[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS]
Se você ainda não assistiu ao quinto episódios de O Livro de Boba Fett, evite esta matéria, pois ela contém spoilers.
Lançada no finalzinho do ano passado após uma campanha publicitária assustadoramente ruim da Disney, parecendo que a empresa estava tentando esconder seu próprio produto, a série O Livro de Boba Fett se propõe a contar a história do ex-Caçador de Recompensas mais famoso da galáxia muito, muito distante após os eventos da segunda temporada de The Mandalorian. Então, a série chegou e até aqui vem dividindo muito as opiniões do público.
Ao mesmo tempo em que se propõe a contar a história do Boba Fett (Temuera Morrison) assumindo o cartel dos Hutts do falecido Jabba, a série resolveu gastar cerca de metade de cada episódio para explorar o que aconteceu entre a suposta morte do protagonista no final de O Retorno de Jedi (1983) e seu retorno canônico a esse universo na segunda temporada de The Mandalorian (2020). E convenhamos, não seria má ideia se fosse bem executada. Afinal, nos cinemas mesmo, o Boba Fett fez pouquíssimas coisas e se destacou muito mais por sua armadura badass do que por suas efetivas ações mostradas nos filmes. No entanto, quem leu as diversas HQs e livros do Universo Expandido, que posteriormente foi “descanonizado” e mais recentemente algumas histórias voltaram a ser consideradas canônicas pela Disney, sabe que ele era bem mais do que foi visto nos cinemas.
Infelizmente, a execução da série foi por uma caminho mais genérico que não valorizou tanto das habilidades de seu protagonista. Ao escolher trabalhar um lado mais diplomático do Boba Fett, a produção se prendeu em uma trama contada por meio de flashbacks quase insuportável, mostrando Fett com os Tuskens, o Povo da Areia, enquanto ele busca aprender seus costumes e se tornar um deles para conseguir ajudá-los, mais ou menos como em Pocahontas e Avatar.
Então, enquanto o anti-herói tenta brincar de indígena do deserto, sua trama principal de assumir o cartel dos Hutt acaba ficando em segundo plano. E até nisso sua diplomacia atrapalha, já que impede cenas de ação, fazendo de alguns episódios o auge da monotonia. E os fãs esperaram por vê-lo em ação no live action por anos e anos. Tanto que suas participações em The Mandalorian renderam milhões de comentários nas redes sociais, que inclusive deram força para a realização desta série.
Com esse desenvolvimento fragmentado e mais lento, fica a sensação de que a série não vai para lugar nenhum com seu protagonista que não se desgruda do passado e atrapalha seu futuro. Até que chega ao quarto episódio e a trilha sonora no final indica a participação de Djinn Djarin (Pedro Pascal), o Mandaloriano que estreou há pouquíssimo tempo no universo Star Wars, mas que já ocupa um lugar enorme no coração dos fãs. Foi um dos raros momentos em que a série emplacou alguma repercussão nas redes sociais, falando justamente da possível participação de Djinn no próximo capítulo.
Pois bem, o quinto episódio chegou e ele é todo focado no Mandaloriano. Chega a ser preocupante que justamente o melhor episódio da série do Boba Fett seja logo aquele no qual o personagem título sequer aparece. Com apenas cinco minutos de tela, Djinn aparece, utiliza seu Sabre Negro e rouba a cena completamente. Em pouquíssimo tempo, o personagem traz tudo o que o teaser do Boba Fett sentando no trono de Jabba prometia.
Assim, sem precisar de flashback algum, nosso amado Mandaloriano chega, faz uma chacina num açougue espacial e dá uma de Robin Hood para os funcionários explorados. Tudo isso apenas na cena de abertura, portando a arma mais letal e badass da galáxia.
Depois de concluir sua missão, ele retorna para o esconderijo de seu povo, onde consegue auxílio, desenvolve mais da mitologia do Sabre Negro, luta utilizando ele e dá fim à Lança de Beskar, que foi transformada em uma peça para o pequeno Grogu, o idolatrado Bebê Yoda, que mesmo não aparecendo, é citado diversas vezes e segue como uma das motivações de Djinn para seguir nos negócios.
Ainda nesse conflito com seu povo, ele revela ter removido seu capacete, o que contraria o credo dos Mandalorianos. E como a única forma de conseguir perdão foi destruída com seu planeta natal – será que foi mesmo? – ele passa a ser figura non-grata para seus antigos aliados e amigos. Isso deve ser explorado posteriormente na terceira temporada de sua própria série, assim como sua nova nave, um Caça Estelar N-1 modificado, que permitirá que ele viaje por aí sem ser detectado por radares e alcançando velocidades altíssimas.
Tudo isso para ser interceptado ao final do episódio, onde ele firma o compromisso de ajudar Boba Fett a enfrentar os milicianos de Tatooine para ver se o autoproclamado Daimiô vai realmente fazer alguma coisa em sua própria série ou se vai passar mais um episódio conversando e distribuindo empregos pelas ruas arenosas de Tatooine.
Essa chegada triunfal de Djinn Djarin rende indiscutivelmente o melhor episódio da série até aqui, mas também é inegável que ele sirva como uma muleta para mostrar que ainda há esperança de ação e aventura realmente interessantes nesse núcleo. Ao mesmo tempo, o Mandaloriano traz uma péssima notícia ao seu amigo Boba Fett: ele não é interessante o suficiente para carregar uma série solo nas costas.
Por mais que o visual seja clássico e o personagem seja muito querido pelo que foi visto fora das telas, na série não está funcionando. A abordagem escolhida até aqui é um verdadeiro desperdício de um dos visuais mais legais desse universo. E se ele não tomar cuidado, vai acabar virando um coadjuvante de seu próprio show. Isso só não aconteceu até agora porque os novos personagens também mostraram pouco serviço, mas com o Mando aparecendo para ajudar, é questão de segundos para que todos os holofotes se voltem para o personagem que nasceu predestinado ao protagonismo. Vamos aguardar os próximos episódios.
Os novos episódios de O Livro de Boba Fett estreiam toda quarta-feira no Disney+.