O Predador: A Caçada estreou no ano passado e se transformou em um sucesso. O filme conquistou 92% de aprovação dos críticos no Rotten Tomatoes e vem sendo considerado a salvação da lavoura para colocar a franquia Predador novamente nos trilhos, após o último exemplar de 2018 não ter atingido este objetivo. A Caçada marca também o primeiro lançamento de um filme da franquia diretamente para ser assistido em casa e longe das telonas de cinema – uma abordagem mais minimalista e contida para recuperar a confiança dos investidores. Deu muito certo. Agora nas mãos da Disney, através da 20th Century Studios, é certamente esperada novas visitas do alienígena caçador com cara de crustáceo em nosso planeta.
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O visual da criatura está um pouco diferente se compararmos ao original e os outros filmes da franquia. E o motivo é que A Caçada se passa há 300 anos antes do original. Assim como os humanos da época, a raça dos Predadores não possuía tecnologia e armamentos avançados como veríamos nos primeiros filmes, e até mesmo a armadura do alienígena ecoa algo mais primitivo. O Predador é definitivamente uma das criações mais originais do cinema entretenimento e seu visual está completando 35 anos em 2022. Nem sempre foi assim, no entanto. E a primeira criação para o visual do Predador seria bem diferente da que de fato ganhamos.
A primeira empresa de efeitos especiais contratada pela Fox para criar o design do Predador foi a Boss Studio. Segundo as más línguas, a manobra teve a finalidade de economizar dinheiro. Assim, o visual que a companhia confeccionou para o alienígena tinha uma aparência mais insectóide antropomórfica – como um humanoide meio homem, meio inseto. Segundo o astro do filme, Arnold Schwarzenegger, “parecia alguém numa roupa de lagarto com a cabeça de um pato”. Deu para sentir o drama. Obviamente, esse primeiro tratamento da criatura não foi considerado assustador o suficiente.
Outros relatos apontam para o modelo original da criatura composto por um pescoço alongado e uma cabeça de cachorro, com apenas um olho no meio da cabeça. Essa criação que desagradou mais do que agradou os realizadores teria como intérprete nenhum outro senão o futuro astro da ação belga Jean-Claude Van Damme, dando seus primeiros passos em Hollywood. Van Damme acreditava que o filme faria dele um grande nome na indústria, mas quando chegou ao set e percebeu que não mostraria o rosto coberto pela fantasia do monstro, e que tampouco conseguiria demonstrar suas habilidades marciais com aquele traje desconjuntado, o ator começou a desanimar do projeto, até de fato ser substituído. Ainda com Van Damme a bordo a ideia era que a criatura fosse ágil e com características de um ninja – mas realmente foi o traje que colocou tudo a perder. Van Damme também reclamava do calor que fazia dentro da roupa e que chegou a desmaiar algumas vezes. Assim, a produção havia perdido o intérprete do monstro e o design da criatura não havia impressionado, precisando voltar à estaca zero.
É seguro dizer que o visual do Predador precisava funcionar e convencer, caso contrário não se teria um filme. Afinal, tudo gira em torno dele, que inclusive é a menção do título – apesar da criatura em si só aparecer em cena no filme original por 8 minutos. Assim, coube ao astro Arnold Schwarzenegger a recomendação para uma nova equipe capaz de criar um novo visual para o monstro. Arnold havia trabalhado com o saudoso gênio Stan Winston e sua equipe no primeiro O Exterminador do Futuro (1984), o primeiro grande sucesso de sua carreira. Winston também havia criado os efeitos de Aliens – O Resgate. Mas seu preço não era barato e o artista aceitou embarcar em O Predador pela bagatela de US$1.5 milhão, o dobro da Boss Studio. Vendo o resultado, podemos dizer que o investimento valeu à pena, e que às vezes o barato sai caro.
