O mundo da música é recheado de álbuns incríveis e que caem tanto no gosto popular quanto da crítica. E, só neste século, diversos artistas fizeram sua estreia ou continuaram a encantar os ouvintes com produções memoráveis, músicas envolventes e um legado infindável.
Pensando nisso, trouxemos para vocês um compilado dos melhores álbuns dos últimos 25 anos (escalando um por ano).
Confira abaixo as nossas escolhas:
STANKONIA, OutKast (2000)
Lançado no Dia das Bruxas, ‘Stankonia’ é um dos álbuns de hip hop mais aclamados e mais impecáveis das últimas décadas. Misturando elementos do psychedelic funk e até mesmo do gospel, a produção levou para casa dois prêmios do Grammy, além de ter sido indicado a outras três categorias (incluindo Álbum do Ano). A obra também vendeu mais de 4 milhões de cópias ao redor do mundo.
VESPERTINE, Björk (2001)
Björk é uma das artistas mais interessantes da história da música e sempre construiu narrativas únicas e originais que a afastavam do mainstream e criavam tendência no escopo experimental. Depois de ‘Homogenic’, a cantora e compositora islandesa entregou mais uma obra espetacular com ‘Vespertine’, considerado um dos melhores de sua carreira. Além da música eletrônica, o compilado nos chama a atenção pelo uso inesperado do art pop e do glitch pop.
LET GO, Avril Lavigne (2002)
Em 2002, Avril Lavigne fazia sua estreia oficial na indústria fonográfica com o lançamento de ‘Let Go’, um dos álbuns mais conhecidos e celebrados da história da música. Seu début veio acompanhado de uma reformulação do cenário mainstream com a popularização do pop-punk feminino, através de singles que marcaram época e que são relembrados até os dias de hoje, como “Complicated”, “Sk8er Boi” e “I’m With You”, colocando a cantora e compositora no centro dos holofotes e iniciando uma carreira marcada por sucessos que se estende até os dias de hoje.
FEVER TO TELL, Yeah Yeah Yeahs (2003)
A banda de indie rock Yeah Yeah Yeahs fez um grande comeback em 2022 com o aclamado ‘Cool It Down’ – e, mais de vinte anos atrás, faziam sua estreia oficial no cenário fonográfico com ‘Fever to Tell’. Considerado uma das principais produções do gênero e contando com a produção de David Andrew Sitek (que trabalhou com Nine Inch Nails e Weezer), o compilado misturou garage rock revival, art punk e dance-punk, conquistando a crítica especializada e o público – além de vender mais de um milhão de cópias.
FUNERAL, Arcade Fire (2004)
A épica estreia de Arcade Fire, ‘Funeral’, é inquestionavelmente um dos highlights do século, tendo sido revisitada por diversos artistas contemporâneos. A amálgama simples e epopeica entre art rock e chamber rock viria a influenciar grande parte dos grupos que o seguiriam. Indicado ao Grammy de Melhor Álbum Alternativo, a produção apareceu em diversas listas de fim de ano e entrou para o ranking dos melhores CDs da revista Rolling Stone.
CONFESSIONS ON A DANCE FLOOR, Madonna (2005)
Em 2005, Madonna fez o que ninguém esperava: retornou à forma. Com diversos veículos falando sobre o fim da veia artística da popstar, o público começava a duvidar de que a performer conseguiria resgatar as raízes que a colocaram no topo do mundo – mas foi exatamente o que ela fez. Há vinte anos, a cantora e compositora mergulhou de cabeça na nostalgia oitentista de seus primeiros anos com ‘Confessions on a Dance Floor’, seu CD mais bem produzido depois de ‘Ray of Light’. Aliando-se a Stuart Price e chamando novamente as ousadas mãos de Mirwais Ahmadzaï, as doze longas faixas se comprimem em um set dançante, vibrante, colorido e incansável que reitera o status imbatível de uma das mulheres mais poderosas de todos os tempos.
