quinta-feira, março 28, 2024

Naya Rivera, Santana Lopez e uma herança de amor e coragem

Quando o trio que ficaria conhecido como Unholy Trinity tomou o Glee Club de assalto com uma performance hipnótica de ‘Say A Little Prayer’, ninguém sabia que os trejeitos obstinados e impenitentes de Santana Lopez significariam tanto. 

Mais de uma década depois, 2009 (o ano de lançamento de ‘Glee’) parece uma realidade distante demais, diferente demais — e, de fato, é. Ver um casal LGBT em uma série adolescente, hoje, não é tão difícil se você abrir a aba de séries teen da Netflix, mas volte um pouco no tempo e a comédia musical de Ryan Murphy era o máximo que conseguíamos ter. E no meio de tantos relacionamentos e tramas que eram descartados como piadas rasas e que não precisavam de continuidade, um certo casal persistiu sem jamais pedir desculpas, jamais pedir licença para ocupar o lugar que era seu.

Foi dessa forma — sem pedir licença ou desculpas — que Santana Lopez disputou os holofotes e se viu em um posto que, à época, muitos não foram capazes de enxergar o tamanho ou a importância. De uma certa forma, talvez nós mesmos não tenhamos entendido muito bem o quanto ela era gigante, embora hoje seja mais fácil olhar em perspectiva e atribuir a ela o que sempre foi seu de direito. Uma mulher latina, líder de torcida, entre as mais populares do colégio, lésbica, incapaz de engolir um desaforo ou uma injustiça, apaixonada, assumida. Santana Lopez representou o que tantas queríamos ser, mas não sabíamos como, nem por quê. Naya Rivera fez questão de se certificar que a mensagem fosse recebido, em alto e bom tom. 

E é por isso que, ainda hoje, não conseguimos parar de falar em ‘Glee’, ano após ano, um baque após o outro. A tragédia que é o falecimento de Rivera desperta em um coletivo o instinto de sair em busca de explicações, de atribuir uma razão perfeitamente lógica a um acontecimento que, até onde a compreensão humana alcança, não tem um motivo. E é isso que devemos lembrar. Ninguém está sendo punido por uma maldição. Esta não é a herança de ‘Glee’.

Ao longo dos anos, a televisão proporcionou muitos momentos catárticos. Santana assumindo sua sexualidade para a avó no episódio 7 da 3ª temporada, sentada à mesa da cozinha e dizendo que ama garotas do jeito que deveria amar garotos, é um deles, e um muito grande. Talvez você só vá entender o quanto isso te impactou anos depois, quando perceber que, de tantas coisas que te irritaram em ‘Glee’, essa é uma das cenas que você lembra em cada perfeito detalhe. 

(E é por isso que, ainda hoje, não conseguimos parar de falar em ‘Glee’.)

Não estava nos planos iniciais da série que Santana se transformasse naquela força-motriz, uma explosão de amor e raiva de alguém que sempre soube estar destinada à grandeza, de alguém que sabia ter força o suficiente para ser a estrela que mais brilha. Ela ocupou este espaço porque, quando Naya emprestou pedacinhos e detalhes de sua própria personalidade para a cheerleader, as duas compartilharam com o mundo de jovens e adolescentes que bebiam daquela fonte para seguirem em frente um amor e um acolhimento que, uma década depois, ainda são celebrados com alegria, gratidão e um coração aberto. Que este seja o legado de Naya. Que esta seja a memória de ‘Glee’.

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Laysa Zanettihttps://cinepop.com.br
Repórter, Crítica de Cinema e TV formada em Twin Peaks, Fringe, The Leftovers e The Americans. Já vi Laranja Mecânica mais vezes que você e defendo o final de Lost.

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