Tendo trabalhado com James Cameron duas vezes (em O Exterminador do Futuro e em Aliens), Stan Winston era seu amigo pessoal, e é dito que foi o diretor quem bolou a ideia das mandíbulas no estilo dos crustáceos do personagem. Apesar de não ter qualquer envolvimento no filme, em um voo ao lado de Stan Winston, James Cameron teve a ideia de mandíbulas para o caçador interplanetário, dizendo para o amigo: “você sabe que eu sempre quis fazer algo com mandíbulas”. Outra inspiração para o visual extraordinário da criatura foi sua pele escamosa baseada nas carpas e também em gafanhotos. Finalizando o conceito geral, entraria em cena os cabelos rastafari do monstro. E tudo o que bastou foi Winston bater os olhos numa pintura no escritório do produtor Joel Silver (responsável por alguns dos melhores filmes de ação dos anos 80). O quadro? Uma imagem de um guerreiro rastafari. Para o toque final, a inspiração veio também de uma espécie de morcego de cara enrugada, conhecido como Centurio Senex. E pensar que inicialmente John McTiernan tinha planos de usar um macaco para representar O Predador.
Aliás o título Predador é também uma história curiosa na produção. O título original bolado pela dupla de roteiristas Jim e John Thomas seria “Hunter”, ou “Caçador” – o que para alguns fãs faria mais sentido. De fato, a maior parte do filme foi gravada com o título Hunter. Foi somente quando Stan Winston adentrou o projeto aos 45 do segundo tempo, com o propósito de criar um novo design para o vilão – que se tornaria um dos mais icônicos de sua carreira e da história do cinema de gênero – que o título acompanhou e foi modificado para Predador. Há ainda os que defendem que a mudança de título ocorreu por causa do programa Tiro Certo (Hunter no original), série de TV sobre uma dupla de policiais bem diferentes formada por um homem e uma mulher. Hoje, não conseguimos imaginar outro nome para a franquia. Inclusive o nome da criatura passou a ser Predador para a maior parte do público – já que a raça destes seres nunca ganhou uma denominação oficial, como os xenomorfos de Alien. Apesar disso, o nome Yautja foi ventilado como sendo a raça destes extraterrestres em algumas adaptações de quadrinhos deste universo expandido, e incorporada por alguns fãs mais hardcore.
Hoje, o Predador é um grande cartão de visitas para o estúdio de efeitos de Stan Winston. O curioso é que nem todos os membros de sua equipe pensaram assim na época em que foram contratados para o serviço às pressas. Winston aceitou o trabalho a pedido do colega Arnold. Acontece que na mesma época, a empresa estava trabalhando no filme Deu a Louca nos Monstros (Monster Squad, 1987) e foram responsáveis pela nova roupagem de monstros clássicos como o Drácula, o Lobisomem, o Frankenstein, a Múmia e o Monstro da Lagoa Negra. A verdade é que a maioria dos funcionários estava empolgado era com esse projeto, afinal não é todo dia que se pode criar ao mesmo tempo alguns dos maiores vilões do cinema, dando novas versões a eles. Quando Winston aceitou o trabalho em O Predador, a equipe precisou se dividir e os que foram designados para o filme com Arnold não ficaram nem um pouco satisfeitos. Segundo Howard Berger, um dos co-fundadores da empresa, os funcionários de Deu a Louca nos Monstros eram os que estavam no projeto legal, enquanto os de O Predador se sentiam na segunda divisão. O próprio ainda frisa a ironia de passados mais de 30 anos, O Predador segue como um dos filmes mais adorados dos anos 80, enquanto Monster Squad é um cult ainda obscuro para muitos.
Com mudança no design da criatura, entrava em cena também um novo intérprete. O gigante Kevin Peter Hall, de quase 2 metros de altura, ficaria eternizado no papel, repetindo a dose na sequência Predador 2 (1990). Antes disso, Hall já havia interpretado no cinema um alienígena caçador de homens no terror/ficção científica B, Sem Aviso (Without Warning, 1980); e no mesmo ano do primeiro Predador, ainda participaria de Um Hóspede do Barulho – clássico da época produzido por Steven Spielberg sobre uma família que adota um pé-grande chamado Harry. Hall vivia o pé-grande. Este filme derivou uma série de TV em 1991 que durou 3 temporadas, e contou com Kevin Peter Hall reprisando o papel de Harry. Infelizmente, o ator viria a falecer em 1991 de AIDS.