BACK TO BLACK, Amy Winehouse (2006)
Amy Winehouse nos deixou muito cedo, mas causou um impacto gigantesco na indústria da música com seus únicos dois álbuns. ‘Back to Black’, sua última produção antes da trágica morte, resgatou a elegância do neo-soul, do jazz e do blues através de músicas como “Rehab” e “You Know I’m No Good”, além de ter influenciado artistas como Adele e Duffy. Winehouse levou inúmeros prêmios por seu CD, incluindo cinco estatuetas do Grammy Awards.
RIOT!, Paramore (2007)
A banda de rock estadunidense Paramore acompanhou a adolescência da última fase da geração millenial com força incontestável – e uma de suas marcas registradas é o álbum ‘Riot!’. Lançado dois anos após o début ‘All We Know Is Falling’, os membros do grupo se reuniram com o produtor David Bendeth para um disco que iria exaltar o pop punk e o pop-rock de maneira explosiva, garantindo aplausos e imortalizando canções como “Misery Business” e “That’s What You Get”.
VAMPIRE WEEKEND, Vampire Weekend (2008)
O álbum de estreia homônimo da banda Vampire Weekend causou grande comoção quando lançado e é relembrado como um dos melhores do século pelos fãs. Com produção de Rostam Batmanglij, a produção amalgama indie pop, música de câmara e Afropop e foi elogiado à época de seu lançamento – além de trazer singles como “Mansard Roof”, “A-Punk”, “Oxford Comma” e vários outros.
THE FAME MONSTER, Lady Gaga (2009)
Ninguém acreditava que a performer repetiria o sucesso de ‘The Fame’, mas ‘The Fame Monster’ conseguiu superar as expectativas de todo mundo. Aclamado pela crítica especializada, o EP de apenas oito faixas trouxe as melhores produções de Gaga, incluindo “Bad Romance”, “Telephone”, “Alejandro” e “Dance in the Dark”, além de levar para casa três gramofones dourados. O álbum, inclusive, carrega consigo um legado extenso e que até hoje é revisitado por vários artistas.
MY BEAUTIFUL DARK TWISTED FANTASY, Ye (2010)
‘My Beautiful Dark Twisted Fantasy’ é um consenso no mundo da música como o melhor álbum de Kanye West (ou, atualmente, Ye) e um dos mais ovacionados e importantes do século XXI. Alcançado aclame generalizando por parte da crítica e estreando em primeiro lugar nas paradas mundiais, o quarto álbum de estúdio do conhecido e controverso rapper ganhou um prêmio do Grammy, mas foi esnobado na principal categoria – a de Álbum do Ano.
BORN THIS WAY, Lady Gaga (2011)
Considerado por muitos especialistas, estudiosos e ouvintes como “a bíblia do pop”, ‘Born This Way’ não poderia ficar em outro lugar no ranking. Se há alguém que sabe o significado do verbo arriscar, essa pessoa é Lady Gaga. Dois anos depois de ‘The Fame Monster’, a cantora estreou em primeiro lugar na Billboard com hinos musicais em prol da comunidade LGBTQ+ que quebravam tabus religiosos e que cutucavam os membros conservadores e reacionários da sociedade – não é surpresa que as vendas do CD tenham caído exponencialmente na segunda semana, reafirmando sua importância política e ativista.
GOOD KID, M.A.A.D. CITY, Kendrick Lamar (2012)
‘Good Kid, M.A.A.D City’ é o segundo álbum de estúdio do rapper Kendrick Lamar – e, pouco depois de seu lançamento, consagrou-se como um clássico instantâneo. A produção, que se estende por 12 faixas na versão padrão, trouxe aparições de musicistas como Drake e Jay-Z. Ovacionado pelos especialistas, Lamar conquistou nada menos que quatro indicações ao Grammy Awards, incluindo Álbum do Ano.
