamento entre Napoleão e Josefina teria papel central no roteiro de Kubrick

Kubrick ainda detalha certos aspectos que ele planejava conceder à produção que poderiam ser considerados nada mais que opulentos. Para simular os exércitos das famosas campanhas militares de Napoleão ele planejava contar com no máximo 40.000 de infantaria e 1.000 da cavalaria emprestados pelo exército romeno. O diretor defendia que o projeto era viável economicamente, visto que o uniforme da figuração utilizaria materiais de baixo custo e não haveria construção de locações, apenas a utilização dos locais reais.

Porém, nem mesmo o nome que o cineasta havia construído até então foi o suficiente para cooptar o apoio do estúdio MGM. Com a outrora parceria de sucesso deixada para trás (depois do sucesso com 2001) ele tentou vender o projeto para a United Artists. Acontece que por volta de 1970, o diretor Sergei Bondarchuk lançou Waterloo, seu próprio épico sobre a batalha de Waterloo comandada por Napoleão.

O filme foi considerado um desastre financeiro, lucrando pouco mais de US$ 152 milhões (numa conversão para valores atuais) e amedrontando qualquer produtor que ouvisse a proposta relacionada a qualquer filme sobre a figura francesa. Comumente a visão de Stanley Kubrick é intitulada como o maior filme jamais feito e muitos dos que estavam envolvidos na pré-produção concordam que o diretor pôs uma atenção diferenciada nesse projeto.

O roteiro pode ser lido na internet e é possível que a visão de Ridley Scott tenha similaridades e até se inspire; servindo como um gosto do que poderia ter sido o épico jamais nascido de Stanley Kubrick.

 

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