BEYONCÉ, Beyoncé (2013)
Se os álbuns iniciais de Beyoncé tinham um elo mais forte com as tendências do escopo mainstream – fossem infundidos com R&B, pop ou rap -, esta obra-prima musical homônima se afasta dos convencionalismos em prol de uma abordagem mais conceitual e que reiterasse, novamente, uma habilidade incrível de reinvenção e repaginação. Mesmo que estejamos analisando a versão padrão do álbum, a sólida jornada sinestésica e multimidiática promovida pela cantora é de tirar o fôlego e é redescoberta em camadas e mais camadas de profundidade toda vez que a ouvimos e canalizamos nossa atenção para um aspecto em particular. Entretanto, o que se exalta em foco principal é a explosão de incursões inesperadas que regem cada canção, movendo-se graciosamente por instrumentos contrastantes e um time de produção que demonstra estar sempre atento aos mínimos detalhes.
1989, Taylor Swift (2014)
‘1989’ parece ter ciência de sua estrutura e, mesmo começando de forma morna, cresce ao longo de suas cinco primeiras faixas. Desde o dançante e minimalista “Blank Space”, que explode em um épico refrão recheado de fusões do electro e do dance-pop, até “All You Had To Do Was Stay”, uma irreverente iteração que permite a insurgência de um convidativo cosmos, Swift explora a si mesma ao máximo e não se cansa, nem nos cansa.
TO PIMP A BUTTERFLY, Kendrick Lamar (2015)
Nenhum outro álbum poderia ocupar o topo da nossa lista além de ‘To Pimp a Butterfly’. O terceiro álbum de Kendrick Lamar é considerado um dos melhores da história por se configurar como um arauto do empoderamento racial, movido por versos que falam sobre a discriminação sofrida pela população negra e pela importância da cultura como arma de luta contra a opressão. Aqui, Lamar mergulha no experimentalismo do hip hop e no jazz rap, arquitetando uma magnum opus que viria a influenciar gerações de artistas e que reafirmaria sua importância no cenário fonográfico.
LEMONADE, Beyoncé (2016)
Considerado um dos maiores álbuns não apenas dos anos 2010, mas de todos os tempos, ‘Lemonade’ se tornou um sucesso crítico e comercial, estreando em primeiro lugar na Billboard 200 e dando origem a canções como “Formation” e “Hold Up”. Dentre os inúmeros prêmios, o discou garantiu à Beyoncé mais duas estatuetas do Grammy – e uma das esnobações mais criminosas da história da premiação, quando perdeu o cobiçado gramofone dourado de Álbum do Ano. E tudo isso sem mencionar o profundo impacto cultural que a obra causou e continua a causar.
MELODRAMA, Lorde (2017)
Considerado um dos melhores e mais aclamados álbuns de todos os tempos, ‘Melodrama’ mostrou que a cantora e compositora neozelandesa Lorde ainda tinha muito a contar para seus fãs. Ovacionado pela crítica especializada pelo afastamento da obra anterior e pelas breves incursões ao conceitualismo musical, a produção foi indicada Álbum do Ano no Grammy e apareceu em diversas listas de fim de ano e de década.
OIL OF EVERY PEARL’S UN-INSIDES, SOPHIE (2018)
Colocar tanto SOPHIE quanto sua magnum opus, ‘Oil of Every Pearl’s Un-Insides’ em um gênero é querer limitá-la a rótulos, algo que definitivamente não pode existir quando analisamos sua discografia: as dissonâncias cosmológicas dos sintetizadores e do industrial pop servem de base para declamações intimistas, enquanto a impactante des-organização proposital rende-se ao glitch e à maximização eletrônica conhecida como hyperpop; tudo é diferente daquilo a que estamos acostumados, talvez tentando explicar o que significa estar apaixonado por alguém ou alguma coisa, talvez mostrando que tais explanações não são necessárias.
NORMAN FUCKING ROCKWELL!, Lana Del Rey (2019)
“Apesar de sua costumeira doce sonoridade, Lana Del Rey vive dentro de belíssimas e sofridas contradições que, diferente do que poderíamos pensar, é o principal aspecto que sempre nos rouba a atenção quando anuncia uma peça musical nova ou um álbum em potencial. E é claro que, dois anos depois do lançamento de ‘Lust for Life’, ela retornaria com mais uma obra conceitual e nostálgica, sem perder sua originalidade e sua incrível habilidade como compositora. Nesse escopo, a parceria entre Del Rey e Jack Antonoff intitulada ‘Norman Fucking Rockwell!’ acerta em praticamente tudo a que se propõe a fazer – incluindo desenhar uma triste jornada amorosa que se desenvolve em mais de uma hora de duração.
FETCH THE BOLT CUTTERS, Fiona Apple (2020)
A verdade é que ‘Fetch The Bolt Cutters’ vai muito além de uma simples resenha ou de algo que ouvimos apenas para passar o tempo: o mais recente álbum de Fiona Apple atravessa quaisquer preceitos engessados que já carregávamos da indústria musical, destroçando-os em mil pedacinhos e reorganizando-os em um romance, um thriller, um drama, cujas páginas são pequenas e suntuosas caixinhas de surpresas. Mais do que isso, este é um dos poucos casos que entrega muito mais do que promete: iniciando com um irreverente estrondo e terminando com um estrondo ainda mais espetacular.
DADDY’S HOME, St. Vincent (2021)
St. Vincent demonstra que o passado tem lugar marcante em sua vida – sutilmente aludindo aos estilos que o próprio pai lhe apresentou quando criança, como revelou em diversas entrevistas promovendo a obra. Dentre incríveis músicas do aclamado ‘Daddy’s Home’, a artista traz canções como “Down And Out Downtown”, uma elegia de empoderamento, um hino de independência e uma viagem tétrica, em que ela “estava voando pelo Empire State, então você me beijou e eu caí de novo”; ou “Laughing Man”, em que ela mostra uma versatilidade apaixonante e aplaudível que se alastra tanto para o ritmo frasal do blues quanto para um enredo à la John Cassavetes.
RENAISSANCE, Beyoncé (2022)
A verdade é que o primeiro capítulo de ‘Renaissance’ marca mais uma transição profunda nas idiossincrasias eternizadas pela cantora e compositora, em que o art pop, o trip-hop e o R&B conceituais do disco anteriores são deixados de lado em prol de um mergulho no ponto de encontro entre o passado e o futuro. Logo, a amálgama de estilos, que já vinha sido explorada por nomes como Lady Gaga, Dua Lipa e Drake nos últimos meses e anos, ganha um escopo gigantesco e de profunda sinestesia em basicamente qualquer uma das faixas que escolhamos para ouvir.
THAT! FEELS GOOD!, Jessie Ware (2023)
É quase impossível escolher um ponto alto de ‘That! Feels Good!’, visto que ela, em sua completude, é inenarrável e indescritível. Afinal, Jessie Ware não apenas nos convida para um convite deliciosamente anacrônico, perpassando as várias fases de um estilo de música que sofre constantes revisitações e redescobertas; ela dilui as barreiras entre som e imagem, criando uma confluência de textura que nos transporta a outro mundo – um mundo sem estresses contínuos e que a única obrigação é se divertir e aproveitar o que há de ser oferecido. Não é à toa que boa parte da temática adote uma persona sensual, livre de amarras e que é movida pelo poder empoderador da música.
COWBOY CARTER, Beyoncé (2024)
Já é redundante dizer que Beyoncé faz mágica com seus álbuns – e ‘Act II: Cowboy Carter’ é uma excelente adição a uma discografia que beira a transcendentalidade. Mais uma vez, nossa Queen B reitera seu inescapável status na indústria fonográfica com um disco que celebra a cultura negra não apenas ao reavivá-la, mas ao reclamá-la e retirá-la da subjugação a uma supremacia artística branca que se esquece do que veio antes e de quem merece, de fato, ser idolatrado como precursor e pioneiro.